Começa hoje a maior festa popular do país

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
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Maluco Beleza abre o carnaval com o enredo “Gentileza Gera Gentileza”

Dalva Ventura

Quando o Bloco Maluco Beleza entra na avenida na sexta-feira de carnaval, dando início à folia friburguense, a alegria irradiante de seus integrantes logo se faz sentir. Dali por diante, não há quem fique parado ou deixe de acompanhar o bloco, integrado por internos, médicos e funcionários da Casa de Saúde Santa Lúcia.

Há 17 anos a turma aguarda este momento, na maior ansiedade. À medida que o carnaval vai se aproximando, o entusiasmo cresce e vai tomando conta dos corredores e do pátio da clínica. Na quinta-feira, 9, foi realizado o ensaio geral e uma bateria, de cerca de cem pessoas, esquentou os tamborins ao som do samba deste ano, “Gentileza Gera Gentileza”. A turma parecia animadíssima e a chuva fina que caía em Mury parecia não esfriar nem um pouco os ânimos.

O enredo foi uma sacada de mestre. A ideia dos organizadores do bloco foi passar para o povo friburguense um pouco das mensagens de carinho, amor e gentileza do Profeta Gentileza, que circulava pelas ruas do Rio de Janeiro nas décadas de 60 e 70.

O povo friburguense ainda está muito sofrido e entristecido com tudo o que sofreu em janeiro do ano passado. O trauma foi muito grande e isso ainda vai custar a passar. Precisa muito de afagos e esta é a proposta do Maluco Beleza: desarmar os ânimos e os espíritos com sorrisos, com alegria. Para tanto, além do desfile em si, os pacientes estarão distribuindo flores ao público.

Este ano, o Maluco Beleza sairá com cerca de 40 integrantes. Todos eles, internos da clínica que se encontram bem, isto é, capazes de sair à rua sem correrem riscos. Mais que alegrar a população, o objetivo dos desfiles do Santa Lúcia é terapêutico e certamente faz um bem enorme aos pacientes. É só prestar atenção à fisionomia dos malucos beleza durante o desfile.

Oziel vai ser o Gentileza. Sua túnica branca—com a imagem de São Jorge e algumas frases escritas pelo profeta nos muros e viadutos do Rio de Janeiro—já ficou pronta para ele desfilar, todo garboso, à frente do bloco. Elvira, a eterna porta-estandarte do Maluco Beleza, está na maior empolgação. Ela é, literalmente, uma figura. No dia do desfile, ela se arruma com o maior esmero, capricha no blush, na sombra e no batom e quando pisa na avenida, seus olhos brilham. Dá para perceber que ela está se sentindo no melhor dos mundos. Quer coisa melhor? O passista Elcio é outro destaque do Maluco Beleza. Durante o desfile, ele mostra que tem muito samba no pé e, se bobear, acaba roubando a cena com seus trejeitos e seu sapateado.

A concentração está marcada para as 16h30, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, e as camisetas podem ser adquiridas no stand do bloco, na mesma praça, no Bar Bolero, na Rua Dante Laginestra, ou ainda na própria Clínica Santa Lúcia. Logo depois do Maluco Beleza, desfilam o Bloco das Piranhas e a Banda da Predial Primus, outras duas instituições do carnaval friburguense.

Quem foi o Profeta Gentileza

Desde a infância José Datrino demonstrava ter um comportamento, no mínimo, atípico. Quando o Gran Circo Norte-Americano se incendiou, nas vésperas de Natal, matando mais de 500 pessoas, em sua maioria, crianças, ele partiu para Niterói e ali passou a plantar flores no local que se transformou em cinzas após o incêndio. Seis dias depois, ele acordou alegando ter ouvido “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual.

Durante anos, esta foi sua moradia, mas ao contrário do que reza a lenda popular, Gentileza afirmava não ter perdido ninguém no incêndio. Durante anos, ele fez pregações nas barcas Rio-Niterói, sempre com sua túnica branca. Era também um andarilho e podia ser visto em vários locais da cidade, carregando seus estandartes com mensagens de amor, paz, esperança e respeito ao próximo. E que também ficaram marcadas nas pilastras do Viaduto do Caju.

