Eloir Perdigão
Encostas que precisam de contenção, casas para desabrigados, rios que precisam ser dragados, bueiros entupidos, plano de fuga, abrigos. Sete meses se passaram da tragédia que abalou a cidade em janeiro e a população friburguense está preocupada com o próximo período de chuvas, que não demora a começar. A reportagem de A VOZ DA SERRA foi às ruas para saber o que mais preocupa as pessoas. Confira.
“Na minha casa não há perigo, mas minha preocupação é muito grande com relação às pedras. A questão das pedras esta sendo mais séria do que a questão das encostas propriamente, em vários lugares. As pedras não foram contidas ainda e como as obras serão feitas pelo estado, estão devagar ainda e o período de chuvas está se aproximando, nada foi feito nesses locais. Com chuvas frequentes pode ser que rolem as pedras que estão soltas. Com relação às encostas a gente tem como retirar as pessoas, fazer um trabalho mais intensivo, agora, com as pedras a gente não tem muito controle”.
Waleska da Silva Lemos, 30 anos, servidora pública municipal, Centro
“As encostas. Com qualquer chuva hoje a lama já está caindo, imagine quando chover mais forte. Um exemplo é Duas Pedras, onde com qualquer chuva mais grossa cai a encosta e vai toda para o asfalto. Ali é um ponto de referência entre as cidades de Nova Friburgo e Teresópolis, e se ficar com aquele trecho interditado a ligação das duas cidades vai parar”.
Rita de Cássia Thurler, 40, advogada, Cônego
“Em função dessa situação que nós nos encontramos, a preocupação é que nada foi feito até agora. Infelizmente. Preocupam todas as barreiras, inclusive muitas na dependência de uma chuva mais forte descer e causar tudo de novo”.
Antônio Figueiredo, 78, engenheiro industrial aposentado, Mury
“Eu vou falar pelo que eu tenho ouvido de voz corrente: todos os bueiros de Friburgo entupidos. Então, pelo que eu tenho ouvido falar, que a grande preocupação hoje em Friburgo, entre outras, como as barreiras, é que os bueiros estão todos entupidos e se der uma chuva aí fatalmente vai acontecer aquilo que a gente espera que não aconteça nunca mais. Mas a grande preocupação chama-se bueiros entupidos”.
Carlos Fonseca, 70, advogado, Parque São Clemente
“Que não foi feita nenhuma obra até agora. E onde foi o dinheiro? Onde eu moro, graças a Deus, não aconteceu nada, mas tenho uma amiga que perdeu 17 pessoas da família. E até agora nada, não tem solução de moradia, vive de favor na casa dos outros, além de perder tudo, perdeu a família quase toda, até agora nada, não tem nenhum movimento. Ninguém conseguiu resolver ainda nada com relação às moradias”.
Francis Marta Pereira, 45, professora, Olaria.
“As enxurradas, as encostas que não foram cuidadas, e a tragédia que poderá ocorrer de uma forma muito mais grave. As encostam são o que preocupam mais e precisam de obras de contenção. E tirar o pessoal que continua nas áreas de risco e lhes dar condições de moradia decente. Não se pode nem condená-los. Eles vão para onde? Vão ficar indefinidamente amontoados em casas de parentes? Eles acabam voltando mesmo e a gente há de concordar que não têm outra saída. E é exatamente em cima desse povo que tragédia acontece”.
Derly Pereira Costa, 69, professora, Centro
“O que preocupa é que não fizeram nada até agora. As barreiras, os rios que não foram dragados e qualquer chuvinha vão botar água para fora”.
Luiz Gonzaga Éboli, 65, jornaleiro aposentado, Tiradentes, Amparo
“A Rua Souza Cardoso, na altura do número 175, vai cair mais. A barreira caiu e ninguém fez nada, com medo de que caia mais. E a rua continua fechada. E se vier outra chuva vai tudo para baixo. Atrás da delegacia é outra coisa também, aquelas pedras lá em cima... Está bem difícil. O acesso ali está bem ruim. A obra ali é da Águas de Nova Friburgo. Até então os moradores dali tinham água lá de cima, da cascata. Mas como foi interditado lá, tiveram que colocar água encanada e hidrômetro. A obra que está tendo lá é da concessionária para levar água aos moradores. O córrego está descoberto... As pessoas vivem de promessas mesmo, pois até agora não foi feito nada. A minha preocupação é o bairro Vila Amélia, principalmente a questão da Rua Souza Cardoso. É preciso uma contenção ali, inclusive a barreira atingiu até o Conjunto Bom Pastor, carros e não foi retirada. Continua tudo como estava antes. Tem até uma faixa bem grande alertando para o foco de dengue e ninguém faz nada ou toma uma atitude”.
Marilene da Silva Rozales Neves, 42, autônoma, Vila Amélia
“O que me preocupa é que a terra está muito seca e se chover metade daquilo vai dar um problema danado na cidade. Isto dá medo na gente. Eu vivo apreensivo. Ainda tem barreira para cair. Perto da casa da minha irmã tem uma barreira grande, na Rua Sylvio Henrique Braune, onde já caiu uma ao lado. A minha preocupação são as barreiras, principalmente a da Rua Sylvio Henrique Braune. Eu moro no Cordoeira e dali dá para ver a cidade toda por cima e sei onde está o perigo. Eu fico apreensivo com isto”.
Ney Veloso, 56, músico, Cordoeira
“A minha preocupação nos momentos de chuva é a estratégia de abrigo para as pessoas, pois não há nenhuma logística de informação, o que a Prefeitura está priorizando, áreas e abrigo para as pessoas que estão em áreas de risco. Nós sabemos que muitas das comunidades que estavam em áreas de risco não tiveram acesso ao aluguel social e voltaram para suas antigas moradias que estão penduradas. E quando começar a chover, o que essas pessoas têm de serviço priorizado, de informação da Prefeitura para sobreviver aos momentos de catástrofe? Com relação às chuvas não teremos tempo para construir nenhuma residência. Em seis meses não fizemos nem terraplenagem. O que precisamos neste momento é uma política de conscientização, de informação, estratégia de abrigos para as pessoas que voltaram para suas residências e estão em lugares vulneráveis. Essas pessoas precisam ser orientadas para onde ir e como se portar durante os momentos de chuva”.
Luzia Franco, 60, cientista social e radialista, Braunes.
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