A Câmara Municipal foi totalmente ocupada pelos moradores do Loteamento Três Irmãos, em Conselheiro Paulino, que participaram da sessão específica sobre a localidade, na noite de terça-feira, 4, proposta pelos vereadores Isaque Demani e Marcelo Verly. Nos depoimentos, os moradores se emocionaram, se revoltaram e não pouparam críticas aos titulares do Executivo estadual e municipal que, além de não solucionarem seus problemas, alguns sequer compareceram ou mandaram representantes à sessão. O loteamento está com 68 casas interditadas e a maior reclamação é em relação ao aluguel social. Compareceram, além dos vereadores, representantes do deputado federal Glauber Braga (PSB), Maria Adélia Bevilacqua; do Corpo de Bombeiros, major Fábio; da Defesa Civil, Robson Teixeira; e o comandante da Polícia Militar, coronel Marcelo Freiman, entre outros.
O primeiro a ocupar a tribuna foi o morador Eugênio Mafort. Ele frisou que no Três Irmãos as casas são boas, de tijolos e acabamento de primeira, construídas à base de muitas dificuldades e suor. Mostrando-se indignado com a situação, ele perguntou onde foram parar os recursos destinados ao bairro. “Não podemos concordar com a inércia do poder público”, acentuou. Experiente em obras, Eugênio afirmou que com 30 peões se resolve o problema do Três Irmãos, em poucos dias.
Carla Serafim Bohrer falou que seus pais perderam tudo no Três Irmãos e sua casa está interditada. Ela fez críticas ao subsecretário de reconstrução da Região Serrana do governo estadual, Affonso Monnerat, por não ter comparecido a nenhuma reunião com os moradores e que as obras prometidas não foram feitas, apesar da liberação dos recursos. “Nós estamos falando de vidas”, enfatizou a moradora, citando o caso de seu cunhado que ficou debaixo da terra por 30 dias até seu corpo ser encontrado. “Os governos fazem um monte de campanhas, sobretudo, principalmente educação, cidadania, qualidade de vida, isso e aquilo. E daí? De concreto, o que está sendo feito para que tudo isso se torne realidade? Nada! Então, quero saber: que futuro nossas crianças terão?”
A mesma moradora criticou as autoridades dizendo que mandar sair de casa é fácil, interditar é fácil, “expulsar” também, agora, “difícil é conseguir outro lugar para pôr minhas máquinas de costura, que é o meu ganha-pão. Nós não tivemos nem um caminhão disponibilizado para retirar nossos pertences. Tivemos que pagar frete”, relatou. Carla se disse constrangida por necessitar do aluguel social. “Sempre vivi do meu trabalho, desde muito jovem, mas se perdi tudo que tinha, e tenho direito a isso, eu quero receber. Estou esperando por ele há dois anos. Cumpro com todos os meus deveres, assim como todos nós aqui cumprimos. Mas, e os direitos? Quem nos garante? Ninguém consegue mais nem dormir direito. Isso não é vida, muito menos qualidade de vida!”, revoltada, encerrou.
Enquanto Cíntia Nogueira reclamou que está difícil arrumar casa para alugar porque os aluguéis estão caros e os moradores não conseguem aluguel social, a presidente da associação de moradores, Maria Helena Araújo, não teve papas na língua ao fazer críticas aos representantes do Executivo. “Ninguém fez nada pelo Três Irmãos, que está uma vergonha. Cadê o Affonso Monnerat?”, perguntou diversas vezes.
Maria Helena disse que o deputado federal Glauber Braga esteve no bairro e garantiu que as verbas foram liberadas. “Então, cadê a verba?”, questionou de novo. “Minha família está toda separada, um para um lado, outro para outro”. Ela afirma que os moradores tiveram que se cotizar para tirar uma enorme pedra que estava no meio de uma rua, ainda da época da tragédia de 2011. “Nossa situação é gravíssima. Estamos cansados de conversa”, reiterou, contundente, cobrando das autoridades a retirada das pedras caídas em 13 de novembro passado.
Para Paulo Sérgio Abreu o que mais incomoda os moradores do Três Irmãos é a omissão do governo do estado, o fato de três prefeitos receberem salários em Nova Friburgo e as obras não serem feitas. Segundo Paulo, Affonso Monnerat nunca participou de uma reunião com os moradores desta localidade. “Até quando vamos viver assim?”, perguntou, pedindo um levantamento das autoridades para que se saiba que casas podem ser mantidas ou não.
A secretária da associação de moradores, Sabrina Serrado, disse que Affonso Monnerat sumiu; que policiais e guardas dentro do carro não evitam que casas sejam furtadas; que as ruas estão sem iluminação e pediu a liberação da luz das ruas. Ela lamentou também a ausência de representantes da secretaria municipal de Assistência Social e quis saber a situação das casas do lado esquerdo da Rua Rio Caraíba. “O governo do estado está esperando morrer mais gente no Três Irmãos para fazer alguma coisa? Ou quem sabe, nem isso, nem assim?”, questionou, afirmando que dinheiro para obras existe, mas as autoridades não se empenham para executá-las.
Alguns moradores exibiram cartazes, cobraram providências do Executivo municipal e estadual, e demonstraram preocupação de que as pedras rolem novamente e possam atingir até o Loteamento São Jorge. Os vereadores Isaque Demani e Marcelo Verly, que propuseram a sessão específica sobre o Três Irmãos, mostraram-se satisfeitos com a reunião. Disseram que o Legislativo cumpriu seu papel, mas esperam que o Executivo—municipal e estadual—aja para que os moradores do Três Irmãos tenham seus problemas solucionados.
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