A Vila Amélia

segunda-feira, 13 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra
A Vila Amélia
A Vila Amélia

Luiz de Gonzaga Malheiros (*)

A Vila Amélia, que abriga hoje um dos maiores conjuntos habitacionais de Nova Friburgo, uma Delegacia de Polícia, uma cadeia e um amontoado de construções erguidas sem nenhum plano ou programa, já teve seus dias de glória e fastígio.

Pertenceu ao casal português Antônio e Carolina Pinto Martins, pais de sete filhos, seis homens e uma mulher, Amélia, justamente aquela que daria o nome ao bairro.

O palacete da Vila Amélia recebia a nata da sociedade friburguense e os turistas que frequentavam a cidade em grande número.

O atual Córrego do Relógio ostentava um magnífico parreiral que produzia as mais gostosas uvas da região. Macieiras e pereiras importadas cobriam todo o seu terreno que ainda produzia morango, aspargos, hortigranjeiros etc... Sua criação de suínos, de ótima raça, faria inveja aos atuais criadores.

O que mais distinguia a Vila Amélia, porém, era o seu mel, Flor de Tojo, árvore trazida de Portugal e que fornecia o pólen para as abelhas do muito bem cuidado apiário. Já era centrifugado, coisa rara para a época.

O parreiral, que descia pelo Córrego do Relógio, por sobre uma pérgula de ferro, fornecia sombra e inspiração aos que dele se acercavam.

O português Antônio Pinto Martins era um visionário que muito amou esta cidade. Dizia-se que entre os seus sonhos estava a abertura de um túnel que ligaria a Vila Amélia à atual Avenida Galdino do Vale.

Tornaram-se famosas as suas coleções das quais constava, dizia-se, uma carabina que pertencera a Dom João VI, e os seus sete relógios de ouro da marca Pateck Philips, com a gravação das iniciais A.M., pois seus sete filhos tinham nomes que principiavam pela letra do alfabeto: Amélia, Álvaro, Alberto, Abílio, Alfredo, Antonio e Aníbal.

Por tudo isto, nós perguntamos: a tal urbanização da “Vila Amélia” teria sido um crime contra a ecologia? E que dizer da localização da delegacia de polícia e da cadeia pública no palacete que poderia estar abrigando o “Museu de Nova Friburgo”? Um crime cometido em nome do progresso? Teria sido? A discussão está lançada.

(Texto publicado originalmente em 25 de junho de 1982, em A VOZ DA SERRA).

• Luiz de Gonzaga Malheiros foi professor de línguas neolatinas, formado no Colégio Internacional de Filosofia de Roma, Itália. Foi secretário-geral da Prefeitura de Nova Friburgo e membro do Conselho Municipal de Educação. Com uma atuante vida pública, foi secretário de Educação e Cultura e membro do Conselho Estadual de Educação do antigo estado do Rio de Janeiro. Em duas legislaturas atuou na Câmara Municipal, eleito como vereador do antigo PSD

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