Criança fica livre de um sopro no coração sem necessidade de cirurgia de grande porte

terça-feira, 27 de maio de 2008
por Jornal A Voz da Serra
Criança fica livre de um sopro no coração sem necessidade de cirurgia de grande porte
Criança fica livre de um sopro no coração sem necessidade de cirurgia de grande porte

A mãe de Jhonathan Sander Trindade, de 12 anos, está rindo à toa. Graças a uma intervenção realizada no dia 13 de abril, no Hospital São Lucas, e ao convênio mantido com a Unimed, seu filho ficou livre de um sopro no coração sem ter que fazer uma cirurgia de grande porte, a partir de apenas um pequeno corte na virilha. “Ele ficou só um dia no hospital e não precisou nem levar pontos”, disse. Cidinéia Sander, que trabalha como doméstica, viveu dias terríveis desde que descobriu, num check-up de rotina, que Jhonathan tinha um sopro no coração. Ele sempre foi muito saudável, nunca sentiu nada de diferente, nem dor nem falta de ar, mas um belo dia, quando o garoto resolveu fazer futebol infantil e natação no Sesc, o médico que o examinou deu o sinal de alerta e o encaminhou a um especialista.

Procurada, a cardiologista infantil Marilda Gonzalez pediu outros exames e avisou que Jhonathan provavelmente teria que colocar uma prótese no Rio de Janeiro ou, se fosse o caso, fazer uma cirurgia convencional em Nova Friburgo mesmo, para corrigir o problema. “Fiquei apavorada, como qualquer mãe ficaria”, conta. “Estas coisas que mexem com o coração sempre deixam a gente nervosa, quanto mais que o pai dele morreu do coração aos 31 anos”, diz.

Cidinéia não pensou duas vezes. Já tinha ouvido falar na excelência do serviço de cardiologia do Hospital São Lucas e entrou em contato com o médico Gustavo Ventura e sua equipe. Na verdade, não havia motivos para tanto nervosismo e preocupação, pois hoje em dia é possível corrigir o tal sopro – cujo nome científico é “persistência do canal arterial” – através de um procedimento que, apesar de bastante sofisticado e só realizado nos grandes centros, pode ser considerado relativamente simples.

Como associado da Unimed, Jhonathan se beneficiou do convênio com o GS e pôde fazer a intervenção aqui mesmo em Nova Friburgo. A cirurgia, que durou cerca de 40 minutos, foi realizada com enorme sucesso pelo doutor Waldir Malheiros, chefe do setor de Hemodinâmica do Hospital São Lucas, com supervisão da doutora Claudia Almeida, especializada em hemodinâmica pediátrica, que se somou à equipe do São Lucas para tratar das crianças portadoras de doenças cardíacas.

Por enquanto estão sendo atendidos apenas os convênios de saúde disponíveis no Hospital São Lucas, como o GS e a Unimed, mas, a partir deste caso, a direção do hospital entrou em entendimentos com o governo municipal, objetivando proporcionar este benefício a outros pequenos pacientes, através do SUS. Com isso, quem não tem cobertura de um convênio não precisará mais se deslocar para um grande centro e entrar numa fila de espera de cerca de cinco anos para se submeter a esta intervenção.

Uma das formas mais comuns de cardiopatia congênita

Segundo dados do Ministério da Saúde, de três milhões de crianças que nascem por ano no Brasil, mais de 20 mil têm algum tipo de cardiopatia congênita, sendo que a persistência do canal arterial (PCA) é uma das mais comuns. Ano passado, pouco mais de oito mil crianças conseguiram ser operadas.

Segundo o médico Waldir Malheiros, o problema pode ser causado por diversos fatores, entre os quais, o uso de certos medicamentos durante a gravidez e determinadas doenças maternas. “Muitas vezes não se consegue identificar a causa do distúrbio”, declara. O que ocorre é o seguinte: quando a criança está na fase intra-uterina, toda a sua oxigenação chega através da mãe. Seus pulmões passam a funcionar no momento do nascimento. Quando o bebê começa a chorar, a oxigenação que necessita passa a ser própria”, explica.

