Em Córrego Dantas, um cenário pós-tragédia permanece no bairro

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Em Córrego Dantas, um cenário  pós-tragédia permanece no bairro
Em Córrego Dantas, um cenário pós-tragédia permanece no bairro

Juliana Scarini
Parece que foi ontem que a tragédia climática de janeiro de 2011 atingiu o bairro Córrego Dantas. O cenário ainda é de destruição e, pelas ruas, quase não se vê moradores, já que a maioria teve suas casas destruídas. Os grandes questionamentos de quem ainda mora no local é: o que fazer? A quem recorrer? Quem vai solucionar os problemas?
O drama de quem ainda mora no local é evidente e, além de não saber quando poderão deixar suas casas, estes sofrem com as consequências das obras na margem do Rio Córrego Dantas, a exemplo do que ocorre na Rua José Alves Teixeira. A moradora Arlete Cardoso diz que devido às obras de contenção no córrego, onde havia paralelepípedos virou quase uma estrada de chão. “Quando chove temos que colocar sacolas nos pés para entrar em casa, pois a rua fica cheia de lama. E agora, com o tempo seco, estamos respirando poeira o dia todo, porque a empreiteira não limpa a rua e nem joga água para limpar a terra”, criticou.
Em nenhum local do bairro a reportagem de A VOZ DA SERRA encontrou uma placa referente aos valores da obra e prazo de entrega da mesma. Porém, segundo o morador Paulo César Miranda, passa de dois milhões o investimento no bairro. Ele ainda lembra que a poeira causada pelas obras está prejudicando a saúde de crianças, que ficam com o nariz sangrando. “E essa poeira é de enchente. Nem podemos almoçar em paz, temos que fechar a casa toda”, revelou, preocupado com bactérias.
Fernando Cardoso diz que o fluxo de caminhões durante todo o dia só piora o problema da poeira, já que a empresa responsável pela obra não faz limpeza da rua e nem utiliza caminhão-pipa para amenizar os problemas dos moradores. Ele informa que o bairro também não tem bueiros e, quando chove, a água escoa no rio.
Na Rua Cherubina Rocha Poletti o drama é do empresário Ronaldo de Assis Abreu, da Roiser Indústria Têxtil. Ele teve sua fábrica atingida na tragédia de 2011 e  até hoje não sabe o que fazer. “Eu limpei o meu galpão todo por conta própria e agora quero saber: vão me interditar, me indenizar ou eu posso reconstruir? Só quero uma posição. Não sei o que fazer”, desabafou Ronaldo, lembrando que tentou todas as medidas na Justiça e que já recebeu, inclusive, um alvará da Prefeitura, apesar de sua fábrica estar interditada.
Com máquinas paradas e quebradas, Ronaldo improvisou o funcionamento de sua fábrica e sabe que ainda corre riscos. “Estou numa situação que não posso nem trabalhar”, revela, emocionando-se ao lembrar o que passou em janeiro do ano passado.
A educação também tem deixado a desejar no Córrego Dantas, já que a Creche Maria Inês Andrade Bachini e a Escola Municipal Professor Adezir Almeida Garcia estão localizadas em locais impróprios para a educação das crianças. No caso da creche, na Rua Luiz Schott, além das condições precárias onde a instituição está instalada, há falta de auxiliares de creche. As mães dos alunos contam que a creche funciona improvisadamente desde agosto do ano passado e que, até agora, nada foi feito para melhorar a qualidade de ensino.

