Dalva Ventura
Acordar cedo, se produzir, deixar a rotina da casa organizada antes de sair para o trabalho. Nenhuma novidade para quem é mulher nos dias de hoje. Mas nesta quinta-feira, 8 de março, algumas destas mulheres saíram da cama ainda mais cedo. O motivo? Participar de um café da manhã especial, em sua homenagem, marcado para 7h30, preparado pelo Rotary Clube Suspiro.
Depois de composta a mesa, o médico José Antônio Verbicário Carim abriu a seção com a leitura de um artigo de autoria da escritora Martha Medeiros que destaca o papel da mulher na sociedade atual. O texto aborda as diferentes visões que um homem e uma mulher têm do que vem a ser “um mulherão”. Nada a ver com o tamanho dos seios, das pernas ou o volume dos lábios, como pensam alguns homens.
Como diz a autora, “mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar. Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista”. E por aí segue o texto—brilhante, por sinal—, publicado numa de suas últimas colunas em O Globo.
A cerimônia propriamente dita seguiu com a presidente do Rotary, Claudia Quintanilha, que apresentou a convidada do dia, a titular da Delegacia da Mulher (Deam), doutora Grace Arruda. Ela falou sobre o trabalho que vem desenvolvendo à frente da unidade e a realidade da mulher no município.
A delegada destacou que a violência contra a mulher em Nova Friburgo é grande e subnotificada, isto é, a maioria dos casos sequer chega ao conhecimento das autoridades. Grace participou ativamente do movimento para a instalação da Deam no município, que antes não dispunha de um local onde as mulheres agredidas ou ameaçadas se sentissem acolhidas, bem-tratadas, respeitadas. Até então, as poucas que se dispunham a procurar a delegacia em busca de socorro, por vezes, ouviam até piadinhas de mau gosto e acusações veladas, como se, de alguma forma, fossem culpadas pela agressão.
As decisões da delegada nem sempre agradam as mulheres que chegam a procurar ajuda. Até porque sua cabeça é um turbilhão de emoções muito contraditórias. “Ela quer deixar de ser ofendida, agredida, ameaçada, sim. Mas também não quer que o homem dela seja preso”, afirma Grace. Outras tentam exigir a aplicação de medidas mais duras, embora a delegada, com seu faro apurado, perceba que o homem em questão não merece ir para a prisão por um momento de desatino.
São muitas, portanto, as nuances a serem levadas em conta na hora de agir. E nossa delegada, com sua firmeza e sua doçura, é dotada de uma sensibilidade especial para distinguir uma coisa da outra. “Nós estamos lá para fazer um trabalho técnico, no rigor da lei, mas com muito amor e calor humano”.
Sem querer dar um tom pessimista à sua fala, mas constatar uma realidade, Grace Arruda afirma que ali, na linha de frente, tem observado que, infelizmente, as mulheres estão muito mal. Com a autoestima em baixa. Sentem-se envergonhadas. Sobrecarregadas. Inseguras. Com seus lares desestruturados.
“E nós, que estamos aqui, podemos contribuir para mudar esta situação, podemos interferir diretamente na sociedade. Como dizia Salomão, a mulher sábia edifica sua casa. Depende de nós. Para tanto, precisamos de sabedoria. Na delegacia eu preciso de sabedoria para lidar com cada situação e na vida familiar também é assim.
Ela concluiu sua fala enfatizando que a Lei Maria da Penha deve estar incluída nos currículos escolares—como, aliás, está previsto em um de seus artigos. Quem sabe, Nova Friburgo poderia ser pioneira nisso. Antes, destacou que o município já é dotado de uma boa rede de apoio, com diversas entidades voltadas para a proteção da mulher.
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