Nos primeiros dias de vida, o canal que fazia a ligação entre as duas circulações – a da mãe e a do bebê – deve se fechar naturalmente. A partir daí, a circulação passa a ser como a do adulto. Só que nem sempre isso acontece. Por algum motivo, como o uso de alguma medicação ou determinadas doenças durante a gestação (ou até sem uma causa definida), o canal arterial permanece aberto. Neste caso, o bebê, ao nascer, apresenta um sopro no coração, que o pediatra observa ao auscultar seu coraçãozinho. O sopro é o sinal visível de que as duas circulações (aorta e pulmonar) estão em comunicação permanente, o que pode acarretar diversas complicações, como endocardite, hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca.

O diagnóstico é realizado inicialmente pelo pediatra, a partir de um sopro característico, contínuo. Dependendo da intensidade deste sopro, a criança é encaminhada ao cardiologista para realização de exames complementares. “Claro que este canal pode ser grande ou não. Se for pequeno, como era o caso do Jhonathan, a criança evolui normalmente, ganha peso, estuda, não apresenta nenhum atraso em seu desenvolvimento, embora continue com o sopro. Noutras, o canal é tão grande, que a criança tem que ser operada ainda no primeiro ano de vida”, afirma o médico.

Mesmo quando o sopro é pequeno, deve ser corrigido antes da criança atingir a idade adulta. “Há pessoas de até 60 anos com persistência de canal arterial, mas ela pode apresentar problemas, como aumento da pressão na artéria pulmonar, o que ocasionará uma cirurgia mais complexa. O tratamento é, necessariamente, cirúrgico, cabendo ao médico definir o momento certo de realizar a operação”, explica.

Atualmente, a intervenção é feita por via percutânea, ou seja, através de uma pequena punção na virilha. “Introduzimos um tubo da espessura de uma carga de caneta, isto é, um cateter, e fixamos uma mola (coil), que obstruirá a passagem do sangue e levará ao completo fechamento do canal, curando a doença em definitivo. O sopro desaparece instantaneamente”, esclarece doutor Waldir.

A cirurgia (se é que se pode chamar assim) leva cerca de 40 minutos e a criança não precisa levar nenhum ponto. Sai do hospital apenas com um curativo. São apenas 24 horas de internação hospitalar – 12 horas no CTI e 12 horas no apartamento – e a recuperação em casa é super-rápida. “Se quiser, no dia seguinte a criança já pode voltar para a escola”, garante o médico.

Claro que a intervenção envolve uma equipe multidisciplinar. “A criança e a família têm que passar por uma avaliação psicológica, pois tudo que envolve o coração mexe muito com o emocional das pessoas. A equipe de enfermagem também precisa estar preparada para lidar com este tipo de doente”, acredita.

Por mais que o procedimento seja simples, exige anestesia geral e, embora esta complicação seja rara, a mola pode se soltar na circulação no momento em que é introduzida. Neste caso, terá que ser captada pela equipe da cirurgia cardíaca e, por isso mesmo, esta precisa ficar de prontidão, acompanhando o cateterismo. Além disso, durante o período de hospitalização, o paciente tem que ficar com a perna imobilizada. Nada demais, porém, se comparado à cirurgia convencional, que envolvia a abertura do tórax, uma permanência na CTI de cerca de dois dias, a colocação de um dreno e uma internação hospitalar de cinco a sete dias. Como era preciso abrir o tórax, havia um risco maior de infecções e complicações. Sem falar na cicatriz no peito.

No Brasil a intervenção percutânea começou a ser aplicada para corrigir a persistência do canal arterial há cerca de dez anos e apenas nos grandes centros, isto é, São Paulo e Rio de Janeiro. O Hospital São Lucas foi o primeiro da região a aplicar esta modalidade terapêutica, com resultados excelentes. A recuperação de Jhonathan tem sido maravilhosa, garante sua mãe. O sopro desapareceu instantaneamente. Na semana seguinte ele já voltou a estudar e em dois meses poderá praticar esportes. No mais, ficará em observação durante seis meses, “por precaução”, mas mesmo antes disso poderá levar uma vida normal.

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