Henrique Amorim
Uma viagem ao passado. Quem teve a oportunidade de prestigiar mais uma edição do projeto “Quartas na História”, promovido mensalmente pelo movimento Nova Friburgo 200 anos na noite da última quarta-feira, 9, no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), pôde não apenas se informar e conhecer um pouco da realidade socioeconômica e cultural de Nova Friburgo e do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, como também imaginar como era a vida e os costumes da sociedade naquela época, considerada como “de ouro” para a economia friburguense. Quem comandou esta viagem foi a professora, escritora e pesquisadora Janaína Botelho, também colunista de A VOZ DA SERRA, onde publica uma série de artigos sobre os costumes da velha Nova Friburgo. Desta vez, durante pouco mais de uma hora, Janaína narrou costumes e situações pitorescas enfrentadas no período batizado por ela como a “Belle Époque” de Nova Friburgo, dando título à palestra. Tudo fruto de mais de sete anos de pesquisas aprofundadas de Janaína sobre a história e o comportamento social observado na Suíça Brasileira que começou a partir de uma tese de mestrado sobre a história do município.
“Naquela época a minha orientadora na faculdade, a professora Mary Del Priori, também achou a história daqui (de Nova Friburgo) tão interessante que me incentivou a ir mais a fundo, e aí me apaixonei de verdade”, conta Janaína, que admite fazer uma viagem no tempo toda vez que se propõe a contar um pouco dessa rica história econômica e cultural de Nova Friburgo não só através dos livros de sua autoria—“O cotidiano de Nova Friburgo no século XIX” e o mais recente, “Histórias e memórias de Nova Friburgo”, lançado há quase dois meses—mas também em suas palestras. Na última delas, no “Quartas na História”, Janaína narrou episódios instigantes da simbiose histórica de Nova Friburgo com o Rio de Janeiro nos idos de 1871 a 1914, em plena 1ª Guerra Mundial.
Um Rio de Janeiro bonito por natureza, mas que não atraía turistas devido à sujeira e desorganização
Janaína Botelho recordou na última palestra que a segunda metade do século XIX foi considerada a época de ouro do ocidente com expansão dos bulevares, cafés e valorização das artes na Europa. “Era um período de plena efervescência cultural que só foi quebrado com a guerra. Tinha grande apreço naquela época à fotografia, o cinema, a ciência, mas aqui no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, esse glamour ao qual desfrutava a alta sociedade enfrentou uma grande barreira. A hoje Cidade Maravilhosa era insalubre e suja”, observa a pesquisadora.
Ela conta ainda a cidade do Rio de Janeiro chegava até mesmo a cheirar mal por conta dos despejos de dejetos domésticos nas calçadas e ruas pelos escravos todo fim de tarde após a limpeza das casas dos patrões. A promiscuidade e a total falta de higiene desencadearam doenças e pestes afugentando a elite que buscou na tranquilidade e no clima ameno de Nova Friburgo o seu refúgio. Com isso, a sociedade que buscava aqui o tratamento de doenças devido à calmaria e ao instituto hidroterápico criado pelo médico Carlos Éboli, onde hoje é o Colégio Nossa Senhora das Dores, passou a basear-se na serra por longas temporadas de verão que duravam até seis meses. Por conta da epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro, dois filhos do imperador Pedro II morreram.
“Com isso, Nova Friburgo passou a ter diversificadas opções culturais com óperas e festivais que vinham para cá em detrimento do Rio, já que era na serra que se refugiava a elite europeizada da época, que tentava seguir no Brasil o modelo de vida francês. Foi o período áureo do antigo Teatro Dona Eugênia, referência cultural friburguense, que sediou diversos espetáculos em francês”, observa Janaína lembrando que o Rio começou a reagir com a decisão drástica do então prefeito Pereira Passos que pôs fim aos cortiços do Centro da hoje capital fluminense e removeu 26 mil pessoas que, sem opção de moradia, começaram a ocupar os morros dando origens às favelas. Naquela época também criou-se Avenida Central (hoje Rio Branco) e outras largas no Centro do Rio aos moldes da urbanização francesa.
“Com essa reação carioca e a influência do sanitarista Oswaldo Cruz no combate a epidemias, Nova Friburgo começa a ser prejudicada turisticamente, pois o Rio passa a atrair visitantes e os próprios moradores que até então ainda não haviam despertado para as praias. Os banhos de mar só começaram a ser difundidos depois quando os médicos começaram a anunciar que a prática era saudável”, comenta Janaína, satisfeita com o interesse que as histórias despertam no público.
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