O talento e a garra de Edson Barboza

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
O talento e a garra de Edson Barboza
O talento e a garra de Edson Barboza

Leonardo Lima

Juninho: orgulho do ciclismo brasileiro. Sim, esta poderia ser a manchete dos jornais desta semana, em todo o país. Campeão de torneios de BMX e Dirty Jumping, o friburguense exibia para o mundo não só o talento, mas também o imenso prazer que sentia ao andar sobre duas rodas. “Sinceramente, eu era um dos melhores ciclistas da região. Para falar a verdade minha grande paixão quando adolescente era a bicicleta”, afirma Juninho, hoje conhecido mundialmente como Edson Barboza—uma das maiores revelações do MMA e dono do “maior nocaute da história do UFC”. “Mas eu me machucava muito andando de bicicleta. Chegou um momento em que tive de optar por um esporte e escolhi me dedicar mais ao muay thai”, relembra.

Há três anos morando nos Estados Unidos, mais precisamente na cidade de Jupiter, Flórida, o lutador revela que a saudade de casa é grande, mas o esforço é necessário se quiser seguir carreira nas artes marciais. “Lá, os lutadores são muito melhor remunerados. Aqui eu tive que dar aulas particulares de muay thai para poder participar das competições, pois não conseguia apoio”, conta Edson.

Sua trajetória no mundo das lutas foi iniciada aos oito anos de idade, com o mestre Márcio Monnerat. “Treinava taekwondo e muay thai com o Márcio. Mais tarde, quando o Anderson França [seu atual treinador] montou sua academia, fui treinar com ele”, declara. Anderson França, aliás, é apontado por Juninho como o seu melhor espelho. “Eu o via treinando e pensava: quero lutar igual a ele um dia. Sou muito grato a todos os ensinamentos que ele me passou”, diz, orgulhoso. E se engana quem pensa que o sucesso de Edson Barboza é algo novo. Na internet, podem ser revistas algumas reportagens da Rede Globo, na década de 90, destacando o surgimento de uma nova estrela das artes marciais em Nova Friburgo. Um garoto franzino e dedicado conhecido como Edson Mendes (seu outro sobrenome).

Franzino, porém, é um termo que não se aplica mais ao lutador. Com um porte físico de dar inveja a muitos outros atletas, Edson revela que não tem dificuldade em perder, por exemplo, 13 quilos, às vésperas de seus combates. “Eu peso mais ou menos 83 quilos, normalmente. Mas na pesagem, geralmente dois dias antes da luta, tenho que estar com 70 (peso limite da categoria dos leves). Daquele momento até o dia da luta me submeto a uma reidratação. Até hoje não tive problemas com a balança”, garante Edson, que não esconde que, assim como qualquer outra pessoa, gosta de “comer muitas besteiras”.

Há alguns anos ele assistia pela TV às lutas dos maiores nomes do MMA. Hoje ele se vê ao lado de muitos daqueles ídolos. “Sempre admirei muito o Wanderlei Silva e o Rodrigo Minotauro. Cheguei a ficar um tempo em sua casa no Rio de Janeiro”, conta. Dono do “maior nocaute da história do UFC” (segundo o próprio presidente da organização, Dana White) após o chute rodado sobre o inglês Terry Etim, no UFC 142, realizado no sábado passado, dia 14, o friburguense observa o aumento das especulações sobre uma possível disputa de cinturão dos leves, que atualmente pertence ao americano Frank Edgar. “Eu tento não pensar muito no cinturão. Não sei se é cedo para isso. Deus é quem vai me mostrar a hora certa. Ele vai me dar essa oportunidade e tenho que estar preparado para agarrá-la”, confia.

