No dia 7 de março passado o Jornal AVS destacou os trabalhos realizados pelo Arquivo Pró-Memória, em matéria publicada com o título “Arquivo Pró-Memória em Alta”. Dentre tudo o que foi dito, o artigo fez referência ao projeto “Guia do Patrimônio Documental dos Sertões do Macacu”, atualmente em curso com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura, através do Inepac. Após a publicação do artigo passamos a receber e-mails de alguns de nossos usuários, solicitando maiores detalhes a respeito desse projeto.
Então, vamos aos pormenores:
O projeto em questão tem por objetivo contribuir para identificar, inventariar, preservar e divulgar os conjuntos documentais existentes na região, historicamente tida como dos “Sertões do Macacu”, ou seja, a região coberta pelos municípios de Nova Friburgo, Bom Jardim, Cordeiro, Cantagalo, Duas Barras, Sumidouro, Carmo, Macuco, Trajano de Moraes, Santa Maria Madalena, São Sebastião do Alto, Casimiro de Abreu, Cachoeiras de Macacu, alguns tantos distritos espalhados por esse mundão afora. Para tanto, será necessário garimpar nesses municípios, através dos centros de documentação histórica, arquivos públicos, cartórios de registro (notas, imóveis e civil), arquivos eclesiásticos e mesmo nos arquivos privados, à cata de seus conteúdos, classificando-os segundo critérios e normas previamente adotadas, para, no fim de tudo, organizar um guia que estará disponível em formato de livro impresso, bem como em formato de livro eletrônico ou, ainda, consultado diretamente no website da Fundação D. João VI de Nova Friburgo e do Inepac.
Infelizmente, no Brasil, quando o assunto em pauta é “preservação documental”, muito ainda temos para aprender. A maior prova disso está na constatação do reduzido número de Arquivos Públicos existentes em todo o país. Penso que não mais de uma dúzia dentre os 5 mil e tantos municípios brasileiros. Falta de interesse de nossos governantes, somente? Creio que não. Preservar documentos antigos, cuidar da história familiar, não é um hábito usual entre nós. Há muito venho catalogando as consultas que são enviadas para a caixa-postal eletrônica do Arquivo Pró-Memória. A cada 10 consultas, 8 estão relacionadas à genealogia. No âmbito familiar é muito difícil preservar além de duas gerações e, inevitavelmente, informações preciosas irão se perder. Se antes o suporte resumia-se apenas ao papel, hoje são os negativos, acetatos de todos os tipos, as gravações em VHS, áudios em fitas magnéticas, uma variedade incrível de diferentes suportes, que dificultam, ainda mais, o trabalho de preservação. Assim, passam-se os anos, e lá se vai a nossa história pelo bueiro. Milhares de registros guardados em algum lugar não muito apropriado, de um cartório qualquer, em uma cidadezinha do interior. Inúmeros registros de batismo, anteriores a existência dos cartórios, anotados em um livro velho e rasgado, incapaz de resistir ao tempo, numa salinha escura e úmida, nos fundos de uma capela. Dos registros de sepultamento nem é bom lembrar! Sem falar daqueles que são removidos (às vezes subtraídos de um conjunto documental) e levados para depósito em uma instituição de renome qualquer, onde, tratados como mais um item apenas, ficarão esquecidos para sempre nas prateleiras das estantes. O mesmo acontece nos arquivos do judiciário, nas câmaras municipais, nas prefeituras, e eis aí, pintado de preto no branco, a realidade brasileira dos nossos acervos.
Então, na contramão de tudo isso, da mesma forma, eis aí a motivação maior para o nosso propósito: confeccionar o Guia do Patrimônio Documental dos Sertões do Macacu, confirmando, através dessa iniciativa, o protagonismo que a Fundação D. João VI de Nova Friburgo pode exercer no campo da promoção do patrimônio documental fluminense.
A propósito, na sexta-feira passada, dia 16, no Palácio do Governador, em Laranjeiras, aconteceu o encontro do Conearq (Conselho Estadual de Arquivos). A convite do presidente do Conselho, lá estava a Fundação D. João VI de Nova Friburgo, representada pela pesquisadora Maria Ana Quaglino, responsável pelo projeto do guia patrimonial, e sua auxiliar Maria Aline Baloneccker da Cunha, para falar das atividades da fundação e, em especial, do pioneirismo do projeto em curso.
Vamos em frente!
Nelson A. Bohrer (Guguti)
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