Dona Lalá, a Mamãe Noel cozinheira

Dalva Ventura

Há sete anos, a cozinheira Aracy dos Santos Costa, ou melhor, Dona Lalá, como é conhecida, e o marido, José Antônio, faziam a felicidade das crianças do Alto da Saibreira, em Campo do Coelho, no dia de Natal. Zé se vestia de Papai Noel e os dois saíam pelas redondezas distribuindo os brinquedos, roupas, sapatos, doces e balas que Dona Lalá ia arrecadando durante o ano. Uma festa bonita de dar gosto.

Mas, na vida, nem tudo é festa. Seu José, que fazia aniversário no dia de Natal, morreu há alguns meses e Dona Lalá, ainda muito entristecida, este ano resolveu adiar a festa de Natal. O Papai Noel de Campo do Coelho só vai passar no dia 22 de janeiro, data escolhida por ela para homenagear São Sebastião, seu santo de devoção. O dia dele, na verdade, é 20, mas como vai cair numa sexta-feira, ela preferiu fazer no domingo.

Mesmo com toda a saudade que sente do marido, Dona Lalá nunca perdeu o sorriso que ilumina seu rosto e sequer cogitou em deixar de ser a Mamãe Noel do lugar onde mora. Principalmente num ano em que os moradores da localidade sofreram tanto com a tragédia de janeiro. “Já consegui uma pessoa para ser o novo Papai Noel e estou carregada de brinquedos que as pessoas me deram. Como sempre faço, vou comprar uns doces, fazer bolo e sucos. Pronto. Está feita a festa”, afirma Dona Lalá, que há 16 anos enfrenta uma dura jornada à beira do fogão, de segunda a sábado, num restaurante da Ponte da Saudade.

Dar brinquedos para as crianças pobres no dia de Natal foi uma promessa feita pela sogra de Dona Lalá quando o filho era pequeno e esteve gravemente doente. “Como o Zé nasceu no dia de Natal, ela prometeu que, se ele ficasse bom, quando crescesse seria Papai Noel”, conta. Só que a sogra morreu e coube a Dona Lalá ajudar o marido a pagar a promessa feita pela mãe. E assim foi durante todos esses anos.

“Essa festa é a maior felicidade do mundo para mim. Quando ela termina, me sinto realizada. Se tivesse três Natais por ano seria ótimo”, afirma, provando que solidariedade depende mais de amor do que de condição financeira.