Em entrevista na última terça-feira, 9, o ex-comandante geral da Polícia Militar do Estado, atual secretário municipal de Ordem Urbana, coronel Hudson de Aguiar Miranda, fala sobre a gestão do órgão e o planejamento para emergências em Nova Friburgo.
COMO O SENHOR VÊ A DEFESA CIVIL DE NOVA FRIBURGO HOJE?
CORONEL HUDSON - Com chances ampliadas de oferecer melhores serviços à população de Nova Friburgo. A chegada do tenente-coronel João Paulo Mori certamente dotará a subsecretaria de empenho e ação, algo que nos faltava até então. Esta foi nossa principal recomendação, aliás, na primeira reunião com o novo subsecretário. É necessário mais ação e menos marketing pessoal.
COMO A DEFESA CIVIL ESTÁ SE PREPARANDO PARA ENFRENTAR O PERÍODO DE CHUVAS QUE SE AVIZINHA?
CORONEL HUDSON - A Defesa Civil veio se tornando uma espécie de caixa-preta na Secretaria de Ordem Urbana. Esperávamos que as informações fluíssem há muito tempo e, estranhamente, só obtínhamos os informes de desempenho “a comando” e esporadicamente. Percebemos que muito se falava e muito pouco se fazia. O plano de emergência, após a catástrofe, praticamente não mudou. Não nos adaptamos à experiência prática, não foram previstas as situações reais pelas quais passamos em um novo planejamento. O tenente-coronel Mori já tem essa atribuição em mãos: construir um plano baseado na realidade que vivemos. Coisas como o uso de caminhões frigoríficos para acondicionar corpos, comunicação de emergência com todos os pontos do município e a própria gestão dos assuntos da Defesa Civil estão sendo levados em conta. Aproveitamos a exoneração do antigo subsecretário para fazer um estudo mais próximo do que foi ou não feito e, em conjunto com os demais subsecretários, propor mudanças no modelo de gestão e na atividade diária da subsecretaria.
E O QUE MUDA?
CORONEL HUDSON - Muda, sobretudo, a presença mais próxima e diária do gestor. Não é possível bem administrar uma subsecretaria tão importante estando presente uma ou duas vezes por semana. Isso é inadmissível. Gestão se faz no dia a dia, construir caminhos para superar as dificuldades leva tempo e esforço dos gestores. Seria ótimo se todas as soluções estivessem ao alcance das mãos, mas quase nunca é assim, tanto na iniciativa privada quanto no governo. Criatividade, empenho, diálogo e capacidade administrativa são itens indispensáveis e, como sabemos, não estão à disposição de todos. Não basta parecer competente, é preciso ser competente.
O QUE O SENHOR ACHA DA SUGESTÃO DE FAZER DA DEFESA CIVIL UMA SECRETARIA INDEPENDENTE DA ORDEM URBANA?
CORONEL HUDSON - Ao contrário do que alguém possa pensar, não tenho absolutamente nenhuma restrição do ponto de vista pessoal. É um órgão técnico, importante nos momentos de crise, desde que esteja devidamente preparado para ela. A aglutinação da Defesa Civil junto a nossa secretaria visa multiplicar esforços, ou seja, viabilizar a possibilidade de fazer mais com menos. Eu explico: tanto na Defesa Civil quanto nas demais áreas, temos recursos limitados, tanto de pessoal quanto materiais. Trabalhando de forma integrada, temos plenas condições de multiplicar nossa força e juntarmos todos os recursos na área que está necessitando de apoio. Trata-se, mais uma vez, de gestão, nada mais. Contudo, isso só funciona quando há integração, quando é possível haver diálogo entre todos. Não há “estrelas” nesse time, todos somos partes de um mesmo esforço. Há pessoas que, por características próprias, não são capazes de trabalhar em equipe e inviabilizam esse esforço. Estamos certos de que esse tempo acabou.
A DEFESA CIVIL ESTÁ CONTEMPLADA COM NOVOS INVESTIMENTOS?
CORONEL HUDSON - Sim, o prefeito Dermeval Barboza Moreira Neto atendeu nossa solicitação de aquisição de novas viaturas para toda a Secretaria de Ordem Urbana. Estamos em fase final de análise de um software de gestão de Defesa Civil, que poderá nos dar diariamente a real situação das áreas de risco da cidade, construindo uma mancha de risco semelhante à mancha criminal que trabalhamos na polícia, fazendo com que possamos planejar melhor nossa ação. Além disso, temos trabalhado no planejamento de um sistema de radiocomunicação que abrangerá todo o município e permitirá a comunicação imediata em caso de problemas. O sistema é alimentado por energia solar, o que vale dizer que quando os celulares pararem e não houver energia elétrica, ainda assim teremos comunicação com toda Nova Friburgo, via rádio. Todos são projetos novos e idealizados por nós, com o auxílio dos demais subsecretários e suas equipes, que atenderam nosso chamado para pôr mãos à obra na Defesa Civil e no plano de emergência, quando concluímos estarem abandonados.
EXISTEM DENÚNCIAS SOBRE ÁREAS DE RISCO QUE FORAM DESINTERDITADAS INDEVIDAMENTE E ÁREAS INTERDITADAS E QUE TERIAM SIDO NOVAMENTE OCUPADAS. O QUE SERÁ FEITO?
CORONEL HUDSON - Estou determinando ao novo subsecretário que reveja imediatamente todas as principais áreas de risco anteriormente desinterditadas. É um trabalho de cunho técnico, sobre o qual temos que ter absoluta certeza quanto a sua correção e imparcialidade. Afinal, estamos falando de vidas humanas e não admitirei erros nesta questão. Quanto à ocupação das áreas já interditadas, solicitamos também um levantamento para que possamos apoiar a Defesa Civil com nossa Guarda Municipal em novas ações de remoção de famílias, caso seja este fato constatado.
A PREFEITURA ESTÁ PREPARADA PARA AGIR CASO EXISTAM NOVOS PROBLEMAS EM JANEIRO?
CORONEL HUDSON - Posso dizer que a Prefeitura, por determinação do prefeito Dermeval Neto, está empenhada hoje, como nunca, em viabilizar soluções para combater os efeitos de novas ocorrências de forma ágil, integrada e eficiente. Agora temos experiência do que dá certo ou não e, sobretudo, com quem podemos ou não contar nas piores horas. O povo, os voluntários, o governo estadual e federal serão partes importantes no esforço, caso tenhamos eventos da proporção do que foi visto em janeiro de 2011. Estamos, sim, procurando nos preparar melhor, mas é um esforço de todos, e começa agora, desobstruindo bueiros e fossas em nossas próprias casas e ruas, evitando ocupar áreas interditadas, reconstruir em locais de risco, enfim... Juntos, governo e população podem evitar males maiores.
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