“Todo mundo deve recuperar o seu pedaço. Nova Friburgo só tem a ganhar”

quarta-feira, 01 de fevereiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
“Todo mundo deve recuperar o seu pedaço. Nova Friburgo só tem a ganhar”
“Todo mundo deve recuperar o seu pedaço. Nova Friburgo só tem a ganhar”

Henrique Amorim

Naquele fatídico 12 de janeiro do ano passado, após constatar a danificação completa de sua oficina mecânica especializada em retífica de caixas de marcha—onde a enchente do Rio Bengalas atingiu quase dois metros de altura e deixou toneladas de lama—o empresário friburguense Silas Pinheiro, 53 anos, foi tentado por uma das filhas a deixar tudo para trás e ir embora do município. Porém, desde o primeiro momento, ele foi enfático e determinado: “Não! Vamos unir forças para reconstruir!” Essa foi a resposta de Silas, logo posta em prática mesmo diante do desânimo natural para quem viu toda uma história de vida e trabalho levada pelas águas deixando ainda um prejuízo superior a R$ 250 mil e 16 carros—a maioria de clientes—totalmente destruídos. E Silas não se arrepende. Em 72 dias, a oficina reabriu as portas no mesmo endereço onde se mantém há 15 anos, na Avenida Hans Gaiser, bem em frente ao Bengalas.

Hoje o empresário comemora a retomada da clientela (são cerca de 20 automóveis por semana)junto com a mulher, Maria José, as filhas Vivian e Mabele—e os genros Gabriel e Diego, que se unem todos os dias aos funcionários numa harmoniosa família na oficina. Silas agora investe em precauções antienchentes. A comporta de um metro de altura na porta de entrada já não é mais suficiente. O jeito, então, é mudar hábitos. Cauteloso, o empresário agora não permite mais o pernoite de carros de clientes na oficina em épocas de chuvas fortes. Só ficam ali os veículos que podem ter o serviço mecânico concluído em um dia. Caso contrário, são abrigados em outro local à noite. Isso até ele adquirir mais quatro elevadores para manter os veículos suspensos a dois metros de altura. Outros dois já estão funcionando.

O empresário também investiu na recuperação do espaço alugado e atualmente refaz a rede de esgotos ainda entupida pela lama. “Só consegui refazer tudo isso graças à fé em Deus e à liberação de financiamentos do governo federal. Isso porque mantenho os impostos em dia, o que muito facilitou o acesso ao crédito”, salienta Silas, observando que muitos empresários de maior porte não conseguiram a liberação total dos financiamentos devido à inadimplência com o fisco.

“Nasci aqui, já trabalhei no Rio e em São Paulo e sempre tive saudade da minha terra natal. Aqui conheço muita gente pelo nome, sou bem-recebido na casa de muitos. Não existe lugar igual a Nova Friburgo, mas falta a muitos friburguenses mais amor a cidade. Se cada um fizer a sua parte, recuperar o seu pedaço, reconstruindo sua calçada, pintando o muro, Nova Friburgo só tem a ganhar. Não temos que ficar esperando tudo do governo”, diz Silas, um verdadeiro exemplo de superação. Aliás, restaurar já faz parte de sua vida. Há 12 anos, após uma crise no casamento com Maria José, o casal se separou e um ano e meio depois reconstruiu a relação.

Evangélico, membro da igreja Comunidade Cristã, Silas impressiona também por dar oportunidades de regeneração e de “volta por cima” aos funcionários de sua oficina. “Já empreguei assaltantes, assassinos e traficantes que, após cumprirem penas, precisavam de uma segunda chance e todos que passaram por aqui se regeneraram e hoje são homens de bem e trabalham honestamente”, diz ele satisfeito e ávido por um mundo melhor. “Cabe a cada um de nós fazer algo para mudarmos o mundo”, resume.

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