Henrique Amorim
O escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Nova Friburgo emitiu esta semana um relatório da análise feita por técnicos do órgão sobre a tragédia ocasionada pelas chuvas de janeiro na Região Serrana, especificamente no município. De acordo com o chefe do escritório, o geógrafo Mauro Zurita Fernandes, as consequências observadas hoje na natureza e o cenário de destruição espalhado por diversos bairros e distritos friburguenses são resultados de uma catástrofe, infelizmente, já anteriormente prevista.
Para o Ibama, pelo menos 80% dos deslizamentos de encostas foram causados por intervenções do homem, que ergueu construções sem respeitar as leis ambientais ou abriu estradas e trilhas nas florestas a fim de facilitar o acesso à instalação e manutenção de torres de telefonia celular, ou criou novos loteamentos, por exemplo. “Essas aberturas na mata fechada contribuíram para a infiltração maior do solo com as fortes chuvas e o consequente carreamento das árvores, formando avalanches. Não se pode esquecer que durante todo o mês de dezembro choveu bastante e quando ocorreu a tempestade o solo já estava muito encharcado. A precariedade das redes de drenagens das águas pluviais (das chuvas) foi outro agravante”, observa Zurita, lembrando ainda que, no aspecto geográfico, a tragédia de janeiro desencadeou um fenômeno comum para a ciência, conhecido como “evolução das vertentes”, que é a queda (deslizamentos) dos grandes morros aplainados pelas chuvas. “A tendência é que esse fenômeno aconteça mais vezes, fazendo com que as rochas se deteriorem e os morros desçam nivelando o solo, mas isso é algo para acontecer daqui a milhões e milhões de anos. É um processo natural e a serra do estado do Rio de Janeiro ainda é uma área recente do ponto de vista geológico”, comenta Mauro Zurita.
Outra observação do relatório é a ocupação indevida das faixas marginais de rios e córregos, que invadiram e derrubaram casas ao longo dos seus trechos naturais. Muitos deles, inclusive, tiveram seus cursos alterados, como o Córrego Dantas, que em alguns trechos, no bairro de mesmo nome, assumiu proporções de grandes rios, com direito até a formação de ilhas devido às erosões e ao despejo de grande quantidade de terra e pedras carreadas de montanhas de grande altitude.
O relatório do Ibama aponta para a necessidade de fiscalização rigorosa do poder público, a fim de inibir construções em terrenos com inclinação superior a 45 graus e nas margens de rios e córregos, além de impedir a reocupação das áreas de risco.
Plantio de araucária em encostas pode ajudar a evitar novos deslizamentos
O relatório do Ibama aponta também que o plantio de eucaliptos em diversas encostas não foi uma alternativa viável. Segundo Zurita, esta prática é muito comum em Nova Friburgo, principalmente com o intuito da extração comercial da madeira e a intenção de diminuir a intensidade do fluxo dos lençóis freáticos, evitando infiltrações subterrâneas em áreas edificadas. “Os eucaliptos são frágeis e bastante vulneráveis. Engana-se quem pensa que eles podem segurar terrenos de relevo acidentado”, diz.
Zurita observa ainda que o plantio de árvores araucárias angustifóilias, cultivadas de forma esparsa, é bem mais estável e suporta deslizamentos de terra. A araucária é típica do Sul do Brasil, mas adapta-se bem ao clima da serra fluminense. “Este tipo de árvore pode ser uma boa opção para evitarmos desastres naturais futuros. As áreas de pastagens já degradadas por queimadas também ficaram ainda mais suscetíveis a erosões”, aponta o relatório do Ibama, destacando a violação do Código Florestal e o desrespeito à lei do uso do solo.
Um pouco mais sobre a araucária
A araucária angustifóilias é indicada em áreas de relevo acidentado e para ajudar a conter encostas devido a suas raízes bem profundas e ramificadas, que ajudam a segurar o solo. De acordo com a Wikipédia, existem 19 espécies de araucárias catalogadas. Ela é bastante comum no sudeste da Austrália, Nova Guiné, Argentina, Chile e no Sul do Brasil, onde é conhecida popularmente como “pinheiro do Paraná”. Seus galhos assemelham-se a grandes ramos, do tipo “rabo de macaco”, e suas sementes são descartadas naturalmente, servindo como alimento para esquilos e demais espécies da fauna típica da Mata Atlântica. A araucária também é conhecida como árvore oriental, de bandeja ou bonsai, e é bastante cultivada pelos japoneses. Segundo o Ibama, algumas espécies da araucária já se desenvolvem na Região Serrana fluminense.
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