Como bem lembrou o jornalista Guilherme Fiuza, autor do livro “Meu nome não é Johnny”, algumas frases tornam-se um marco e, mesmo sem fazer o menor sentido em outros contextos, são propagadas mesmo assim, por diversas pessoas. Tomamos como exemplo a citação do traficante Elias Maluco, quando preso pela polícia pelo assassinato do jornalista Tim Lopes: “Prende, mas não esculacha!”. A frase virou hit para diversas situações, e até funk virou. O jornalista fez até uma paródia em comunicado aos políticos: “Engana, mas não esculacha!”.
As citações estão na moda e parece que as premonições da nova Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, de que faltava poesia e boas citações em nossas vidas se consumou. Agora, elas retornam com força na política nacional. Basta saber se o público está gostando de tanta literatura em Brasília. Justamente porque estas citações, assim como a de Elias Maluco, estão ressurgindo em novos contextos pelos políticos, o que as deixam órfãs de suas verdadeiras intenções.
Os mais novos literários são os ministros Ideli Salvatti e Luiz Sérgio. Para quem não se lembra, Ideli era ministra da Pesca, e foi convidada a ser ministra das Relações Institucionais. Em contrapartida, Luiz Sérgio era ministro das Relações Institucionais, e passou a ser ministro da Pesca. E a poesia petista é tamanha que já se considera a produção de um livro baseada no conselho de Ideli para Luiz Sérgio: “Cuide bem dos meus peixinhos”. Não se fala em outra coisa nos bastidores políticos depois deste ping-pong do PT: a ex-senadora passou a ser ministra, enquanto o ex-ministro passou a ser o que Ideli era: nada! Isto porque todos sabemos que o ministério da Pesca não passa de um cargo criado por Lula para ancorar seus amigos que ficaram ao “Deus dará”.
Ocorre que, até aí, ócios do petismo, tudo bem! Mas a poesia começou a invadir o congresso de vez. Ao deixar o Ministério da Pesca e assumir o das Relações Institucionais, Ideli poetizou: “No novo tempo, apesar dos perigos; Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta; Pra sobreviver, pra sobreviver”. Com certeza, o compositor Ivan Lins nunca imaginou que sua composição iria adentrar tão deturpada no Congresso Nacional.
Em contrapartida, Luiz Sérgio também não deixou por menos e citou Fernando Pessoa — que deve estar se remoendo na cova — ao ganhar o gabinete da Pesca: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Estou ficando louco ou o governo Lula, ou melhor, o governo Dilma, é o mais erudito da política brasileira?
Em meio a tanta poesia e cultura na política nacional, a gente fica até inspirado também a arriscar algumas citações. Por que não deixar aqui a minha? Lá vai uma de François Guizot: “Nada é tão nocivo para os povos do que darem-se por satisfeitos com meras palavras e aparências”.
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