Com o plenário da Câmara de Nova Friburgo repleto pela presença de dezenas de alunos e ex-alunos, professores e representantes da sociedade civil organizada, a audiência pública proposta e comandada pelo vereador Marcelo Verly para debater o destino da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia (FFSD), na noite desta quarta-feira, 8, transcorreu num misto de preocupação e esperança. Preocupação pelo que será definido concretamente como solução para que a FFSD não encerre suas atividades e esperança de que, a partir da mobilização da sociedade friburguense, a instituição com mais de 50 anos de atividades ininterruptas possa continuar formando os professores da região com a mesma qualidade pela qual se notabilizou ao longo do tempo.
Ao abrir os trabalhos da audiência pública, o vereador Marcelo Verly leu ofício do deputado federal Glauber justificando sua ausência por estar na Câmara dos Deputados em Brasília. A seguir, falou sobre a necessidade de se buscar a melhor solução para a Faculdade, que passa também pelo critério da agilidade, pois quanto mais tempo levar para a efetivação de uma solução, mais difícil será a manutenção das atividades da instituição. Verly afirmou que, independente da solução efetivada, o Poder Público municipal não pode se omitir nem deixar de apoiar e participar, uma opinião comungada por vários participantes da audiência. Destacou mais uma vez a viabilidade de o município assumir a Faculdade, através dos recursos da Secretaria de Educação, proposta que lançou no fim de 2011 ao participar da cerimônia do abraço simbólico à FFSD.
Compuseram a mesa principal a diretora do Instituto Superior de Educação da FFSD, professora Selma Ferro; a subsecretária pedagógica da Secretaria de Educação, Margarida Santana, representando o secretário Ricardo Lengruber; o professor Sidney Moura, do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe); e o aluno Pedro Monnerat, presidente do diretório Mário Prata.
Selma Ferro explicou que a Congregação das Irmãs de Santa Dorotéia não tinha mais condições de continuar sendo a mantenedora da FFSD e lamentava que não tivesse sido dado mais tempo para que se buscasse uma solução, embora a congregação tenha assumido o compromisso de formar os alunos matriculados. Mas informou também que o nome Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia acabaria quando o grupo interessado assumisse.
Pedro Monnerat destacou a importância da participação de todos, pois embora os atuais alunos estejam “garantidos”, é fundamental a permanência das atividades da FFSD, pois trata-se de uma referência não só na região, mas também no país. Segundo o presidente do diretório, os alunos estão do lado de quem se interessar em resolver a situação, seja através da municipalização, federalização ou de outra forma.
Sidney Moura se mostrou emocionado ao falar da Faculdade, que o acolheu muito bem na época da ditadura quando foi perseguido politicamente. “O fim da FFSD abre uma lacuna”, declarou o professor explicando que seria uma cicatriz que talvez fique para sempre e defendeu a participação efetiva do poder público na solução. Reforçando o discurso do vereador Marcelo Verly, Sidney Moura afirmou que, pelos números divulgados, é possível o município assumir a FFSD. “Nós, do Sepe, estaremos empenhados em salvar a Faculdade Santa Dorotéia. Mas precisamos ter pressão e mobilização para fazer alguma proposta andar”, concluiu.
A subsecretária Margarida Santana disse que o secretário Ricardo Lengruber estava pessoalmente empenhado, desde o início, em ajudar a resolver o impasse que se criou, com o risco de se interromper as atividades da Faculdade. “O objetivo é de se chegar a um bom termo”, falou a subsecretária que informou estar na audiência como ouvinte para levar ao secretário todas as informações levantadas durante a audiência pública.
Outras autoridades compuseram o plenário: o professor Ricardo da Gama Rosa Costa, o Rico; a professora Aneli, representando o Conselho Municipal de Educação; o coordenador da Ucam, Juca Berbert; o professor João Raimundo; a professora Jean Beatriz; e os vereadores Edson Flávio, Cláudio Damião e Pierre Moraes. Além de recordarem bons momentos vividos na FFSD e destacar a importância da manutenção das atividades da Faculdade, a maioria dos presentes convergiu para a solução de absorção da instituição pelo Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca), o que representaria a federalização da Santa Dorotéia. Embora não houvesse representante do Cefet na audiência pública, foi colocado pelo professor Rico e vereador Pierre que há real interesse em concretizar a encampação da FFSD, sendo que os professores teriam que fazer concurso público para poder continuar ministrando aulas na nova faculdade, o que foi considerado como uma dificuldade que necessitaria de outros debates específicos, caso a proposta avance.
O representante da Ucam, Juca Berbert, informou que a universidade também mostrou interesse em assumir os cursos da FFSD, mas que a negociação não havia prosperado em função da falta de retorno da instituição, mas que parabenizava a iniciativa do vereador Marcelo Verly, e que a Ucam continuava de portas abertas para a FFSD.
O professor João Raimundo lembrou que a Santa Dorotéia não era apenas uma instituição de ensino, mas o maior centro de atividades culturais de Nova Friburgo e que o fechamento da Faculdade iria contribuir para o empobrecimento cultural da cidade, pois a instituição sempre teve respeito pela diversidade, fosse cultural, religiosa ou política.
Alunos e ex-alunos presentes também tiveram a oportunidade de discursar e manifestaram suas preocupações e desejos.
Encerando a audiência pública, Marcelo Verly lamentou a ausência de pelo menos um representante do Cefet, o que teria enriquecido o debate e certamente traria esclarecimentos e informações sobre a evolução da negociação para a federalização da instituição. Verly reconheceu a convergência dos presentes em relação à federalização, mas lembrou que não era prudente que houvesse apenas uma possibilidade de solução, pois quando atuou para a vinda do Cefet para Nova Friburgo, foram necessários cinco anos para sua efetivação, tempo este que a FFSD não dispunha, e que isso traria sérias consequências na formação de profissionais da educação, cuja carência existe tanto nas redes públicas de ensino como na particular. Marcelo Verly destacou também que a mobilização deveria continuar firme, permitindo a participação dos profissionais e alunos em cada fase do possível processo de federalização. Verly, professor universitário, defendeu mais uma vez a tese da municipalização, e que o Cefet, embora seja uma instituição reconhecida por sua qualidade, não iria se “sujeitar” às questões locais e que, por isso, a municipalização poderia ser uma saída melhor e mais rápida para a Faculdade. Entretanto, se colocou à disposição para “caminhar junto na direção da alternativa de federalização, mas que não se descarte a municipalização, caso a primeira não vingue”, concluiu.
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