Atualmente, em plena democracia, a liberdade de imprensa tem sido gravemente afetada com ameaças e até mesmo assassinatos de jornalistas no Brasil, sem contar perseguições políticas e de ordem econômico-financeira a que órgãos de imprensa são submetidos, com restrições à publicidade, principalmente após a veiculação de denúncias. Veículos de pequeno e médio portes, especialmente os do interior, são os mais afetados.
No período da ditadura militar a situação era bem pior e tem agora alguns dos seus muitos episódios conhecidos através do livro de autoria do jornalista Fernando Jorge, “Cale a boca, jornalista!—O ódio e a fúria dos mandões contra a imprensa brasileira”, que chega ao mercado em sua 5ª edição. Na obra o autor destaca diversos exemplos da dificuldade enfrentada por jornalistas ante o anseio de tornar público acontecimentos de uma época nebulosa da política brasileira, em que a censura era presente nas redações dos órgãos de imprensa e as atividades profissionais dos jornalistas eram notoriamente cerceadas.
No livro Fernando Jorge enumera as arbitrariedades realizadas, principalmente nos idos do movimento militar de 1964, com destaque para as perseguições e o martírio sofrido pelos colegas de imprensa—Cláudio Campos, de “A Hora do Povo”; Hélio Fernandes, da “Tribuna da Imprensa”; Vladimir Herzog, da “TV Cultura”; Júlio de Mesquita Neto, do “Estadão”; Lourenço Diaféria, da “Folha” e Antônio Carlos Fon, do “Jornal da Tarde”, entre tantos outros. Fernando Jorge—que também sofreu na pele o rigor a que a imprensa era submetida, principalmente nas décadas de 60 e 70, ao denunciar o preconceito de raça no Brasil—define sua obra como “além de uma denúncia, um registro da nossa memória histórica, útil para pesquisas”.
Classificado em 1964 pelo regime militar como “escritor subversivo”, Fernando Jorge também teve a apresentação de sua peça teatral “O grande líder” no Teatro de Arena de São Paulo proibida pela censura federal que exigiu 40% de cortes. Diante da recusa, Fernando foi novamente taxado de “subversivo” e em 1976 quase foi preso por conta da elaboração de um livro documental sobre as ações do governo de Ernesto Geisel.
Em “Cale a boca, jornalista!” Fernando Jorge aborda em sete capítulos os episódios do autoritarismo do governo brasileiro, entre eles, “A sanha contra a imprensa após a queda do império”, “Duelos, tiros, imprensa proletária e presidentes contra jornalistas”, “O holocausto dos jornalistas após o golpe de 1964” e “A sanha contra a imprensa, da Revolução de 1930 até a renúncia de Jânio Quadros”. O livro é todo baseado em depoimentos sobre as violências sofridas pelos jornalistas durante o regime militar no país com relatos de agressões físicas cometidas por autoridades e governantes militares. O autor ainda destrói mitos e apresenta episódios omitidos pelos compêndios da história.
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