Há 45 anos o coração do Hospital São Lucas bate por Nova Friburgo

quinta-feira, 05 de maio de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Há 45 anos o coração do Hospital São Lucas bate por Nova Friburgo
Há 45 anos o coração do Hospital São Lucas bate por Nova Friburgo

Os 45 anos do Hospital São Lucas, completados na quarta-feira, 27, foram comemorados de forma singela, mas muito especial. Em vez de uma festa, a diretoria reuniu funcionários e amigos para um lanche de agradecimento pela dedicação, empenho e apoio recebidos durante o período tão difícil vivido recentemente. Como é de conhecimento geral, a área externa do prédio do São Lucas foi bastante atingida pela chuva de 12 janeiro. O prédio ficou fechado por quase dois meses.

Bastante emocionado, o diretor do São Lucas, médico Hebson Deslandes, abriu o evento lembrando que o momento não era de festa e sim de reconstrução — não apenas do hospital, mas de toda a cidade. “No entanto, não podíamos deixar passar esta data em branco. Neste dia em que comemoramos nossos 45 anos, queremos agradecer, em nome de toda a direção e dos membros do Conselho Consultivo, a cada um de vocês, médicos, enfermagem, demais funcionários, amigos, parceiros, por todo o apoio recebido naqueles momentos terríveis que vivemos”, afirmou.

Hebson Deslandes destacou o crescimento do São Lucas nestas quatro décadas e meia de existência. “De um pequeno hospital, com poucos leitos, situado em um prédio improvisado (o antigo Hotel Madrid, no Paissandu), nos tornamos um centro de referência médica, realizamos procedimentos de alta complexidade, prestamos serviços importantíssimos não apenas para a comunidade friburguense, mas de toda a Região Serrana”, continuou. “Tudo isso só foi e continua sendo possível graças a cada um de vocês”, declarou.

Hebson Deslandes também fez questão de destacar o apoio do prefeito Dermeval Moreira Neto durante o período em que o hospital permaneceu fechado, lembrando seus estreitos vínculos com o São Lucas, já que o mesmo foi fundado por seu avô, o médico Dermeval Barbosa Moreira, conhecido como “o pai dos pobres”. Aliás, o prefeito não pôde estar presente, pois tinha uma reunião previamente marcada com o governador, sendo representado pela secretária de Saúde, Jamila Calil.

Em seguida, Deslandes passou a palavra para o arquiteto Sérgio Seixas, que acompanhou desde o início as obras de construção do prédio onde se situa o hospital, na RJ 140, e garantiu aos presentes que o mesmo não corre nenhum risco de ser atingido por novos deslizamentos. Ele e o engenheiro Jorge Luiz Pinheiro apresentaram um datashow, mostrando em detalhes os estudos técnicos e as obras que estão sendo realizadas para recuperar a área afetada pelos deslizamentos no entorno do hospital, garantindo que em hipótese alguma, os mesmos correm risco de atingir o prédio.

A secretária de Saúde, Jamila Calil, falou de seu carinho pelo Hospital São Lucas, onde iniciou sua carreira e até hoje mantém estreitos vínculos afetivos. “Esta é uma casa diferente de todas as outras onde já trabalhei, com sua forma muito particular e carinhosa de tratar os doentes e seus familiares”, disse Jamila, destacando também a dedicação do doutor Chamberlain Noé, que enquanto teve condições de saúde fazia questão de ir todos os dias ao hospital, inclusive, aos sábados, domingos e feriados, para ver como estava os doentes, inteirar-se dos acontecimentos e, enfim, para saber se estava tudo correndo bem. “Esta coisa de plantão, de sobreaviso, nunca existiu para ele”, lembrou Jamila, que disse se espelhar em seu exemplo no exercício da medicina e nos demais cargos que ocupou.

Jamila também falou sobre a participação da “matriarca” do São Lucas, dona Derly Moreira Chaloub, no dia a dia do hospital e na recuperação de todos que se encontram ali internados. Para quem não sabe, dona Derly, filha do doutor Dermeval, vai diariamente ao hospital, sempre com um sorriso nos lábios e com palavras de carinho e conforto para com os doentes e seus familiares. Para quem não sabe, dona Derly faz questão de visitar cada um que ali se encontra para saber como estão, se está faltando alguma coisa e se estão sendo bem tratados. Ou seja, o processo de humanização implantado há alguns anos no São Lucas de forma pioneira começou muito antes e se confunde com a própria história do hospital.

Também presente ao evento, dona Derly falou dos primeiros anos do hospital e de sua alegria por estar ali, lado a lado, com todos aqueles que ajudaram a tornar o São Lucas um dos maiores centros médicos do interior fluminense.

Além de dona Derly, o médico Chamberlain Noé também participou da cerimônia, deixando todos os presentes emocionados com suas palavras. Com sua memória surpreendente, doutor Chamberlain relembrou detalhes da criação do hospital, que se confunde com a própria história da cidade nas últimas décadas. “O São Lucas foi criado porque na ocasião, em 1966, a cidade dispunha de pouquíssimos leitos”, contou. Em seguida, ele falou sobre o atendimento médico disponível em Nova Friburgo na década de 60, de sua precariedade e da coragem do doutor Dermeval Barbosa Moreira quando decidiu abrir o hospital “na cara e na coragem”.

“Era tudo muito difícil. Basta dizer que o nosso primeiro prédio, no Paissandu, não dispunha de elevador e os enfermeiros eram obrigados a subir dois andares carregando as macas dos doentes nos braços. E olha que nenhum deles nunca caiu”, comentou, com bom humor. “Era tudo tão precário que o chão do centro cirúrgico era de tacos”. O médico também falou sobre as enchentes que vez por outra alagavam o térreo do edifício. Mesmo assim, com todas estas dificuldades, o hospital crescia: “Chegou um momento em que não conseguíamos mais dar conta de atender a todos que nos procuravam. Tínhamos de encontrar um espaço maior e Dermeval começou a procurar um local para construir um novo prédio. Ele tinha um sítio aqui em Duas Pedras e decidiu: ali seria construído o novo São Lucas. Dito e feito. Conseguimos um financiamento em Brasília que, aliás, liquidamos dois anos antes do prazo”.

Ao concluir seu depoimento, o médico foi aplaudido de pé durante vários minutos. Chamberlain Noé, cuja vida está intimamente ligada ao São Lucas: um exemplo de fibra, dignidade e amor pela medicina e por Nova Friburgo.

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