Morre d. Clemente Isnard, 1º bispo de Nova Friburgo

sexta-feira, 26 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Morre d. Clemente Isnard, 1º bispo de Nova Friburgo
Morre d. Clemente Isnard, 1º bispo de Nova Friburgo

D. CLEMENTE JOSÉ CARLOS ISNARD

* 16/08/1917 + 24/08/2011

Faleceu no início da noite da última quarta-feira, 24, em Olinda (PE), o primeiro bispo da Diocese de Nova Friburgo, d. Clemente José Carlos Isnard, o mais querido e amado de Nova Friburgo.

Ele nasceu no Rio de Janeiro, na Rua Paissandu, em 8 de julho de 1917. Terceiro filho, teve uma irmã e um irmão, tendo sido concebido cinco anos após o último. Sua mãe à época tinha 40 anos, seu pai era comerciante de automóveis na Rua Sete de Setembro. Ainda na árvore genealógica da família Dom Clemente é neto de imigrante francês, chegado ao país em circunstâncias estranhas. Seu avô viajou brigado com a família de Toulouse, sul da França, tendo de lá embarcado para a Austrália, pois seu pai tinha se casado pela segunda vez e ele não aceitava aquela união.

Filho de Ernesto Isnard e Zulmira de Gouveia Isnard, d. Clemente foi ordenado sacerdote em 19 de dezembro de 1942, nomeado bispo em 23 de abril de 1960, sagrado em 25 de julho de 1960. Em 26 de março de 1960 o papa João XXIII criou a Diocese de Nova Friburgo, através da bula “Quandoquidem Verbis” desmembrada das dioceses de Campos e Valença, sendo núncio apostólico da época dom Armando Lombardi. Um mês depois, d. Clemente foi nomeado primeiro bispo da Diocese e tomou posse em 25 de agosto de 1960, adotando como lema “Te Pastorem Sequens”, que traduzido para o português significa “Seguindo-te como Pastor”.

Sua passagem pela Diocese foi das mais profícuas, pois organizou as pastorais, criou dezenas de paróquias, constituiu milhares de amigos nos 19 municípios e transformou a Diocese em exemplo para o Estado do Rio de Janeiro.

Escreveu vários livros e foi empossado membro da Academia Friburguense de Letras e fundador da Associação Friburguense de Imprensa. Um dos principais escritos de sua autoria foi Magistério Episcopal (edição da Diocese), com artigos da REB em Grande Sinal.

No início de seus estudos d. Clemente teve um professor particular. Apesar de sua mãe ter cogitado a hipótese de colocá-lo no Colégio Santo Inácio, seu professor foi Ernane Reis, um notável que também lecionou para as famílias Guinle e Paula Machado. Com alguns de seus poucos professores católicos, como Alcebíades Delamare, e amigos que frequentavam as mesmas aulas, como Francisco Augusto de La Roque, que chegou a reunir outros alunos também católicos, criou um outro centro de estudos religiosos, porém, a maior paixão de dom Clemente era realmente a Ação Universitária Católica, na Praça XV.

Teve a honra de ser amigo dos principais nomes da política e dos meios social e cultural do país, como Alceu de Amoroso Lima, Senador Vergueiro, Lurdinha—neta do Conde Paes Leme—, Carlos Lacerda, o poeta Raul de Leoni Ramos, Jayme Ovale e muitos outros.

Ele viajou quase o mundo inteiro pregando o Evangelho de Cristo e se notabilizando por suas opiniões sobre política, cultura, religião e outros assuntos. Foi, e ainda é, a maior autoridade em liturgia religiosa, pois seus escritos ainda estão à disposição de todas as pessoas que se interessarem. Exerceu o cargo de vice-presidente da CNBB por vários mandatos; foi coordenador nacional de Liturgia; vice-presidente do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), e conviveu com quatro diferentes papas—Paulo VI, João XXIII, João Paulo I e João Paulo II. Tinha o carinho de todos eles e constantemente era chamado ao Vaticano para reuniões de importância da religião católica. Foi um dos poucos bispos brasileiros a ter importância no Concílio Vaticano II e nas reuniões especiais de Medelin e Puebla, escrevendo, inclusive, documentos importantes sobre os dois grandes eventos da década de 70. D. Clemente foi ainda membro do Conselho Nacional de Cultura, em 1961, e membro do Conselho Estadual de Educação de 1961 a 1964.

Em sua passagem pela Diocese, organizou as pastorais, criou dezenas de paróquias, constituiu milhares de amigos em todos os 19 municípios e transformou a Diocese em exemplo para todo o Estado do Rio de Janeiro. Era sócio número 078 da Associação Friburguense de Imprensa (AFI) e Academia Friburguense de Letras (AFL).

