Educação no trânsito é a solução

terça-feira, 10 de abril de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Ricardo Viveiros* 

As estatísticas, infelizmente, ainda fortalecem o noticiário que informa graves acidentes de trânsito com mortes, principalmente por conta da mistura de álcool e direção. Fim e início de ano—período que temos Natal, Ano-Novo e Carnaval—, que deveriam ser festivos, para muitos acabam em tragédia e sofrimento. A falta de educação, reforçada pela imprudência e sensação de impunidade, rouba muitas vidas e deixa um rastro de sangue nas estradas e cicatrizes nos corações e mentes, que permanecerão pelo resto da existência das pessoas envolvidas.

Essa dura realidade continua cada vez pior. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que, no Brasil, mais de 40 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito e que 40% das vítimas têm relação com o álcool. É um absurdo pensarmos que somos o 5º país com o maior número de mortos em estradas.

Acidentes de trânsito são a segunda principal causa de morte no Brasil. São gastos cerca de R$ 190 milhões por ano em atendimentos às vítimas. Dentre 2002 a 2010, foram mais de 325 mil mortos. Se calcularmos com o mesmo valor, o país já gastou mais de R$ 1,7 bilhões em atendimento. Com estes recursos, o governo poderia ter investido mais, se podemos dizer assim, em educação para o trânsito.

Há 15 anos perdi um filho e uma neta em um desastre de carro na cidade de São Paulo. Ele, 25 anos, ela seis meses. Ricardo, ilustrador e cartunista, era casado e tinha três filhos. Mariana, que morreu com ele, a caçula.

Naquela madrugada de 1996, cheguei em casa, me preparava para dormir quando um lacônico telefonema anunciou: morreu Ricardo Filho, morreu Mariana. O irresponsável que avançou o semáforo vermelho e os matou fugiu, desapareceu. Enterrei filho e neta juntos, contra a lei da natureza. Longos e dolorosos 15 anos depois, após uma luta sem trégua marcada apenas pela busca de justiça, jamais de vingança ou reparação financeira, o criminoso foi encontrado e julgado. Respondeu em liberdade à condenação de apenas um ano e nove meses. O máximo de pena nestes casos são três anos de prisão. Réu-primário, responde em liberdade, como aconteceu.

Nunca aceitei a condição de vítima. Sofri tudo o que era possível, cheguei ao fundo do poço e voltei, sobrevivente, para seguir meu destino. Mas, cabe mudar a realidade que vivemos neste país: o investimento em educação precisa ser, no mínimo, 10% do PIB, as leis de trânsito precisam ser mais rigorosas, as penas devem ser maiores e, mais importante, que sejam realmente cumpridas.

O número de mortos em acidentes de trânsito no Brasil é superior a muitas guerras civis pelo mundo. A irresponsabilidade dos motoristas não deve/pode ser tratada pela lei como simples acidente, quando na verdade é crime.

Não adianta lermos diariamente as estatísticas das mortes que, aliás, repetiram-se no fim de 2011 e, com certeza, acontecerão no fim deste ano.

Muitos perguntam-me o porquê de relembrar a tragédia que vitimou a nossa família. A resposta é simples: para não acontecer de novo com outras pessoas. Cabe à sociedade brasileira, em sua legítima defesa, lutar por mais educação e pela aprovação de leis que estabeleçam novos meios de provar a culpa dos motoristas alcoolizados, dos que dirigem de maneira insana. Também é preciso que as leis sejam mais rigorosas, tenham penas maiores e que sejam de fato cumpridas. Por você, por nós, pelo futuro do Brasil.

 

*Ricardo Viveiros, jornalista e escritor, é autor de vários livros, entre os quais O Poeta e o Passarinho (Editora Biruta), que será lançado dia 15 de abril, às 16h, na livraria Cultura do São Conrado Fashion Mall (Estrada da Gavea 899—Rio de Janeiro).

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