A T E R R A

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Ao galgar os últimos lances do espinhaço da Serra do Mar, O DESBRAVADOR, estonteado e de olhos esgazeados, divisou a TERRA DA PROMISSÃO.

De quebrada em quebrada, via ele, extasiado, a pujança do solo e a maravilha panorâmica que o deixava em transe.

A policromia de sua vegetação vigorosa, agreste e farta, o inebriava.

A fragrância que se evolava das flores silvestres e do humo da mata, o convidava à sua posse; à sua conquista; ao seu acasalamento e assim ele o fez. Sentiu-se senhor e soberano das infindáveis riquezas que o ONIPOTENTE lhe pôs graciosamente nas mãos. Vislumbra nas matas que o rodeavam, uma flora rica e densa de lenhos de primeira qualidade. Aqui, ali e acolá, altaneiros estão os jequitibás, os itapinhoãs, os ipês amarelos e roxos, os vinháticos, as perobas, as aroeiras, os jacarandás, as caviúnas, os cedros, as candeias, as garapas, os muricis, e, acompanhando-os, os sanandús, as quaresmeiras amarelas, brancas e roxas, as imbaúbas de folhas prateadas, os fedegosos prenhos de flores cor de ouro, os araribás, os palmitos, os patís e as indaiás, tudo isto entrelaçado pelos cipós, taquaras, taquaruçus, e entremeado de parasitas, orquídeas, lírios do brejo, inhames, taiobas, carás costelas-de-adão, para com o adelgaçamento do solo, divisar as pradarias com o milho, a mandioca, o fumo e as bananeiras que os índios tupi–guaranis, seus habitantes, cultivavam, e os capins de alto valor nutritivo para o gado.

Ainda não refeito do impacto recebido, ouve ele a sinfonia dos pássaros canoros, numa partitura suave, que lhe dá um certo langor nostálgico e o convida à poesia. São os sabiás, os canários da terra, os avinhados, os pintassilgos, os coleiros, os melros, os galinhos da serra, os sanhassus, os tié-sangue que compõem esta sublime orquestra sob a batuta rítmica da imponente e altaneira araponga no malhar incessante da sua invisível forja, acompanhados pelos inhambus xororós, jaós-macucos, juritis, maitacas, socós, narcejas, saracuras, marrecas, pombas rolas e de bando, frangos d´água, e da qual se aproveitam os beija–flores, os anuns e os gaviões para dançarem seu bailado volátil sob o pálio de um céu azul anil e sem jaças.

Estatelado, o DESBRAVADOR vislumbra a caça alta que lhe dá alimento farto e saudável. Pululam as antas, as pacas, os veados, as capivaras, as cotias, os macacos, as lontras, as preás, as queixadas, os guarás, os caititus, os cachorros e os gatos do mato, as jaguatiricas, os tatus, as sussuaranas, e as preguiças que o convidam à espairecer e à sesta.

Vadeando os rios, riachos, brejos e lagoas, encontra os acarás, os bagres, os cascudos, os lambaris, os piaus, as piabas, as traíras, as moréias, os caximbáus, os dourados as rãs e os jacarés.

Na sua pesquisa do solo, vê a pura e resistente qualidade da pedra de cantaria, a terra argilosa e cheia de húmus, a malacacheta e o ouro que foi explorado comercialmente na Serra dos Michéis.

Ao seu estupor pela magnitude e pela grandiosidade do cenário, se alia a sua perplexidade pelo clima ameno e temperado, reconfortante e recuperador de energias desgastadas, aliado à abundância da água pura e cristalina de suas fontes.

O DESBRAVADOR então capitula. De olhos marejados de lágrimas, de peito desnudo, aberto e aurindo os pruridos do desejo de conquista, cai de joelhos ao solo e, erguendo os braços ao Céu, agradece ao ONIPOTENTE a dádiva que lhe enviou e houve por bem agraciá-lo.

Esta terra dadivosa viria a ser a “Fazenda do Morro Queimado” e posteriormente a Vila de Nova Friburgo situada no Termo de Cantagalo, para finalmente se tornar o Município de Nova Friburgo; centro geográfico do Estado do Rio de Janeiro. E ser cognominada de “Suíça Brasileira”, que o poeta em sua lírica imaginação a concebeu como a “Parada de um caminho...a caminho do Céu”.

Centro cosmopolita onde portugueses, alemães, italianos, espanhóis, holandeses, austríacos, sírios, libaneses, japoneses, árabes, suíços, poloneses, israelitas, balcânicos e tiroleses, em mistura com os nativos e descendentes de africanos se cordializam e amalgamam numa confirmação de seu nome originário de Fribourg, que traduzido para o vernáculo significa “burgo livre”.

O DESBRAVADOR então num arrebatamento jubiloso, embora alquebrado e cansado, exclama: SENHOR MINHA MISSÃO ESTÁ CUMPRIDA!!!

Isto feito – SIC TRANSIT AD POSTERITATEM

** O presente texto, é de autoria de Dr. Helio Veiga e faz parte dos originais do livro que ele estava escrevendo sobre a história da Sociedade Esportiva Friburguense com subsídios para a história da colonização de Nova Friburgo, cedido pela família ao jornal A Voz da Serra, em especial atenção ao Sr. Laércio Ventura.

P/P Vera Regina Veiga da Gama e Silva, em 15 de fevereiro de 2011

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