Vinicius Gastin
Há dez anos Mirlene da Silva Santos foi convidada para participar de uma corrida. À época, não tinha roupas e tênis para competir na prova da Via Expressa, em Olaria. A menina de 17 anos pediu os acessórios emprestados a uma amiga e prometeu conquistar o 1º lugar. A promessa foi cumprida e, a partir dali, teve início uma carreira vitoriosa.
Mirlene começou a treinar regularmente e logo o seu talento sobressaiu. A atleta conheceu o professor José Augusto, que a incentivou e orientou nos treinamentos. “Sempre gostei de correr. Eu pedalava, jogava bola e o pessoal falava que eu corria bem. Conheci o Augusto e comecei a treinar com ele. Treinei por um tempo, parei e com 17 anos comecei a correr profissionalmente”, contou.
A parceria perdura até hoje. Aos 27 anos, Mirlene Silva se transformou em uma das principais corredoras do estado do Rio de Janeiro. A friburguense treina durante todos os dias da semana, de manhã e à tarde, faz dieta e segue uma rígida programação de atividades na academia. Todo o esforço tem um objetivo: disputar os Jogos Olímpicos em 2016. “São três horas de exercícios por dia, uma média de 12 horas de treinos semanais. Para disputar as Olimpíadas, tenho que continuar treinando muito, fazendo o trabalho direitinho.”
O caminho não é fácil. A corredora de Nova Friburgo precisará alcançar o índice olímpico para conquistar o objetivo. Na visão do treinador Augusto, a maratona é a modalidade mais acessível para Mirlene. “A gente já participou de algumas maratonas e, nos últimos dois anos, paramos. Estamos fazendo um trabalho de velocidade, primeiramente, para correr os cinco mil e 10 mil metros. Neste ano deveremos participar de algumas meias-maratonas com o objetivo de obter índice. É um ritmo muito forte.”
Este será mais um desafio na vida da jovem atleta. Acostumada a superar obstáculos, Mirlene corre a maratona de cinco quilômetros no ritmo que precisa para competir os 42 km. “Temos cinco anos pra alcançar isso. Hoje ela faz coisas que há quatro anos era um sonho pra gente: corre cinco mil metros em 17min30”, garantiu Augusto.
A rotina em 2013 será ainda mais desgastante. A carga de treinos vai aumentar e, por isso, Mirlene não participará de nenhuma competição de maratona. “No começo do ano, vem a fase mais puxada. Fazemos um trabalho de preparação para toda a temporada, correndo longas distâncias, mais lentamente, para aumentar a resistência. No final do ano, diminuímos a quantidade de treinos e aumentamos a intensidade”, explicou o treinador.
Corredora acumula conquistas
Acostumada às conquistas, Mirlene Silva é considerada uma das três melhores corredoras do estado do Rio de Janeiro. A atleta de Nova Friburgo caminha a passos largos para alcançar a principal rival, Márcia Narlock (que disputou três olimpíadas e cinco campeonatos pan-americanos). Nas últimas provas, ficou apenas a 40 segundos de distância da adversária. Em 2012, a corredora alcançou uma impressionante marca: venceu 17 das 19 corridas que disputou. “O ano foi muito bom. Venci a grande maioria das provas e as que eu perdi, não larguei na elite. Isso dificultou bastante.”
Mirlene participou de duas provas de alto nível. A primeira foi a Corrida de São Sebastião, onde foi a 6ª colocada e a 2ª melhor brasileira (as três primeiras foram quenianas e a quinta, boliviana). Na Eu Atleta, também no Rio de Janeiro, conquistou a 13ª posição, sendo a 8ª melhor do país. Mesmo no segundo pelotão, conseguiu ultrapassar seis atletas de elite e melhorou o tempo em relação aos anos anteriores. O objetivo a partir de agora é correr junto com as quenianas que disputam o Pan-Americano e as Olimpíadas. “É importante correr com pessoas mais fortes para melhorar o meu tempo. Acho que tenho condições.”
Talento de Mirlene é reconhecido pela Unimed
De fato, Mirlene poderá sonhar mais alto em 2013. A Unimed reconheceu o talento da atleta e vai apoiar a sua carreira. Graças à parceria dos setores de responsabilidade social e marketing da empresa, a atleta ganhou um contrato de patrocínio. “Ela vai poder contar com esse dinheiro. O valor mensal recebido é uma garantia”, disse Ana Regina Pereira, do setor de responsabilidade social da empresa.
A Unimed desenvolve o projeto ODN—Organização do Desenvolvimento do Milênio—, de caráter social. A história de vida de Mirlene e o seu talento se encaixaram no perfil procurado pela empresa. “Precisávamos abraçar uma causa e fazer algo numa dimensão mais próxima, a alguém que precisa desse apoio. Os presidentes e diretores da Unimed se envolveram, entenderam o projeto”. Responsável pelo marketing, Daniel Gonçalves reiterou o motivo da escolha. “Estamos priorizando o esporte, por ser algo que tem tudo a ver com saúde. Incentivamos este setor na cidade e ela vem se destacando muito, está entre as melhores do estado.”
A verba do patrocinador lhe permitirá vencer mais um desafio: competir em lugares distantes. “Esse ano, ela participou de muitas corridas na região e ganhou com facilidade. É necessário que busque um nível mais alto a partir de agora, para que possa participar de uma maratona, para que ela ganhe ritmo de treinamento e possa crescer. As provas são raras aqui no estado do Rio e costumam ter um caráter mais festivo”, destacou José Augusto.
Em meio aos desafios, a vontade de estudar
Mirlene, dentre outros sonhos, revela o desejo de cruzar a linha de chegada da São Silvestre entre as cinco melhores. Entretanto, o primeiro passo é atingir o índice para largar no pelotão de frente. “Se não for assim, não vale a pena participar”, disse.
De olho no futuro, a corredora não largou os estudos e pretende ir além: quer cursar a faculdade de Educação Física. “É algo que está no meu ramo. Eu treino e, estudando, fica mais fácil. Depois, quem vai dar aula sou eu”, brincou.
Na vida pessoal, Mirlene parte para a conquista de sua independência, ao deixar a casa da mãe na Via Expressa, em Olaria, para morar sozinha. “Essa é uma conquista, ter o próprio cantinho. Assim, ela poderá fazer as coisas no próprio ritmo e ter uma sequência, tranquilidade para descansar após o treino, relaxar, alimentar-se bem. Muitas vezes, as pessoas não entendem que é uma profissão, uma responsabilidade grande carregar o nome das empresas patrocinadoras”, argumentou Ana Regina.
Com a mesma simplicidade de quem não tinha um tênis para correr, a atleta pretende usar a própria história como exemplo de superação para atingir as novas metas. Na época em que começou a correr, havia estudado até a 2ª série apenas. Anos depois, voltou à escola e concluiu o ensino médio no Sesi, em 2011. “Pra quem saiu de onde saí e chegou aonde cheguei, não é impossível.” Não mesmo. Histórias de vida como a de Mirlene Silva provam isso a cada dia.
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