Bombeiros de Nova Friburgo se unem à luta por reajuste salarial no Rio de Janeiro

terça-feira, 07 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Bruno Pedretti

Sexta-feira, 3 de junho de 2011: um dia atípico para os bombeiros militares do Estado do Rio de Janeiro. Após tentativas frustradas de reajuste salarial da classe, os bombeiros militares decidiram manifestar-se de maneira pacífica em frente ao quartel central do Rio, no Centro. Após tentar conversar com o comandante geral dos bombeiros, sem sucesso, os manifestantes foram surpreendidos por uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que invadiu o quartel e entrou em combate com os bombeiros. Resultado: 439 presos, alguns feridos e o quartel depredado. Bombeiros de Nova Friburgo também participaram da manifestação, ao todo cem combatentes estavam presentes à reivindicação e 27 destes foram detidos.

A reportagem de A VOZ DA SERRA entrou em contato com um dos bombeiros militares que participou da manifestação no Centro do Rio. O combatente, que prefere não se identificar, falou sobre o ocorrido. “Estamos reivindicando aumento salarial há dois meses, pois hoje um soldado ganha R$ 930 e o governador deu cerca de 50 % de aumento, porém em 48 vezes, o que dá em média R$ 10 por mês no contracheque”, revelou. Ele comentou que os bombeiros, de modo geral, continuam recebendo salários indignos, apesar de a instituição ter 96 % de aprovação da sociedade no Estado e 87 % no Brasil.

O sargento afirma que os bombeiros estão buscando melhorias não só no salário, mas nas condições de trabalho. “Não recebemos nenhum tipo de transporte, só podemos andar fardados nos ônibus e existem bombeiros que não podem andar fardados, pois somos militares acima de tudo e alguns têm medo de represálias. Então, além de pagar aluguel, plano de saúde e colégio dos nossos filhos, pagamos também o transporte”, destaca o combatente. Ele conta que os guarda-vidas que trabalham em algumas praias no Rio de Janeiro não recebem sequer protetor solar, tendo que arcar com o próprio salário um produto que teria que ser cedido pela corporação. “Alguns guarda-vidas não têm nem onde defecar; existem 18 com câncer de pele, um número expressivo, e isso tende a aumentar”, enumera.

“Infelizmente quem tem o microfone possui a verdade”

No dia 16 de maio, aniversário de Nova Friburgo, uma manifestação pacífica foi realizada pela corporação durante o desfile na Alberto Braune. “A intenção era mostrar à população o que está acontecendo, como funciona o nosso movimento, para que a população viesse para o nosso lado. Infelizmente existe a mídia comprada e partidária, que busca minimizar o bombeiro e jogar a população contra nós. Muitas vezes nos entrevistam, mas não colocam a verdade, editam ou simplesmente não colocam nossas falas”, argumentou o bombeiro militar.

Após a manifestação, um adolescente menor de idade, filho de um bombeiro, foi preso, fato que indignou o sargento. “Conseguimos soltá-lo graças a vereadores de Nova Friburgo, que foram conosco pedir a liberação do menor”, disse. O sargento diz que os bombeiros estão pleiteando o mínimo — R$ 2 mil líquidos para os soldados, sem descontar nada e sem gratificação. “Para o Bope tem um tipo de gratificação, para a Polícia Militar outro, e para os bombeiros que salvam vidas? Não seria justo também? Invadiu-se o Morro do Alemão e os policiais ganharam gratificação de R$ 500, justo. Trabalhamos na catástrofe, perdemos companheiros e não ganhamos um real a mais por isso, muito pelo contrário, as mulheres dos combatentes que perderam as vidas ainda não receberam o seguro a que têm direito, R$ 100 mil, e perderam as gratificações que os bombeiros tinham”, queixa-se o bombeiro.

O estatuto do bombeiro militar não permite que os combatentes façam qualquer tipo de manifestação, porém, a Constituição federal deixa livre qualquer tipo de expressão, desde que pacífica, ordeira e desarmada, o que aconteceu na sexta-feira, 3, de acordo com o sargento. “A Constituição nos dá direito de manifestarmos, o estatuto está batendo de frente com a Constituição federal”, afirmou.

