Loteamento Três Irmãos: tem uma pedra no meio do caminho... e muitas outras sobre as cabeças dos moradores

sexta-feira, 22 de julho de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Loteamento Três Irmãos: tem uma pedra no meio do caminho... e muitas outras sobre as cabeças dos moradores
Loteamento Três Irmãos: tem uma pedra no meio do caminho... e muitas outras sobre as cabeças dos moradores

Eloir Perdigão

É uma unanimidade no Loteamento Três Irmãos: todos os moradores estão temerosos que mais pedras rolem no bairro e façam mais vítimas, além das fatais registradas ali. Na Rua Hildebrando Couto, onde uma enorme pedra está no meio da rua, todos os moradores deixaram suas casas após a tragédia de janeiro. Mas acabaram voltando por causa da indefinição da situação de cada um, para proteger seus imóveis, que afinal estavam abertos, destruídos pela avalanche. Foi feito um desvio da pedra e tudo continua do mesmo jeito. A única movimentação é de um profissional que, com aparelhos de GPS, faz estudos da topografia local. Porém, das providências, ninguém sabe.

O maior medo dos moradores do Três Irmãos é que mais pedras rolem sobre suas cabeças, como atesta a diretora da associação de moradores do bairro, Maria Helena Pires Araújo. “Isso aí está muito perigoso”, diz ela, mostrando seu quarto, que fica de frente para a Rua Rio Caraíba.

PEDRAS QUE TIRAM O SOSSEGO - Dona Helena, como é conhecida, não teve a casa atingida, mas ela está interditada pela Defesa Civil. “Mas eu vou para onde? Não tenho para onde ir”, lamenta. E assim estão seus filhos e vizinhos. Mesmo com receio, não sai nem quando chove, porque o marido insiste em ficar e diz que nada vai acontecer. Situação diferente vive uma vizinha da frente. Quando começa a chover sai de casa, mas volta logo que para.

A diretora da associação de moradores lamenta que até agora não tenham sido tomadas providências visando melhorar um pouco a situação no bairro. Nem a enorme pedra na Rua Hildebrando Couto foi retirada, apesar dos insistentes apelos. E ela fala que o medo é geral no Três Irmãos com as pedras que ameaçam rolar e atingir as residências, adquiridas com sacrifício, com IPTU em dia. Ela, por exemplo, mora ali há 27 anos, sem que nunca tenha presenciado nada igual à tragédia de janeiro. “Se tirar as pedras não tem mais perigo. Se elas caírem vão matar mais gente aí. Elas estão muito perigosas. Nós temos muita urgência porque as chuvas já estão aí. Ninguém dorme sossegado”, afirma.

À ESPERA DO ALUGUEL SOCIAL - João Darrhiu perdeu sua casa, que era própria, na Rua Rio Brumado, atingida que foi por uma das barreiras. E já foi demolida. Agora ele mora no loteamento Asa Branca, próximo do Três Irmãos. As dificuldades que tem passado com sua família são as maiores. “Isto aqui virou um rio de lama”, lembra. A esposa, Maria Edna, conta que estavam na casa e tiveram que sair, à meia-noite e meia, correndo para a rua debaixo do temporal.

Inicialmente ela e seu marido ficaram na casa de uma das filhas, que também foi atingida e ficou cheia de lama. Depois foram para a casa de um cunhado dela até o dia amanhecer. E desde então não puderam mais voltar para casa. Depois de oito dias retornaram só para aproveitar o que dava, como móveis e eletrodomésticos. Mais tarde passaram a morar no Asa Branca, pagando aluguel, em situação financeira difícil.

João e Maria Edna se cadastraram e fizeram o recadastramento para o aluguel social, mas até agora não conseguiram recebê-lo. As duas filhas, que também estão morando em casas alugadas, igualmente se inscreveram para o aluguel social, porém só uma está recebendo o benefício.

PREOCUPAÇÃO COM AS CHUVAS - Mário Santino Klein escapou da fúria da natureza em janeiro porque mora num sobrado, mas sua filha e o neto de 6 anos sofreram com a avalanche dentro de casa, no térreo, tendo eles escapado por pouco. Sem poder morar no imóvel, que era próprio, Mário também mora pagando aluguel.

A lama entrou e derrubou paredes e foi a conta de tirar a filha e o neto. Mário não teve como recuperar a casa. Uma pequena mureta que iniciou nos fundos foi obrigado a parar, orientado pela Defesa Civil. De seu imóvel saíram cinco caminhões de lama e entulho, auxiliado por uma equipe da Prefeitura de Trajano de Moraes, parentes e amigos. Ele também lamenta que nenhuma autoridade tenha tomado providências ali. Do jeito que ficou em janeiro, continua.

Mário está igualmente preocupado com a chegada da estação das chuvas, já que todos na vizinhança ficam dizendo que mais pedras vão cair. “Agora a gente tem que sair, não tem como a gente ficar aí. Quando chove todo mundo fica apavorado. Ninguém fica dentro de casa. E vamos para onde, para o meio da rua, dormir na rua, ficar a noite inteira acordado como a gente já ficou?”.

A prioridade, para Mário e todos os demais vizinhos, são as pedras que ameaçam rolar. “Se tirarem as pedras lá de cima, que estão soltas, já vai ajudar a gente. Mas até hoje ninguém apareceu aqui. Se começarem a cair, vai uma atrás da outra. Tem pedra lá muito maior do que aquela que está no meio da rua”, finalizou.

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