A tendência para uma profunda, urgente, revisão nas empresas familiares é mundial; é intensa devido à brutal competição disparada pela Globalização. As alternativas são nítidas, de extremo: céu (a família trabalha para a empresa), inferno (a empresa trabalha para a família). Sucessão, formato de trabalho, capacidade, remuneração, novos parentes, desemprego, concorrência... Há um emaranhado de fatos a ser destrinchado e ajustado para se dar rumo à empresa familiar.
Segundo o consultor Ivan Lansberg, entre 70 e 85% das empresas no planeta são familiares. No Brasil, pelas estatísticas do Sebrae a porcentagem é de 85%. Conforme apuração do IBGE, 50% do PIB estão concentrados nestas empresas. Dos 300 maiores grupos brasileiros, 265 são familiares. Nos EUA, 110 universidades têm cadeira com graduação em negócios com esta particularidade. Ganham assiduidade eventos que abordam ou que são dirigidos para o tema.
Obrigatoriamente, a família tem que limitar na empresa as interferências de parentes, misturas de ambientes, de assuntos, ranços domésticos e adotar, de forma terminante, um padrão de gestão e profissionalismo. Não é tarefa simples, em especial num país onde a cultura empresarial é baixa e a população é emocional-informal. Pelas próprias raízes, pelo jeito e jeitinho de ser do brasileiro, questões familiares afloram com facilidade até mesmo nos horários exclusivos de trabalho.
Hoje as famílias precisam cortar os efeitos destas raízes, estão sem saída. É inadiável a adaptação dos seus negócios às regras do mercado escritas com a tinta da competição. Não há espaço para todas as empresas e nem para todos os profissionais; negócios e pessoas disputam posições acirradamente; a empresa tem que superar concorrentes pela competência e os parentes necessitam dar segurança às suas vidas dentro das próprias lojas, indústrias ou escritórios. Em síntese, a empresa da família tem que ser também empresa do mercado para a sobrevivência coletiva!
Uma solução é estabelecer um Acordo Empresarial-Familiar para dar sólido destino, para conscientizar, extinguir desgastes familiares que contaminam equipes, clientes e fornecedores. Não adianta resolver relações familiares sem gestão eficiente na empresa, assim como não adianta resolver a gestão sem ajustar relações familiares. O Acordo garante o negócio, previne possíveis discordâncias domésticas, já que inclui definição de metas pessoais e profissionais de cada um, visão e interesse na empresa, formato de trabalho (função, expediente, remuneração, férias...), reuniões vitais e estruturais, sistema de admissão, em suma, o Acordo é personalizado segundo a loja, indústria, escritório ou serviços.
Estatísticas do IBGE revelam que a cada 100 empresas familiares, 30 chegam à 2ª geração e só 5 alcançam a 3ª geração. Não informam como sobreviveram... A complexidade para se manter neste segmento em meio a alta competitividade é que leva instituições empresariais a se dedicarem ao tema.
Se a solução da empresa familiar é motivo de segurança para parentes que já estão no mercado, imagine o que representa para as novas gerações, que chegam espremidas pelo desemprego e angustiante dificuldade para achar horizontes. É enorme a responsabilidade de quem está à frente deste tipo de empresa, uma vez que passa também a ter vínculos com o amanhã dos herdeiros, parentes e de outras pessoas que estão na sua estima e mexem com o seu coração.
José Renato de Miranda é autor dos livros ‘Empresa familiar é sim – um bom negócio!’ e ‘Gestão e Marketing’, cap. esp. Empresa Familiar. Consultor e palestrante da Universidade Corporativa do CDL-Rio-Universidade Cândido Mendes, Sebrae, Escola Nacional de Seguros e Sistema Fecomércio. Sites: www.consultoriadeimpacto.com.br; www.palestrantes.org.
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