Dalva Ventura
Olha para um lado, olha para o outro. Discretamente viram-se contra a parede, abaixam o zíper da bermuda ou da calça e, pronto. Que alívio! Falta de educação é com eles mesmos. Até algum tempo os cidadãos friburguenses pareciam bem mais cuidadosos no que diz respeito a certas práticas, como a de urinar em plena rua.
A desculpa é sempre a mesma: faltam banheiros públicos.
“Não tinha onde fazer”, tenta justificar um. “Não deu para segurar. Eu estava muito apertado”, continua outro. Ambos tinham acabado de “se aliviar” na parede do Friburgo Shopping, na Rua José Eugênio Müller, onde, aliás, existem banheiros que podem ser usados por qualquer pessoa. Os moradores em frente dizem que isso acontece principalmente à noite e de madrugada, mas, quando começa a escurecer, pronto: o local logo passa a ser usado. E mesmo em pleno dia é possível flagrar rapazes transformando o local em mictório público.
O forte odor de urina pode ser sentido à distância. E não é só lá não. A esquina da Rua Portugal também é muito procurada pelos que acham mais prático resolver logo o problema em vez de procurar o local correto para urinar. E a Ernesto Brasílio, que fica ao lado, também tem sido muito visitada pelos mijões, até por estar muito escura. Da mesma forma, a Monte Líbano e adjacências, o Suspiro, as ruas perto do Fri Chopp, enfim, tudo quanto é lugar frequentado pela garotada e também pelos biriteiros de plantão.
“Mais cedo até tem banheiro, sim, mas chega uma hora que fecha tudo. A gente sai na noite, bebe e depois não encontra nada aberto”, tenta justificar o estudante Ricardo Machado, de 21 anos. Seu colega, Marcelo Souza, com a mesma idade, admite que nessas circunstâncias também apela para a primeira parede ou poste que encontrar. “Quando a gente bebe não dá para segurar, não dá para chegar em casa. E o que a gente pode fazer? Experimente encontrar um banheiro nesta cidade às 3h da manhã”, arrisca.
Evidentemente, a questão não se restringe à falta de banheiros disponíveis. Até porque, se fosse assim, as mulheres também fariam xixi na rua na maior cara de pau, o que não acontece. Pelo menos não com a mesma frequência que os homens. A própria anatomia feminina dificulta. A mulher só faz isso quando não aguenta mais mesmo. Mesmo assim, a maioria prefere molhar a calcinha do que “batizar” a calçada.
Maria Estela Ferreira, de 25 anos, é uma que garante nunca ter feito xixi na rua. “Já até fiz xixi na calça, de tão apertada que estava, mas tirar a roupa, me abaixar e urinar em plena rua é demais, jamais teria coragem”, diz. Mesmo assim, está cansada de ver meninas “fazendo murinho” umas para as outras com esta finalidade.
Que não se deve fazer na rua, toda pessoa sensata sabe, mas... E se o indivíduo em questão estiver muito necessitado e não tiver banheiro por perto? Muitos não conseguem segurar a vontade de urinar. A verdade, porém, é que nada justifica uma pessoa transformar uma rua pública, uma praça ou uma esquina num mictório a céu aberto. “Se necessidade justificasse transgredir a lei, quem tem fome poderia roubar”, já disse alguém.
Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro e Salvador, a Prefeitura fez campanhas para conscientizar as pessoas a não usar as ruas como banheiro, andou multando e até prendendo quem fosse flagrado “regando” as ruas da cidade. Mas aqui na terrinha ninguém toca neste assunto. A situação vai se agravando. Até quando?
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