Luiz Augusto Queiroz
O outrora tranquilo bairro Tingly, a pouco mais de três quilômetros do Centro, também sofreu com as chuvas de janeiro. Foram nove mortos na tragédia e diversas casas interditadas pela Defesa Civil. Apesar disso, os moradores reconhecem que nos últimos anos o bairro tem recebido melhorias, como iluminação pública e coleta regular de lixo. Como nem tudo são flores, há também problemas, como falta de calçadas de acesso e poucas linhas de ônibus. No bairro também há moradores que deveriam estar recebendo aluguel social, mas que, no entanto, continuam sem poder contar com o benefício.
Logo na subida, na estrada velha do Tingly, é notória a falta de calçadas, o que obriga os moradores a muitas vezes andar pela rua. Os poucos quilômetros de calçada existentes não se encontram em boas condições e em determinados trechos ainda há barro obstruindo a passagem dos transeuntes. Quanto aos ônibus, eles circulam a cada 45 minutos, mas depois da tragédia, a linha parou de subir o Alto Tingly por questões de segurança, o que acabou provocando reclamações dos moradores.
Nos últimos anos o bairro vem recebendo melhorias e os moradores reconhecem isso. A coleta regular de resíduos sólidos passa três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas. Mesmo assim, o repórter fotográfico Leonardo Vellozo registrou caçambas de lixo abarrotadas de resíduos, o que facilita a proliferação de doenças e aumenta o risco de contaminação.
Outra benfeitoria foi a iluminação pública, que há alguns anos ia apenas até a escola. Hoje praticamente toda a localidade é bem iluminada.
Na catástrofe de 12 de janeiro inúmeras famílias sofreram com as fortes chuvas. Ao todo, nove moradores morreram, todos da Rua Asth, e dezenas de casas ao redor da barreira que vitimou as pessoas foram interditadas pela Defesa Civil. Os pais de Marcelo Klein são moradores da Rua Bom. Eles não tiveram a casa condenada, porém, ao lado, uma casa foi obstruída devido à queda de barreira. Segundo Marcelo, seus pais não pretendem sair da casa nesse momento, entretanto, nas próximas chuvas deverão tomar outra iniciativa, pois o risco é grande. “Nossa maior dificuldade aqui é o abandono. Eles (Defesa Civil) simplesmente demoliram uma casa ao lado, mas não removeram o entulho. Ou seja, desde a tragédia ninguém mais apareceu para dar uma explicação de como ficará nossa situação”, relata Marcelo.
A casa interditada vizinha a dos pais de Marcelo pertence à Maria da Conceição Ferraz, moradora do bairro há mais de 40 anos. Dona Conceição, como é conhecida, depois da interdição foi morar com uma das filhas, na mesma rua, e segundo ela ainda não recebeu o aluguel social. Para que dona Conceição possa voltar a morar em sua casa será necessário construir um muro de contenção. A moradora explica que como não tem condições financeiras de arcar com os custos do muro, pretende utilizar o dinheiro do aluguel social e depois voltar a morar na casa. Segundo ela, a engenheira fiscalizou sua casa e garantiu que o único empecilho para voltar a habitá-la é a construção do muro de contenção, pois a casa propriamente dita não representa riscos.
Fora os problemas causados pelas fortes chuvas, também é perceptível a falta de espaços de lazer. O único lugar mais adequado à diversão dos moradores é um campo de futebol de terra batida. Porém, o campo fica ao lado da estrada, o que possibilita grandes riscos às crianças. Vale registrar ainda a poluição do córrego paralelo à estrada de acesso ao bairro, com forte presença de espuma branca na água.
Deixe o seu comentário