Governou os católicos de Nova Friburgo por 33 anos, de 1960 a 1994, quando foi sucedido por d. Alano Maria Pena. Quando deixou a Diocese foi vigário geral da Diocese de Duque de Caxias. Criou o próprio clero, trouxe padres espanhóis e italianos para a Diocese, que foram de fundamental importância para o desenvolvimento pastoral. É tido como o Pastor de todos os momentos, pois tinha sempre uma palavra de carinho para todos que o procuravam. Sua voz serena e seu estilo calmo, típico de monge beneditino, o consagraram como um bispo confidente e aconselhador. Mesmo quando tinha que chamar a atenção de alguém, d. Clemente jamais alterava a voz. Organizou o Seminário Diocesano, que funcionou em Lumiar, depois Prado, e que hoje está num moderno espaço, de característica suíça, no Tingly, do qual participou da inauguração em 19 de agosto de 2006.

Após deixar a Diocese, doou todos os seus paramentos ao museu diocesano. Retornou mais dez vezes, numa delas, em 2004, para celebrar uma missa de pedido de perdão aos padres Antonio Manguti, José Suarez e Fernando Rojo Hernandes, em virtude dos acontecimentos lamentáveis de 1985, que culminaram com o afastamento dos três religiosos da Diocese. Ano passado presidiu sua missa de Jubileu de Ouro Episcopal, celebrada na Catedral São João Batista, que recebeu lotação máxima.

Exercia muita influência sobre os principais dirigentes da cidade, a ponto de ter sempre o carinho de todos eles, seja qual fosse o partido, cor da camisa, agremiação política, cargo ou função. Dom Clemente era sempre procurado para aconselhar na hora de uma decisão importante. Se antes de encerrar seu episcopado em Nova Friburgo tinha sempre a agenda cheia com pregações de retiros, palestras, conferências, encontros e outras atividades no Brasil inteiro, quando saiu este quadro não mudou e até há pouco tempo o bispo tido como o mais querido pelos fiéis tinha uma agenda bastante lotada.

No ano de 2004 teve sua vida contada no livro Na porta do Mosteiro, escrito pelo professor Alexandre Gazé, e em 2008 publicou o livro Reflexões de um bispo, falando sobre as instituições eclesiásticas atuais. Nos últimos anos estava vivendo em Olinda (PE), ao lado do amigo e padre José Romero de Freitas e o arcebispo de Olinda e Recife, d. Fernando Favorito (OSB).

Seu corpo foi velado no Mosteiro de São Bento de Olinda (PE), onde, às 17h de ontem, 25, foi celebrada missa de corpo presente e ocorreu o sepultamento, às 18h, no próprio Mosteiro de São Bento de Olinda.

Vá em paz, querido amigo

Como uma notícia pode ser tão demolidora, de efeitos inesperados, tanto quanto notícias esperadas, quer pelas circunstâncias quer pelo óbvio do acontecimento. Fato é que a notícia tem o gosto da surpresa amarga, triste e esperada.

Morre Dom Clemente Isnard. Conforme entrava na sala de trabalho da Pró-Reitoria da UCAM, em Niterói, já ia recebendo a notícia da Vanessa: “Professor, Dom Clemente morreu”.

Dom Clemente Isnard, aos 94 anos, resolveu, com o aval de “papai do céu”, iniciar sua nova trajetória, rumo a sua casa eterna.

Já lá se vão mais de 30 anos; acho que foi na década de 80 que conheci esse extraordinário religioso, esse homem que pôde conservar, ao longo dos tempos, o carisma e a perseverança daqueles que não se deixam quedar pelas dificuldades, atento aos acontecimentos de seu tempo, buscando sempre a solução dos problemas dos mais aflitos, dos mais carentes, dos mais pobres e necessitados.

Estava a serviço de Deus, a quem jurou fé e lealdade, e se tornou ao longo dos tempos um importante personagem da Igreja Católica no Brasil e no mundo.

Nascido em 8 de julho de 1917, na Rua Paissandu, no Rio de Janeiro, Dom Clemente Isnard foi diretor geral da Faculdade Candido Mendes de Nova Friburgo e bispo diocesano por mais de trinta anos na região.

Sua palavra amiga, acolhedora e incentivadora vai nos fazer falta. Apesar de seus 94 anos, ainda possuía tempo e paciência para tratar de assuntos que lhe parecessem importantes. Vai nos fazer muita falta.

Com a morte de Dom Clemente Isnard, se encerra um ciclo de um trabalho fecundo desse extraordinário Bispo da Igreja Católica Brasileira, Dom Clemente Isnard, ou, simplesmente, Dom Clemente.

Com sua bênção.

Vá em Paz, querido Amigo!

Alexandre Gazé

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