Será, com certeza, uma noite memorável. O Grupo de Arte, Movimento e Ação (Gama) está preparando uma homenagem à altura do jornalista e escritor Zuenir Ventura, esta personalidade reconhecida nacionalmente e que passou grande parte de sua infância e também juventude em Nova Friburgo.
Na ocasião será lançado seu livro mais recente, “Sagrada Família” (Objetiva, 232 páginas), onde estreou como romancista. Autor de diversos best-sellers (“68, O ano que não terminou”, “Cidade Partida”, “Inveja”, “Minhas histórias dos outros” e “Crônicas de um fim de século”, entre outros) e de grandes reportagens que acabaram virando livros, como “Chico Mendes: Crime e Castigo”, Zuenir é antes de tudo uma grande figura humana.
A homenagem a Zuenir encerra um ano de grande produtividade do Gama. A festa será na sexta-feira, 14, a partir das 19h, na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), e, além do lançamento do livro, mestre Zu, como é conhecido entre os colegas jornalistas, receberá o Troféu Galdino do Valle e o diploma de “Pleno Cidadão destas Terras de D. João VI”, instituídos pelo Gama. Além disso, ganhará uma escultura em papel machê assinada pelo artista plástico Zeppe, na qual está retratado ao lado de sua mestra em literatura portuguesa, Cleonice Berardinelli.
Memórias próprias e memórias emprestadas
“Sagrada Família” foi a obra mais vendida na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em julho. Nela Zuenir mistura memórias próprias com memórias emprestadas—mas também inventa, se deixa levar pela ficção. O livro levou dez anos para ser concluído, mas o autor gostou da brincadeira.
“Comecei e parei algumas vezes de escrever este livro. Já nem estava pensando nele quando recebi um telefonema de meu editor, o Roberto Feith. Mandei um ou dois capítulos e ele logo me retornou, empolgado, marcando a data da entrega”, conta o autor.
Para não haver dúvidas nem constrangimentos, Zuenir faz questão de deixar claro que realmente não sabe que histórias relatadas no livro são reais ou inventadas. E deixa isso claro já na epígrafe, quando cita Manoel de Barros: “Só 10% é mentira, o resto é invenção”. O livro retrata os relacionamentos entre diversos integrantes de uma família do interior. A cidade em questão se chama Florida. Qualquer relação com Nova Friburgo é mera coincidência, mas os friburguenses—principalmente os mais velhos—podem identificar muitos pontos em comum com sua cidade. O trem passando na rua principal, as matinês de domingo, o footing na praça nos fins de semana à tarde, os flertes, os bailes nos clubes e, é claro, as meninas da Vila Alegre, como ele chama a zona do meretrício.
Quem narra a história é o menino Manuéu, aprendiz de pintor de paredes, claramente inspirado no próprio autor, cujo pai era pintor de paredes. Zuenir admite que incluiu no livro algumas histórias ocorridas em sua própria família, mas ressalta que muitas coisas ali ele observou ou ouviu dizer. Neste aspecto, o livro se aproxima muito mais de uma ficção. “O que eu quis foi mostrar a hipocrisia reinante naquela época. Fazia-se tudo o que se faz hoje, mas escondido”, afirma Zuenir. “Tudo o que dissesse respeito a sexo era reprimido. Havia infidelidade, pedofilia e incesto, traição, mas só os homens podiam trair. Se as mulheres fizessem a mesma coisa, eram consideradas adúlteras”, afirma. Zuenir lembra que aquela era uma época muito mais preconceituosa e cheia de tabus. As mulheres de 30 anos que não tivessem se casado eram tidas como solteironas, por exemplo.
O livro é uma delícia de se ler. Quem viveu aqueles tempos se diverte ao lembrar situações narradas por Zuenir e identificar, quem sabe, pessoas e locais conhecidos ali retratados. Vai ser difícil, avisa o autor. No livro, está tudo misturado. Tem parentes, tem amigos, tem parente de amigo, mas tem também muitos personagens que só existiram na cabeça do autor.
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