Papai Noel tomou conta do Natal

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Dalva Ventura
Papais Noéis de todos os tipos e tamanhos. Luzes e mais luzes. Pinheiros e árvores de Natal verdes, prateadas, estilizadas ou naturais. Enfeites natalinos os mais diversos. Guirlandas. Toalhas de mesa com motivos natalinos. Quando se trata de decorar a casa para o Natal, o que não faltam são opções. 
Será? Na verdade, falta sim. Experimente encontrar uma imagem do menino Jesus ou um presépio nas lojas da cidade. Batendo perna, a gente até encontra um ou outro por aí, mas são poucos, muito poucos, em comparação com a infinidade de outros produtos natalinos à venda. 
Nas lojas mais populares, é possível achar alguns presepinhos toscos e sem graça quase escondidos no fim dos corredores. Nas papelarias mais sofisticadas e algumas lojas de decoração, a variedade é um pouco maior. Em compensação, o preço é bem mais salgado. E, se comparados com a variedade de árvores de Natal, pisca-piscas, bolas e outros enfeites, não passam de um grão de areia no meio do deserto. 
O fenômeno chama a atenção não só de pessoas religiosas e que cultivam as tradições do Natal como de quem não é lá muito chegado a estas coisas. Afinal, Natal é Natal. O consumismo não deveria chegar ao ponto de fazer com que a população se esqueça de seu real significado, que é festejar o nascimento de Jesus.      
Uma tradição tão cara aos friburguenses, os presépios, hoje só é cultivada pelas igrejas e algumas poucas famílias. Mas são poucas, se comparadas a outros tempos, quando ter um presépio em casa era algo tão obrigatório quanto as árvores de Natal de hoje em dia.

Leyla Lopes e seu presépio
Uma dessas pessoas é Leyla Lopes Mello, que monta seu presépio desde 1945, quando sua tia lhe presenteou com algumas peças: a cabana, a Sagrada Família, um burrinho, um boi. Desde então, a cada ano Leyla aumenta um pouco mais o seu presépio, acrescentando uma fonte, um poço, um castelo.
No começo, ela montava o presépio em cima de um móvel da sala. Alguns anos depois, seu pai, o médico Salim Lopes, encomendou a um carpinteiro uma armação para Leyla poder montá-lo num canto da sala. Ficou parecendo um cenário e contava, inclusive, com painéis, de fundo, refletores e cortinas. Quando o doutor Salim morreu, ela passou a montar seu presépio no antigo consultório do pai, que ficava na Rua Fernando Bizzotto.
 
O presépio que deslumbrava crianças e adultos 
Os mais velhos se recordam dos presépios de antigamente, montados em locais públicos e residências, com um capricho impressionante. O mais lembrado é o da casa do doutor Julio Zamith, na Avenida Alberto Braune, onde atualmente está localizada uma agência do Banco Itaú. Crianças e adultos aguardavam com ansiedade a noite em que o doutor Zamith abria as portas de sua casa para que todos pudessem admirar aquela maravilha. 
O presépio do doutor Zamith deslumbrava crianças e adultos. Tinha nascentes, pontes e luzes iluminando o caminho dos Reis Magos até a manjedoura. Inesquecível. Eram imagens eternamente associadas ao Natal e muito mais intensas que a do Papai Noel. Que pode até ser muito bonitinho e simpático, mas, convenhamos, não têm nada a ver com os trópicos nem com o espírito do Natal. 

Presépios: tradição a ser preservada
Hoje em dia, todas as famílias capricham na decoração de Natal, principalmente as que têm crianças em casa. Árvores e bolas de todos os tipos e tamanhos, luzes nas fachadas, imagens e imagens de Papai Noel de todo tipo de material, renas, bolas coloridas, enfeites e mais enfeites. Ao contrário de antigamente, porém, poucas se lembram de colocar um presepinho ao pé da árvore. Algo impensável há algumas décadas. Ter um presépio em casa era algo tão obrigatório quanto... espalhar papais noéis por todo o canto da sala. 
Além de algumas poucas famílias, apenas as igrejas católicas e alguns locais públicos (estes, em sua maioria, com imagens envelhecidas e até quebradas) montam presépios. Vale destacar, porém, o da Paróquia São Francisco de Assis, que a cada ano apresenta aos fiéis um presépio mais bacana. 
Mas, por que um presépio? Na verdade, ele é uma das representações mais singelas do nascimento de Jesus Cristo. Procura resgatar a importância e a magnitude daquele momento. 
Segundo o dicionário, presépio significa “um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo”. Contudo, esta é, principalmente, a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria e São José, tendo por testemunhas os pastores e os animais, recebendo a visita dos Reis Magos guiados à gruta pela estrela de Belém simbolizaria a grandeza e a onipotência de Deus através da fragilidade de uma criança.
A representação teatral foi criada por São Francisco de Assis em 1223, em uma gruta da floresta na região de Greccio, Itália. Na época, já havia 16 anos que a igreja tinha proibido a realização de dramas litúrgicos nas Igrejas, mas São Francisco pediu a dispensa da proibição e a obteve. São Francisco morreu dois após, mas os frades franciscanos continuaram a representar o presépio utilizando imagens. 
No Brasil, a cena do presépio foi apresentada pela primeira vez aos índios e colonos portugueses em 1552, por iniciativa de José de Anchieta.

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