Dalva Ventura
O escândalo que envolveu o rompimento das próteses mamárias produzidas pela marca francesa PIP (Poly Implants Protheses) e a holandesa Rofil, já saiu das manchetes, mas continua gerando polêmica e muita preocupação. Não, não há motivos para pânico, garantem os médicos, e o cirurgião plástico Richard Robadey assina embaixo. No entanto, ele reconhece que a questão ainda precisa ser mais e melhor explicada. Até porque, depois do que aconteceu, toda mulher que colocou próteses, num ou noutro momento de suas vidas, passou a se preocupar com este assunto.
Por isso mesmo, desde que o escândalo veio à tona, os cirurgiões plásticos não estão dando conta de atender às centenas de pacientes que utilizam próteses. A VOZ DA SERRA ouviu o respeitado cirurgião plástico Richard Robadey, que já começou sua entrevista afirmando que nunca utilizou estas marcas. “No entanto, esses implantes da PIP e da Rofil estão no mercado há muito tempo e, imagino, nem todos foram fraudados.”
Entretanto, declara, “essa questão atual carece de muita explicação”. Até agora, o que se sabe é que na fabricação das próteses da PIP e da Rofil foi identificado o uso de silicone de qualidade inferior àquele autorizado para uso médico. Os órgãos de controle franceses notaram, em testes, que a resistência dos tais implantes podia estar comprometida. Em outras palavras: as próteses destas marcas apresentavam maior possibilidade de ruptura que as demais existentes no mercado.
Pessoalmente, Richard nunca aplicou próteses da PIP e da Rofil em suas pacientes, mas pode garantir que nem todas são de má qualidade. “Não se pode esquecer que houve um boicote, uma fraude industrial”, destaca. Além disso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica está solicitando um relicenciamento dos implantes junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com a realização de novos testes.
Richard Robadey faz questão de destacar que os implantes de silicone são bastante seguros e que, em qualquer parte do mundo—incluindo o Brasil—há um controle rigoroso na sua fabricação. “Todo material de uso médico precisa ter um certificado de qualidade internacional para ser distribuído, comercializado, importado e exportado.” No Brasil, este controle é feito pela Anvisa, que trata a questão com muita seriedade. Além disso, contamos com a Comissão de Implantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, formada por renomados cirurgiões, engenheiros e biólogos, que acompanham atentamente toda a dinâmica envolvendo o uso destes dispositivos.
Ressalte-se que toda tecnologia nova passa pelo crivo destas comissões e qualquer problema é minuciosamente analisado, provocando um alerta mundial. Com isso, afirma Richard, os cirurgiões têm a certeza de estar utilizando produtos com alto nível de confiabilidade.
Os implantes mamários foram criados há mais de 40 anos, com o objetivo de reparar mamas após mastectomias. Aos poucos, eles foram aprimorados para sua utilização com fins estéticos. Vale lembrar que o silicone dos implantes atuais é mais coeso e este é envolvido por mais camadas. Tais características diminuem as chances de ruptura e, consequentemente, os efeitos locais deste problema, caso ele ocorra.
Mas, insiste o médico, já foram realizados vários testes em humanos e mesmo quando o silicone se rompe não foi comprovado nenhum efeito nocivo ao organismo. O máximo que pode acontecer é irritação local, restrita ao espaço criado para a colocação do implante. Por esse motivo, diz, quando ocorre uma ruptura, a prótese tem que ser substituída. Mas, atenção: mesmo quando isso acontece, não há motivos para pânico nem correria. A cirurgia pode ser programada com calma sem que a paciente corra qualquer risco.
Apesar das próteses de silicone serem seguras é preciso enfatizar que assim como os demais procedimentos operatórios, a colocação de implantes deste material não deve ser banalizada. O cirurgião Richard Robadey insiste na necessidade de o médico transmitir todas as informações sobre a cirurgia a seu paciente, desde o planejamento até a recuperação completa. Só depois disso, diz, a pessoa tem condições de optar ou não por realizar o procedimento.
Segundo Richard, existe um nítido descompasso entre as informações que são veiculadas nos meios de comunicação científicos e leigos. Na literatura médica, diz, não há um consenso sobre a validade dos implantes, até porque existem tipos, marcas, materiais e modos de fabricação diferentes. Além disso, são aplicados em populações distintas e por cirurgiões que também se valem de técnicas diversas para a cirurgia.
Como exemplo, ele cita estudos feitos nos Estados Unidos em grande número de pacientes analisando implantes de conteúdo salino (soro fisiológico) e não com gel de silicone. Isso porque após longos anos sob suspeita de provocar câncer, os implantes com gel de silicone estavam proibidos naquele país e só há pouco tempo receberam autorização para voltar a ser utilizados. Enquanto isso, outros países da América, Europa e Ásia sempre o utilizaram amplamente.
Como Richard Robadey já abordou, quando o gel de silicone se rompe e entra em contato com os tecidos que circundam o implante, estes se contraem, gerando dor e deformação da mama. Ele insiste, porém, que em nenhum dos vários e grandes estudos realizados esses problemas foram relacionados com o surgimento de câncer de mama. Ele cita também os trabalhos feitos com pacientes que colocaram próteses há duas ou três décadas, quando o índice de ruptura aumentava muito, à medida que se aproximavam dos 15 anos. Por isso mesmo, acredita, algumas correntes começaram a propagar a necessidade de substituir os implantes após dez anos de sua implantação.
Atualmente, porém, garante, o material utilizado na nova geração de próteses melhorou muito. Estas passaram a ser envolvidas por oito camadas e o gel no seu interior tornou-se mais coeso, diminuindo as complicações. Ou seja, se por algum motivo o envoltório se romper, o gel não escapa facilmente do interior do implante. E mais, já existe tecnologia para rastrear adequadamente os implantes que podem ter se rompido.
Revisão anual das próteses é fundamental
Mesmo quando está tudo bem, é indispensável passar por exames de avaliação. Quando um dispositivo médico é introduzido no organismo, lembra o médico, seja ele de qualquer natureza, “há um padrão peculiar de convivência com os tecidos vivos envolvidos”. Apesar de bem-tolerados, os implantes sofrem um desgaste que varia muito de pessoa a pessoa.
“Mal comparando, quando procuramos o dentista por causa de uma cárie, pode ser necessário colocar um acabamento para restaurar a área lesada, fazendo uma obturação. Depois disso, temos de retornar em intervalos regulares para avaliar o estado de toda a dentição, inclusive do dente tratado. Algumas pessoas, com sorte, permanecem décadas sem ter de refazer a obturação. Com os implantes mamários acontece a mesma coisa. Estes requerem avaliação, que é feita normalmente pelos ginecologistas durante as consultas anuais de rotina. Atualmente, recomenda-se também a realização de uma Ressonância Nuclear Magnética a cada dois ou três anos, que oferece uma qualidade de imagem mais nítida.”
Quanto ao fato de muitas mulheres só procurarem o médico quando surge algum problema, Robadey é otimista. Em sua opinião, o paciente bem-informado por cirurgiões cada vez mais treinados e a própria informação que chega mais rapidamente pelas variadas mídias têm mudado essa realidade.
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