Estado intervém no Córrego Dantas
Em janeiro deste ano o governo do estado demoliu 15 casas situadas às margens do Rio Córrego Dantas com a presença de Carlos Minc, secretário de Ambiente, e Marilene Ramos, presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O objetivo é construir um parque fluvial no bairro, a fim de evitar novas ocupações na área com risco de inundações. 
Segundo Alessandro Vianello, assessor do Inea em Nova Friburgo, uma equipe está fazendo o cadastro de pessoas em área vermelha (com risco de inundação) e depois o imóvel é avaliado e será feita uma compra assistida, onde o morador receberá o valor correspondente à avaliação feita do seu imóvel e o dinheiro só poderá ser aplicado na compra da nova moradia que ele escolher. Ele ainda ressaltou que o Inea está trabalhando com área de inundação e as encostas são de responsabilidade da Secretaria de Obras do estado.
A intenção do governo do estado é que o parque fluvial ao longo do Córrego Dantas tenha áreas de lazer, mobiliário urbano, equipamentos para realização de atividades esportivas, além de dispositivos de controle de inundações, como bacias de detenção, pavimentos permeáveis e trincheiras de infiltração. As margens do rio também devem passar por reflorestamento ou revegetação, com priorização do uso de espécies vegetais nativas da Mata Atlântica.
As famílias que ainda se encontram em área vermelha devem se dirigir ao canteiro social na Avenida Antônio Mário de Azevedo, ao lado da Frilog, e fazer o cadastramento.


Prefeitura esclarece questões reclamadas por moradores do bairro
1 - O empresário Ronaldo de Assis Abreu, da Roiser Indústria Têxtil, afirmou que recebeu um alvará de funcionamento da Prefeitura. Esta informação procede? Por que a Prefeitura emitiu alvará, sendo que a fábrica encontra-se em área de risco?
“A secretária municipal de Fazenda, Tânia Trilha, informa que, consultando os arquivos, consta a emissão de ALVARÁ PROVISÓRIO, para a empresa ROISER INDÚSTRIA TÊXTIL, datado de 2002, com validade condicionada ao cumprimento de uma série de exigências que não dependem apenas da esfera municipal. Entretanto, em nossos arquivos não constam registros de recolhimento de ISSQN, vez que a atividade principal não é a prestação de serviço, ou seja, se trata de uma indústria de fabricação de material têxtil. Assim, melhor seria que o contribuinte comparecesse à sede da Prefeitura para dar baixa em seu cadastro, ou regularizar a sua situação, antes do procedimento fiscalizatório em execução pela Secretaria de Fazenda.”

2 - A Creche Maria Inês Andrade Bachini, na Rua Luiz Schott 535, está funcionando num local improvisado desde agosto de 2011 e, além disso, faltam auxiliares de creche. A Secretaria pretende destinar profissionais para a Creche? E com relação ao espaço, há pretensão de obter um local mais apropriado para alunos e professores?
O secretário municipal de Educação, Ricardo Lengruber, esclarece o seguinte: “A SME, por livre e espontânea iniciativa, buscou diálogo com a Associação de Moradores do Córrego Dantas, tão logo soube, pela impressa local, de informações a respeito da construção de creche no bairro, com recursos angariados pela própria associação. Mesmo não sendo recurso público e fora da alçada da SME, esta buscou o diálogo a fim de estreitar laços e cooperar no que fosse possível. Da negociação, fora expedido um ofício ao Inea, assinado pelo prefeito e os secretários de Educação, Cultura, Esporte e Meio Ambiente. Ao mesmo, o Inea respondeu informando sobre a inviabilidade de construção da referida creche da associação na localidade. Além disso, a SME tem tratativas com o governo do estado, já que os recursos provenientes das MP 530 e 531 (para reconstrução de unidades escolares atingidas na tragédia de jan/2011) são de administração do governo federal (MEC) e do governo do estado (Seeduc). Com esses recursos, o município inscreveu, para reconstrução, as unidades escolares do bairro de Córrego Dantas. Até o presente, sobre o bairro em tela, o que temos de oficial é um laudo do DRM encaminhado a Subsecretaria Estadual Especial para Reconstrução da Região Serrana (Sr. Affonso Monneratt) que atesta a inviabilidade de construção de unidades escolares (escola Adezir Almeida Garcia e Creche Maria Ignes Bachini), em razão dos riscos iminentes que há na localidade. Também houve tentativa de regresso das unidades escolares ao local de funcionamento em que operavam até dezembro de 2010, mas relatório da Supervisão Escolar da SME não recomendou a transferência. Diante do exposto, a SME, além de compreender a imensa demanda existente no bairro, entende também dever respeitar os órgãos de controle e fiscalização ambiental e de segurança no sentido de primar pela salubridade, conforto e bom atendimento aos estudantes (menores)”.

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