Sua trajetória e o próximo objetivo

Com um currículo de dez vitórias em dez lutas no MMA, sendo sete por nocaute e uma por finalização, Edson se tornou uma verdadeira celebridade no país, depois do triunfo do último fim de semana. “Eu estava muito confiante. Pelo que falaram meus treinadores, eu havia vencido o primeiro e o segundo round, portanto, estava bastante tranquilo no terceiro. Poderia ter administrado a luta para ter vencido na decisão dos juízes, mas sentia que eu ia encaixar um golpe e nocauteá-lo. Felizmente foi o que aconteceu”. Como recompensa pela sua ousadia, Edson foi premiado como melhor nocaute e melhor luta da noite (pela terceira vez seguida), recebendo uma bonificação extra de cerca de US$130 mil. Além disso, ele provou que superou, mais uma vez, qualquer pressão que poderia existir por lutar no Brasil.

Emoção parecida o lutador parece ter sentido apenas quando soube que ingressaria na principal liga de MMA do mundo. “Eu estava apenas começando nessa modalidade. Na minha segunda luta disputei o cinturão do RFC, que é uma das maiores portas de entrada para o UFC, contra um lutador que já tinha experiência de mais de 30 combates. Nocauteei meu adversário no segundo round. Mais tarde ganhei o cinturão do Ring of Combat e quando estava me preparando para defendê-lo meu empresário me disse que eu não lutaria mais nessa liga. Fiquei desesperado querendo saber o motivo e ele me disse que a partir dali eu estaria no UFC. Não consegui acreditar”, conta, entre risos.

Pausa, que o assunto agora é bem pessoal. Grande parte de seu sucesso, Edson Barboza credita à sua esposa—e assessora—Bruna, com quem vive há sete anos. “Eu costumo brincar que ela é meu braço direito, meu braço esquerdo, minhas pernas. Se não fosse ela eu não estaria onde estou hoje. Ela sempre me apoiou muito”, declara. Filhos? “Ainda não, mas quem sabe em 2012 a gente não encomenda um”, adianta, fazendo graça.

Mas o assunto fica sério quando ele relembra a tragédia que Nova Friburgo enfrentou. “Foi muito difícil para mim também. Não estava aqui e não conseguia falar com ninguém, com nenhum parente, nenhum amigo. A mídia nos Estados Unidos é muito fechada, ‘para dentro’, não costuma falar do que está acontecendo em outros países e isso dificultou ainda mais as coisas. Fiquei abalado e não conseguia treinar. Minha sorte é que não tinha nenhuma luta agendada. Minha família é grande, mas graças a Deus não aconteceu nada de mais grave”, relata.

Torcedor do Botafogo, Edson parece ter encontrado outro clube que dividiu seu coração. “Sou apaixonado pelo Miami Heat [time de basquete da NBA]. Já vi até jogos no ginásio deles. Quando tenho um tempo livre, ou estou vendo um jogo do Fogão ou assistindo uma partida do Miami”, diverte-se. Sobre como é a vida na cidade de Jupiter, ele explica que o local é conhecido por ter como moradores muitos milionários, o que faz com que o custo de vida seja elevado.

Enquanto não retoma a dura rotina de treinos, ele aproveita para curtir seus dias de folga junto a pessoas queridas, como familiares e amigos, em sua cidade natal. “Completo 26 anos neste sábado e depois de alguns anos vou poder comemorar meu aniversário com minha família”, vibra.

Com um jeito simples, o lutador Edson Barboza mostra que a fama não anulou o antigo Juninho. “O importante é não desistir dos seus sonhos. Muitos falaram que eu não ia chegar onde cheguei, mas cheguei. Sempre fui um sonhador e ainda tenho muita coisa para realizar na minha vida. E tenho certeza de que Deus vai continuar me ajudando. É muito bom fazer aquilo que eu amo e ainda ganhar dinheiro com isso”, avalia.

Sobre sua próxima luta no UFC, ele revela que ainda não há nenhuma previsão. Seu próximo objetivo, entretanto, já está traçado. “Jupiter tem a melhor pista de street do estado da Flórida e certamente assim que voltar para lá vou comprar uma bicicleta”, garante o ciclista Edson Barboza, ou, simplesmente, Juninho.

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