Maurício Siaines
Morreu na noite do último sábado, 30 de abril, no Hospital São Lucas, em Nova Friburgo, aos 90 anos, depois de complicações provocadas por uma pneumonia, Nagib José Pedro, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Figura querida de Lumiar, onde era conhecido como comerciante e organizador do clube de futebol local, sua despedida mobilizou uma multidão que transportou o caixão a pé desde sua casa até a Igreja Católica de Lumiar, tomando suas dependências, em reverência a toda sua história de vida. A igreja é vizinha àquela em que os pais de Nagib se casaram em 1911. Antigos moradores disseram que há muito não se via um cortejo fúnebre no local.
O pai de Nagib, Júlio José Pedro, nasceu em Elsie, no Líbano, em 1889 e veio para o Brasil em 1907. Sua mãe Alcebiadina Januária Boy, nascida em 1896, era natural de Boa Esperança, localidade de Lumiar, onde também nasceu Nagib em 1920, e é lembrada por quem a conheceu como a vovó Bidina. Entre as pessoas que se encontravam na cerimônia diversas relações de parentesco foram lembradas, o que não é de estranhar, uma vez que, dado o isolamento em que a comunidade viveu por mais de cem anos, são muitos os laços de consanguinidade.
Três bandeiras enfeitavam o caixão de Nagib, a do Brasil, lembrando seu sentimento patriótico — além de se orgulhar de sua condição de ex-combatente, sempre participava das cerimônias de 7 de setembro, na praça do centro de Lumiar, sendo apresentado aos jovens escolares como exemplo —, a do Lumiar Futebol Clube, que ajudou a reconstruir quando voltou da guerra e a do Fluminense Futebol Clube, do qual foi torcedor.
Em entrevista recente a A VOZ DA SERRA, Nagib contou muito de suas histórias, sua experiência com as tropas de burros que levavam e traziam mercadorias entre Lumiar e o centro de Nova Friburgo, a guerra e o futebol. Orgulhava-se de dizer que “em 1986, o time do Lumiar foi campeão rural e fomos para a cidade e fomos campeões lá também. Inclusive, conquistamos a taça de 60 anos da Liga Friburguense. E eu fui considerado o melhor presidente do ano”.
Antes da saída do corpo de Nagib para o Cemitério da Pedra Riscada, onde também estão sepultados sua esposa e seus pais, muita gente tinha histórias para contar. Entre essas pessoas, Jorge Barros, conhecido como Luvinha, de 64 anos, que jogou durante 15 anos no Lumiar Futebol Clube e diz que “ele era um pai para nós todos, ele era um grande pai”. Hilda Pinto tinha 6 anos “quando começou a guerra”. Diz que “a gente conheceu seu Nagib desde criança, sempre sorrindo, sempre ajudando, uma pessoa muito especial”.
Duas pessoas marcaram a cerimônia de despedida. Uma delas, José Schwaulb, de 80 anos, espécie de patriarca do grupo Sanfoneiros da Serra, que discursou lembrando feitos de Nagib, entre eles o de “mandar animais para buscar jogadores do Lumiar Futebol Clube em suas casas” para que pudessem jogar. A outra homenagem foi prestada por sua neta Laila Pedro Manhães, que leu o poema de Santo Agostinho, A morte não é nada, que tem o seguinte trecho: “Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo”.
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