Leonardo Lima
Ao passar pela Avenida Antônio Mário de Azevedo, a principal que corta o 3° distrito de Nova Friburgo, se tem a impressão de que a tragédia da Região Serrana não atingiu Campo do Coelho de forma tão devastadora. Ledo engano. A área rural do distrito foi uma das mais castigadas em Nova Friburgo e registrou dezenas de vítimas fatais. De acordo com os moradores, localidades como Boca do Sapo, Hottz e Estrada Santana, por exemplo, têm até hoje pessoas soterradas sob os escombros. As buscas por corpos continuam.
Segundo o lavrador Jorge Francisco dos Santos, nascido e criado em Campo do Coelho, o local não sofre apenas com perdas humanas. “Infelizmente, perdi grande parte da minha lavoura. A plantação de feijão acabou. Pelo menos consegui escapar com vida”, afirma Jorge, com ar de esperança. De acordo com ele, a destruição no local foi tamanha que, além de casas, plantações inteiras de sítios foram destruídas. “Para quem trabalha na lavoura, o prejuízo foi grande. O jeito agora é pedir a Deus que nos dê forças para recomeçar nossas vidas”, diz.
Um dos principais pontos turísticos do distrito também foi atingido pela queda de barreiras. O escultor Geraldo Simplício, o Nêgo, teve cerca de dez obras total ou parcialmente afetadas. Ele revela que tomou um grande susto na fatídica madrugada do desastre. “Estava dormindo e, de repente, ouvi um grande estalo. Acordei apavorado, mas pensei que fosse um raio. Na manhã do dia seguinte meus funcionários chegaram aqui, no Jardim do Nêgo, e se depararam com uma barreira que caiu sobre parte da minha casa. Eles pensaram que eu tivesse morrido”, recorda o escultor, que atendeu à equipe de reportagem enquanto tirava a lama que se acumulou na porta dos fundos de sua casa.
Na Rua Lourival dos Santos Calixto chama a atenção o número de galerias que, obstruídas pela forte enxurrada, espalhou uma grande quantidade de terra e desnivelou vários trechos do local. Já na Rua Suassena, uma enorme barreira destruiu sete casas. De acordo com uma moradora que preferiu não se identificar, a tragédia vitimou um adolescente de apenas 14 anos. “Ele foi salvar um outro adolescente que não estava conseguindo sair de casa e acabou sendo soterrado”, explica. Ela revela que um homem também morreu no local, mas não por conta de barreiras, pelo menos não diretamente. “Um senhor que morava nessa área ficou muito nervoso com toda a situação. Embora tivesse deixado sua casa antes dela desabar, ele passou mal, enfartou e veio a falecer”, comenta.
Outro ponto crítico do distrito é a Estrada Santana, que durante dias ficou interditada. No local, uma enorme barreira caiu e espalhou grandes proporções de terra, praticamente em toda a via. Entretanto, conforme relato da população local, diversos tratores agiram no local e liberaram a estrada. O local dá acesso, por exemplo, à sede campestre do Sindicato dos Bancários e à casa do antigo prefeito de Nova Friburgo, Paulo Azevedo, que também foi uma das vítimas da tragédia.
Embora o número de mortos não pare de crescer na cidade e também no 3° distrito, os moradores buscam forças para acreditar que dias melhores virão. Pouco menos de um mês depois da catástrofe, o comércio de Campo do Coelho já funciona normalmente. Nas ruas pode-se ver diversas crianças brincando. Uma cena que dá a todos a esperança de que Nova Friburgo possa ser novamente uma cidade alegre e segura para se viver.
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