No dia 3 os bombeiros militares marcaram uma reunião na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para agradecer o governo caso houvesse um acordo com a categoria. “Íamos colocar dez mil pessoas para agradecer ao governo do Estado. Fomos à Alerj de forma pacífica, esperávamos ouvir alguma coisa do nosso comandante, coronel Pedro, que em nenhum momento se pronunciou, disse que não falava com praça”, conta o sargento. E foi após não obter sucesso na conversa que os bombeiros militares marcharam rumo ao quartel central. “Decidimos ir ao quartel para conversarmos com o comandante, para explicar e dar uma satisfação para nós, que estamos nas ruas. Entre nós existiam policiais e bombeiros. Tomamos a decisão de entrar na nossa ‘casa’, nada mais justo que todos os bombeiros acampassem em seu quartel, somos uma família”, lembrou o bombeiro.

E a confusão começou...

Ao tentar entrar no quartel central, viaturas impediram o acesso dos bombeiros militares. De acordo com o sargento, os bombeiros tentaram abrir espaço, mas o batalhão de choque estava na frente deles. “Mas o batalhão de choque abriu o quartel, atendendo ao nosso pedido. O único que não saiu infelizmente foi o coronel comandante do batalhão, que por descuido colocou a mão no portão quando este estava sendo aberto e a mão dele quebrou”, conta o bombeiro, frisando que os próprios bombeiros da corporação socorreram o comandante do batalhão de choque.

Cerca de dez mil bombeiros entraram no quartel, a noite chegou e cinco mil manifestantes foram para casa. “Em momento algum depredamos equipamentos do nosso quartel. Ficamos deitados por lá, esperando qualquer tipo de resposta do nosso comandante. O batalhão de choque teve uma conduta excepcional, porque também era a luta deles”, esclarece. Depois de uma conversa do comandante do batalhão de choque da PM com o comandante dos bombeiros, as equipes do batalhão abandonaram o local. “É preciso destacar que não paramos o socorro dos bombeiros, outros grupamentos estavam avisados para cobrir a área do quartel central”, revela.

Por volta das 6h o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, solicitou ao comandante do Bope a invasão do quartel central para que pusesse fim à manifestação. “As mulheres dos bombeiros estavam na parte externa preparando um café, nunca esperávamos essa ação. Arrebentaram o muro com bombas, usaram bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bombas de efeito moral e entraram. Eles subiram até o segundo andar e começaram a tacar bombas no pátio onde estavam os bombeiros. Tiros de fuzil foram disparados contra as viaturas para denegrir ainda mais a imagem da instituição. Oito viaturas foram destruídas”, lembra o sargento. Foram presos 439 bombeiros militares, destes, 27 combatentes da área do 6º Grupamento de Bombeiros Militar de Nova Friburgo foram detidos.

Atendimentos de urgência continuam em Nova Friburgo

Após a prisão dos 27 combatentes do 6º Grupamento de Bombeiro Militar, os bombeiros de Nova Friburgo tomaram certas atitudes, segundo relatou o sargento. “Socorros como cortes de árvores, gatinhos em telhado, captura de animais em geral, bêbados caídos em ruas, esse tipo de socorro não estamos atendendo, porém, as colisões nós continuamos atendendo, assim como princípios de incêndio, infarto, todos os socorros de urgência, se necessário vamos à paisana dentro do carro de bombeiros. Porque bombeiro é bombeiro na pele”, disse, emocionado, o sargento.

“A população pode ficar tranquila, porque não vamos abandoná-la, mas não podemos esquecer dos nossos companheiros que estão detidos”, disse o sargento, considerando positiva a troca de comando geral do bombeiro militar. “A conduta do governador foi equivocada, ele não aceita ser contrariado. Estamos sofrendo represálias por parte dele”, lamentou o sargento.

Para acompanhar mais detalhes sobre o manifesto, os blogs www.sosguardavidas.com e www.bombeirosdobrasil.com estão disponíveis.

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