Cuidado para não pisar!

quarta-feira, 01 de fevereiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Cuidado para não pisar!
Cuidado para não pisar!

Dalva Ventura

O que antes era um problema típico das grandes cidades brasileiras já chegou a Nova Friburgo. É preciso prestar a maior atenção ao andar pelas calçadas, principalmente nas ruas do Centro, desviando dos incômodos montinhos deixados pelos cães. Qualquer descuido e pronto, você pisa num cocô de cachorro, algo no mínimo, muito desagradável.

Os cães de rua devem ter sua parcela de responsabilidade, mas, verdade seja dita, eles não são os principais culpados pelo problema. Até porque Nova Friburgo sempre teve cães sem dono perambulando por aí e nem por isso nossas ruas tinham tanto cocô de cachorro como agora.

A realidade é que os maiores responsáveis pelo cocô nas ruas são mesmo os donos de cães, que levam seus bichinhos para passear e fazer suas necessidades. Nova Friburgo deixou de ser uma cidade onde todo mundo morava em casas. A quantidade de pessoas morando em apartamentos cresce a cada dia. Então, acontece o óbvio. Se antes os cães sujavam o quintal e o jardim, hoje eles passaram a sujar as ruas. Azar o nosso, isto é, de quem não tem nada com isso e é obrigado a andar pelas calçadas desviando de cocô de cachorro.

As primeiras horas da manhã—aliás, logo depois que as calçadas do centro são varridas—e o fim da tarde, ao entardecer, são os horários preferidos para levar os cães para passear. Quem dispõe de um pouco mais de tempo estica a caminhada até a pracinha mais próxima e solta os cachorros para que eles sintam o doce prazer da liberdade. Resultado: estes lugares que deveriam ser bucólicos e bonitos, também ficam sujos.

Donos de cães não estão nem aí

Vale lembrar que o recolhimento das fezes, além de ser uma questão de educação, é importante para a saúde pública. As fezes de animais podem transmitir zoonoses (doenças transmitidas dos animais para os humanos e vice-versa), como a toxoplasmose, o bicho-geográfico e a giárdia. No entanto, a maioria dos proprietários de cães parece não se preocupar com o fato de deixar em plena rua o cocô de seu querido bichinho.

Se alguém vier a pisá-lo, sujando seus sapatos e, eventualmente, o piso do carro ou de casa, bem, parece que este problema não lhe diz respeito. Sem um pingo de constrangimento, aguardam o “melhor amigo do homem” terminar de fazer seu cocô e seguem adiante, como se aquilo não tivesse nada a ver com eles, como se as vias públicas fossem banheiros de animais.

Alguns talvez se lembrem de um quadro apresentado por Regina Casé no programa Fantástico, da TV Globo, no qual ela flagrou diversos donos de cães andando solenemente pela rua logo depois que eles fizeram suas necessidades. Com seu jeito descontraído, a atriz e, no caso, apresentadora, passava a maior descompostura na pessoa, que ficava morrendo de vergonha, é claro, prometendo mudar de comportamento dali por diante.

Raros, muito raros, agem como Maria, dona de um lindo cãozinho poodle, que só leva seu cachorro para passear munida de pelo menos dois sacos plásticos. Um para servir de luva na hora de recolher o cocô e o outro, para recolhê-lo, depositando-o, a seguir, na lixeira mais próxima. Simples, não é? Nos países civilizados, é assim que as pessoas agem.

“Algumas pessoas até estranham quando veem que estou fazendo isso, cheguei a receber parabéns por estar fazendo algo que todos deveriam fazer”, diz. “Sempre agi deste jeito e acho um absurdo, uma cara de pau, alguém deixar a sujeira de seu cão na rua”, continua. De qualquer forma, um bom exemplo vale ouro. Maria já observou que algumas pessoas com quem está sempre cruzando na rua passaram a imitá-la e agora estão levando seus saquinhos.

Infelizmente, a maioria desconhece ou ignora uma regra básica de civilidade como esta. Em certos países, o proprietário do cão paga multas pesadas se for pego em flagrante. Aqui, não temos nem placas ou campanhas alertando os donos de cães a serem mais educados. Enquanto isso...

Na tarde de quarta-feira, um senhor sai com seus dois cãezinhos da raça shitsu pela Avenida Comte Bittencourt e não demora para que os bichinhos, primeiro um, depois outro, escolham um local perfeito para fazer seu cocô. Bem no meio da calçada. Quem passar por ali tem que, literalmente, pular o cocô ou um grande buraco ali existente para seguir adiante. A duas quadras, dois cães da raça boxer, presos na coleira pelo dono, fazem o mesmo. Acontece a mesma coisa. Depois que os cachorros fazem suas necessidades fisiológicas, o dono segue adiante, na maior.

Quer mais? Em plena Alberto Braune, sob os olhares de dezenas de pessoas, um rapaz caminha com um enorme Rottweiler. O cão cheira aqui e ali, levanta a pata algumas vezes e faz xixi em todo poste que encontra até que, enfim, encontra o lugar certo para fazer seu cocô. Não era bem no meio da calçada, mas quase. O dono aguarda, na maior calma, que ele termine e depois segue adiante. Como se tal comportamento fosse normal.

Um cão para cada seis habitantes

Não temos estatísticas locais, mas segundo dados da Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Companhia), hoje há no Brasil um cão domesticado para seis habitantes. Atualmente, os (raros) proprietários de cães que recolhem as fezes de seus animais quando levam os mesmos às ruas, contam com alguns produtos interessantes para recolhê-los de uma forma ecologicamente adequada. Nas pet shops podem ser encontrados sacos biodegradáveis em embalagens fáceis de carregar e até kits, que incluem uma pá para recolhê-los. Um item importante, pois a utilização de sacos plásticos gera um sério problema urbano, aumentando sobremodo o lixo não reciclável, que se acumula nos aterros, entope bueiros e contamina os rios.

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