Amine Silvares
A escritora e colunista de A VOZ DA SERRA, Janaína Botelho, não estava em Nova Friburgo quando as chuvas trouxeram a tragédia à cidade. Ela conta que ficou algum tempo sem ter notícias de parentes e amigos, e preocupadíssima com o que estava acontecendo aqui. “Era tudo muito rápido e confuso. Imagine acompanhar um noticiário desses e não conseguir comunicação com Nova Friburgo. É desesperador!”, relata.
Comovida com a situação, ela disponibilizou cem exemplares de seu livro, “O Cotidiano de Nova Friburgo no final do século XIX”, na Livraria Leonardo Da Vinci, no Rio, e doará todo o lucro para o Lar Abrigo Amor a Jesus (Laje).
Numa entrevista emocionante, ela conta como se sentiu e manda uma mensagem para os friburguenses.
A VOZ DA SERRA - Você esteve em Nova Friburgo depois da tragédia?
JANAÍNA BOTELHO - Quando aconteceu a tragédia do dia 12 de janeiro eu não estava em Nova Friburgo e tenho a perspectiva de quem vê “do outro lado” o que estava acontecendo. Inicialmente Nova Friburgo ficou isolada em termos de comunicação, logo, somente acompanhei pela mídia o que estava acontecendo. Foi estarrecedor!
A VOZ DA SERRA - Você perdeu algum amigo ou parente na enxurrada?
JANAÍNA BOTELHO - Não conseguia falar com ninguém em Nova Friburgo. A cidade ficou isolada do mundo. Na manhã do dia 12 eram oito mortos e, no fim do dia, já eram 80, e todos nós ficamos apavorados. Logo pensamos em ir para Friburgo, mas as estradas estavam bloqueadas. A VOZ DA SERRA não entrou no ar. Era um mau sinal. Pensávamos: “o que está acontecendo?”. É difícil imaginar uma tragédia dessa proporção quando se está longe. Mas, as más notícias chegam rápido: os falecimentos de pessoas conhecidas. Era difícil acreditar. Estamos habituados a ver residências sendo demolidas em áreas de risco, mas na Rua Cristina Ziéde era algo inconcebível. Não perdi parentes, mas quem não perdeu um amigo ou conhecido nessa tragédia? Poderia enumerar vários. Imagine que tinha uma entrevista marcada com Paulo Azevedo no dia 14 de janeiro, em seu comitê, na Rua Souza Cardoso, para a minha coluna de A VOZ DA SERRA. Tinha falado com ele uma semana antes de falecer. Ele me disse que eu deveria dar continuidade à história de Nova Friburgo a partir do livro do Décio Monteiro Soares. Recordo-me de suas palavras finais: “Mas o que a senhora quer comigo?”. Eu respondi: “Conhecer as suas memórias sobre a história política de Nova Friburgo”. E ele disse: “Vou ver em que posso ajudá-la”.
A VOZ DA SERRA - Por que o Lar Abrigo Amor a Jesus foi escolhido?
JANAÍNA BOTELHO – Pensei: “o que posso fazer por Nova Friburgo?”. Além da ajuda material que a gente sempre dá, refleti de que forma poderia auxiliar mais Nova Friburgo estando fora da cidade. Passei a postar matérias em meu blog -
A VOZ DA SERRA - Tem visto muitos atos de solidariedade por onde passa?
JANAÍNA BOTELHO - Tanto em Niterói como no Rio de Janeiro, a demonstração de carinho e auxílio foi enorme. Sou testemunha disso. Devemos ser gratos.
A VOZ DA SERRA - Como historiadora, pesquisadora do município, como você acha que toda essa publicidade negativa pode afetar Nova Friburgo?
JANAÍNA BOTELHO - Não creio que este episódio tenha dado uma conotação negativa a Nova Friburgo. Suas belezas naturais e sua rica história ficaram também conhecidas. Pode parecer um paradoxo, mas essa tragédia somente irá beneficiá-la. Acho que dará ao Plano Diretor um papel muito mais importante do que teria se não houvesse essa tragédia, e uma responsabilidade maior aos futuros administradores públicos.
A VOZ DA SERRA – Você gostaria de mandar alguma mensagem para os friburguenses?
JANAÍNA BOTELHO - A mensagem que gostaria de passar é que não devemos deixar a reconstrução da cidade nas mãos de políticos. Todos devemos participar, seja através das associações de moradores, dos clubes que participamos, das entidades, das igrejas, enfim, alguém sempre participa de uma comunidade e devemos, através dela, opinar e auxiliar na reconstrução da cidade. Nova Friburgo é um problema de todos nós, e não do prefeito tão somente. Por fim, acho que o município deveria tecer preito através de um monumento a todas as entidades públicas e privadas que nos auxiliaram nesse difícil momento. Do contrário, Nova Friburgo teria virado “terra de ninguém”.
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