Abram alas para as Piranhas!

Flávia Namen

O que começou como uma brincadeira em família para animar o carnaval friburguense no final dos anos 70, hoje arrasta uma multidão de foliões pelas ruas do centro da cidade. A Banda da Predial Primus, popularmente conhecida como Bloco das Piranhas, já é uma tradição em Nova Friburgo e tem como marca registrada a alegria, a irreverência e o divertido visual de seus integrantes, que capricham na produção. A maioria não abre mão da forte maquiagem e de usar coloridas perucas, roupas femininas e muitos acessórios.

Fundada em 1979 pelo empresário Sílvio Ruiz Galvez, a banda surgiu com o intuito de resgatar a animação dos antigos carnavais. “Desde criança saía nos blocos de sujo que animavam as ruas da cidade. Depois me mudei para o Rio e quando voltei a morar em Friburgo achei que o carnaval de rua estava muito desanimado. Decidi então contratar alguns músicos e montar uma banda para animar a folia. Na época os rapazes que se fantasiavam de mulher se juntaram à banda, que acabou se popularizando como Bloco das Piranhas”, explica Sílvio, que se declara um apaixonado pelo carnaval.

A despretensiosa banda acabou conquistando gerações de foliões e é hoje o destaque da programação de abertura do carnaval friburguense. “Muitos foliões começaram a sair na banda ainda pequenos e hoje brincam ao lado de suas mulheres e filhos”, destaca Sílvio, que costuma desfilar acompanhado da esposa Maria José e de sua numerosa família. O mais novo membro, o bisnetinho Lucas, ainda não é presença confirmada este ano. “Minha neta está receosa de levá-lo porque acha que ele ainda está muito pequeno, mas nós estamos na expectativa”, brinca o vovô folião Sílvio.

Visual colorido e descontração garantem o sucesso do desfile

O clima de descontração da banda começa ainda na concentração, que costuma agitar as dependências da imobiliária Predial Primus, no Centro. Lá as piranhas se preparam para fazer bonito na avenida. “As esposas e namoradas ajudam a arrumar e a maquiar a turma que já começa a se divertir ali”, diz Sílvio. Ele destaca que o capricho no visual é apenas um dos ingredientes do sucesso do bloco, que tem até samba próprio (ver box). “Pedi ao Ângelo Gil, que já compôs vários sambas, inclusive de escolas do Rio, para criar as marchinhas da banda e do bloco. Além delas, também desfilamos ao som de sucessos dos antigos carnavais”, observa Sílvio.

Outro requisito fundamental para garantir a animação do bloco é a espontaneidade. Por conta disso, Sílvio faz um apelo à Secretaria de Turismo: “Peço que não tentem colocar ordem no desfile, como fizeram em anos anteriores. Isso acaba tirando a graça do carnaval de rua. Outra coisa que nos prejudica é o sistema de som da avenida, que se mistura à música da banda e confunde os foliões e o público que o assiste. Poderiam utilizá-lo apenas para dar avisos de utilidade pública enquanto desfilamos”, reivindica ele.

Aos 77 anos e com muita disposição para brincar o carnaval, Sílvio aproveita para convidar toda a comunidade para conferir o desfile da próxima sexta, 17. A concentração será a partir das 18h, em frente à Predial Primus, com saída prevista para a avenida às 19h30. Um dos diferenciais ficará por conta da camiseta, da cor rosa-choque, que será usada pelos integrantes da banda. Outro destaque promete ser a tradicional irreverência que marca a passagem dos foliões. “Esperamos repetir o sucesso dos anos anteriores, reunindo famílias e os amantes do carnaval. Conheço muita gente que vai para a Região dos Lagos nesta época, mas só viaja depois da passagem do nosso bloco”, conclui Sílvio.

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