Henrique Amorim
A 15 minutos a pé do Centro, o bairro Vila Nova era um belo recanto para se viver. Mesmo próximo ao barulhento eixo rodoviário, a qualidade de vida sempre foi motivo de orgulho para seus moradores, muitos deles nascidos e criados ali. Mas, depois da tragédia de janeiro, o que se vê na Vila Nova hoje, infelizmente, é só destruição. Ao longo da Rua Prudente de Moraes, várias casas do lado ímpar foram interditadas pela Defesa Civil devido a diversos deslizamentos de encostas. Na servidão 95, por exemplo, todas as casas estão desocupadas e marcadas para demolição. Algumas, inclusive, parcialmente destruídas por grandes quantidades de terra e entulho carreados do alto da encosta. Perto dali, onde existia uma vila com cinco casas se vê agora um amontoado de terra. Tudo foi engolido por uma imensa avalanche.
“Por sorte os moradores saíram dali assim que ouviram um estalo forte na montanha. Um foi gritando pelo outro e implorando para saírem com a roupa que estavam”, diz Maria do Carmo Mangia, 78 anos, que mora em frente à antiga vila de casas, e garante não ter medo que um novo deslizamento no local possa atingir seu imóvel. “Deus me protege. Das enchentes também não tenho medo, pois um muro nos fundos da minha casa e na divisa com o Sesc impede que a água chegue até aqui”, garante ela.
Opinião contrária tem a cabeleireira Lilá, que trabalha na Rua Prudente de Moraes há pelo menos dez anos. “Infelizmente a Vila Nova virou um local de medo. Muitos moradores tiveram suas casas interditadas, outros foram embora temendo serem atingidos por deslizamentos. O prédio 105, por exemplo, não foi interditado, mas todos os apartamentos estão vazios. Quando começa a chover, corro para casa. Temo ficar aqui”, conta ela, apontando ainda para outro exemplo de abandono: o terreno de uma extinta serralheria, que figura hoje como um criadouro do mosquito transmissor da dengue devido às enormes poças de água de chuva. No local até máquinas utilizadas em frentes de emergência no pós-tragédia ainda se encontram abandonadas.
No acesso à antiga Fundação Getúlio Vargas, mais destruição
Na Rua Alberto Rangel, a ladeira de acesso ao imponente casarão amarelo da antiga Fundação Getúlio Vargas, atual polo desativado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o panorama também é desolador. Pelo caminho, enormes encostas deslizaram e permanecem cobertas por plásticos pretos que dão a dimensão dos estragos da tempestade de 12 de janeiro ao longo da via, que está interrompida logo após a esquina com a Rua Gabriel Rastrelli. Ao longo da ladeira, diversas casas também estão vazias, algumas interditadas e uma só certeza: “Temos que sair daqui o mais rápido possível. A Defesa Civil nos procurou para comunicar oficialmente que todo esse entorno é uma área vermelha, de alto risco de deslizamentos”, lamenta o casal Elizabeth Rastrelli e Ocenir Munhé, que vivem no local há 35 anos, na casa que construíram juntos na Rua Gabriel Rastrelli. O local é o atual acesso improvisado à antiga Fundação com percurso difícil de aproximadamente um quilômetro sem pavimentação e com muita lama.
“É muito triste ter que deixar todo um sonho e uma vida para trás. É um lugar muito bom, pertinho do Centro e com toda a tranquilidade e a natureza de um bairro afastado. Enquanto não encontramos um lugar para ir, o jeito é ficar aqui e correr para a escola (Colégio Municipal Odette Penna Muniz), que é o ponto de apoio do bairro em caso de emergências”, completa Ocenir.
No condomínio Park Ville, muitos moradores também estão apreensivos. Uma obra de contenção de encostas com bases de concreto foi feita no topo de uma encosta na Rua Alberto Rangel, para evitar que a água da chuva transforme-se numa cascata de forte intensidade, como acontece hoje nas proximidades da antiga Fundação Getúlio Vargas.
“Infelizmente parte do bairro tende a ficar completamente abandonada devido às interdições e aos riscos de novos deslizamentos. Temo que a Vila Nova, um bairro de tantas e bonitas histórias de vida, como a do saudoso Chico Faria (fundador da Stam Metalúrgica), que nasceu aqui, torne-se apenas um lugar de passagem”, lamentou um morador, que optou por passar o verão na casa de familiares em Niterói. “Toda vez que chove forte minha pressão sobe e passo mal. Nem mesmo ter os quartéis do Corpo de Bombeiros e da PM no bairro significa que estamos totalmente seguros. As montanhas são uma ameaça constante. O pior é que as obras de contenção aqui são caras e difíceis”, diz.
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