Umberto Peregrino já nos deixou há algum tempo com 92 anos.
Natalense, cantou e descreveu sua terra como poucos. Seu primoroso livro “Crônica de uma cidade chamada Natal” no-lo confirma.
Escreveu muito sobre Euclides da Cunha. Fez trabalho excelente frente à Biblioteca do Exército, a que deu nova dimensão. Na campanha do general Dutra trabalhou como poucos. E neste ponto me detenho. Mau orador, feio como tatu, sem brilho, exceto seus galões e o apoio do Getúlio Vargas, não parecia fácil fazer campanha para o Homem do Livrinho (A Constituição) “Tá no livrinho ... ??? Então eu cumpro!”. Era o seu slogan e a maior parte de sua argumentação. Umberto Peregrino, major, andava pelas feiras, mormente a de São Cristóvão, à procura de cantadores que, sem risco de apanhar, pudessem cantar os feitos e as promessas do General Dutra.
Certo dia, na feira, num bairro distante, Rio de Janeiro, Peregrino encontrou um cantador, são dos olhos, forte, chapéu de couro na cabeça e óculos escuros, soltando a voz numa cantoria, meio sem graça, em que tecia loas ao General Dutra. Peregrino tascou-lhe a pergunta: “Que história de óculos é essa, Azulão? Você não é cego, oxente”.
Veio logo o troco: “Mas seu coroné, é bom se aprevenir por que em cego ninguém bate. E se aparece a tchurma do Brigadeiro, cuma é que fica?”
Essa ouvi do próprio Umberto Peregrino numa Semana de Arte Nordestina, o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, lá por 74, sentado o lado do grande Nunes Pereira, autor de “Moronguetá, um Decameron Indígena”. Peregrino estava perdidamente apaixonado pela literatura de cordel, de que sabia muito, bom poeta que era.
Lembro-me bem que declamou uma louvação à Câmara Cascudo que, outro dia, reencontrei em livro. Imagino que minha amiga Daliana Cascudo, neta de Luis da Camada Cascudo, a queira colocar no blog e no site de Cascudão:
“Louvo em Cascudo as grandezas de minha terra
Louvo a raça rija, louvo os oitenta.
Louvo os braços, louvo o peito, louvo a mente,
Louvo o riso ruidoso,
Louvo o coração bondoso,
Louvo o saber,
Louvo os seus livros,
Louvo o autor, esse danado,
Nas estranjas respeitado,
Louvo o pai, louvo o avô
Louvo o meu antigo professor
Louvo o homem,
Louvo o amigo,
Louvo as vivências que tem,
Como ninguém, desta terra,
E louvo o afeto que seu peito encerra .
Amém.
* 34 anos de jornalismo cultural na Folha do Sudoeste
Mais de 1.650 artigos publicados
Deixe o seu comentário