Vinicius Gastin
Duas paixões nacionais, o futebol e o samba levantaram a Avenida Alberto Braune na noite de sexta-feira, 8, durante o primeiro dia do carnaval. O Blocão do Frizão levou a mesma emoção de um jogo no Eduardo Guinle para as ruas e exaltou a viagem do Friburguense ao Japão, a primeira internacional da história do clube. O enredo “Domô Arigatô” caiu nas graças do público e foi cantado com muita animação pelos foliões. O desfile contou com as presenças do atacante japonês Toshyia e dos ex-jogadores Eduardo e Adriano, dois dos maiores ídolos da torcida tricolor.
A ideia de retratar a excursão realizada em novembro do ano passado surgiu após a tradicional pelada de domingo no Friburguense, quando os sócios se reúnem para bater papo e discutem diversos assuntos. “Sugeri, a princípio, contar a história do Eduardo, que é um ídolo e amigo nosso. Mas seria complicado pelo tempo que restava até o dia do desfile. Então, eu pensei em retratarmos a viagem do Friburguense ao Japão e a ideia foi bem aceita”, revelou Edmilson Debossan, fundador e um dos responsáveis pelo Blocão do Frizão. Depois de algumas pesquisas e uma consulta especial, ficou definido que o nome do enredo seria “Domô Arigatô”. “Perguntei ao Toshyia, atacante japonês do Friburguense, como se fala muito obrigado e ele respondeu dessa forma. É algo mais formal e combinou com a ideia que nós tivemos.”
A concentração dos foliões foi na sede social do Friburguense. Por volta das 20h, um ônibus cedido pela Faol transportou os componentes do bloco até a Avenida Alberto Braune. “O batuque começou no clube, seguiu dentro do ônibus e foi até a avenida. O motorista sempre fica à nossa disposição e faz duas, três viagens”, contou.
A bateria “Toca e sai”, expressão utilizada com frequência pelos técnicos de futebol, foi composta por 30 ritmistas e comandada pelos mestres Chicão e Giovani. O samba, puxado por Batista, foi composto pelo próprio Edmilson e por Jorge Pontes. “O Jorgito, como é conhecido, costuma usar a expressão ‘Quem bebe brinda’. A partir daí, nasceu a segunda estrofe que retrata também o saquê, bebida tradicional no Japão.”
Da “Segunda sem lei” ao Blocão do Frizão
A paixão pelo samba sempre reuniu amigos no Friburguense. Durante anos, a “Segunda sem lei”, evento realizado às segundas-feiras de carnaval, foi a principal confraternização entre eles. O encontro ocorria na churrasqueira do Friburguense logo depois do tradicional futebol das piranhas.
Aos poucos, a festa foi perdendo força e o número de participantes diminuiu. No final de 2005, Edmilson Debossan e o xará Edmilson Py desenvolveram a ideia de criar um bloco para desfilar na sexta-feira de carnaval. “Nós sempre tivemos envolvimento com a folia, comandamos o Bloco Partido Álcool, durante anos. Nossa sede era na Rua Pernambuco, em Olaria, onde nós ensaiávamos. Era um bloco só de amigos. Mas todos nós envelhecemos, passamos a ter família e outras responsabilidades”, comentou.
O destino os reuniu novamente no Friburguense. A ideia de criar o Blocão do Frizão foi prontamente aceita por Jones Canto, à época vice-presidente social na administração de Cesar Cornélio. “Com o apoio do clube, eu, Edmilson Py, Monstrinho, Marcelo Cintra, Fabricio Stutz, Carlyle, Biru, Gibi e Robson Bob nos reunimos para colocar a ideia em prática.”
Os instrumentos foram doados pelo sócio Weimar Jaccoud, que já os emprestava para os encontros da “Segunda sem lei”. Como as peças para formar a bateria eram poucas, algumas outras foram alugadas. O comando dos ritmistas ficou sob responsabilidade de Elton Valeriano e, assim, o Blocão do Frizão estava formado. O primeiro foi “O viagra do Frizão: se subir, não desce mais”, e o desfile antecedeu o Blocão do Rastafare, tradição que é mantida até hoje. “Foram três horas desfilando. Nós cruzávamos a Alberto Braune e voltávamos. Havia uma galera nos esperando em um bar na Praça Getúlio Vargas e nós nunca chegávamos”, brincou Edmilson.
O Blocão evoluiu e hoje possui instrumentos próprios, comprados com o dinheiro da venda das camisetas. O montante também é utilizado na manutenção de algumas peças e compra de adereços. “Nós não temos lucro, não é esse o objetivo. Neste ano fizemos 350 abadás, vendidos a 20 reais cada. Com o dinheiro nós pagamos a cerveja do pessoal após o desfile. O que sobrar vai ser investido no desfile do ano que vem”. A comissão de carnaval é composta por Edmilson Debossan, Edmilson Py, Marcelo Cintra e Fabrício Stutz e cada um dos integrantes fica responsável por um setor do bloco. “O Py corre atrás das questões da bateria, eu e o Cintra arrumamos patrocínio. Este ano usamos um abadá com o escudo do Friburguense e a bandeira do Japão, confeccionado em Cachoeiras de Macacu”, contou. O complemento à camiseta foi uma bandana de samurai usada por quase todos os integrantes, exceto a bateria, que vestiu um chapéu.
A cada ano novas experiências são vividas. Os enredos retratam assuntos ligados ao esporte e desde 2005, ano de sua fundação, o Bloco do Frizão só não desfilou em duas oportunidades. “O clube respira futebol. Tanto profissional quanto amador. Quase todos os dias têm jogos entre os sócios aqui no Friburguense. O bloco não é uma atividade estatutária, mas faz parte da vida social. Levamos o nome da instituição nos desfiles e representamos a entidade”, destacou Edmilson.
Brincadeiras e histórias curiosas
Se o grande objetivo do carnaval é brincar, o Blocão do Frizão consegue cumpri-lo a cada desfile. Em 2012, o bloco anunciou a presença de Ronaldinho Gaúcho, na Avenida Alberto Braune, e levou uma montagem com a foto jogador vestindo a camisa do Friburguense. A surpresa de 2013 envolveu Marlon Moraes, lutador que mora nos Estados Unidos e que durante anos foi sócio do clube. No Facebook do Blocão a comissão de carnaval escreveu que Marlon “fugiria” de Júpiter, na Flórida, para curtir a folia em Nova Friburgo. Repleto de histórias curiosas o Blocão do Frizão continua a estreitar os laços entre o futebol e o samba.
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