COMUNICADO - Ser Mulher

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

É com o sentimento de cumprimento de uma missão, que vimos comunicar que a última Assembléia Geral, em 16 de agosto de 2010, deliberou sobre a extinção do Ser Mulher – Centro de Estudos e Ação da Mulher Urbana e Rural, com sede em Nova Friburgo/RJ. A Assembléia Geral Extraordinária de dissolução foi realizada em 08 de dezembro deste ano e o processo será consumado até o final do primeiro trimestre de 2011.

Uma trajetória que exigiu muito esforço pelo discernimento, persistência, tolerância, busca pelo profissionalismo, amadurecimento pessoal e grupal, para que o projeto político-institucional do Ser Mulher se consolidasse.

E de fato consolidou-se e foi reconhecido. Lideranças femininas comunitárias fortalecidas e novos grupos formados. A temática “gênero” está posta e as desigualdades estão sendo enfrentadas. O desafio é constante. Mas a missão foi cumprida.

Um olhar retrospectivo comprova o quanto o Ser Mulher contribuiu para trazer a público sua missão, desempenhando relevante papel para o avanço nos debates e na construção de algumas políticas públicas nos municípios de atuação do Ser Mulher. Esse aspecto deve ser compreendido de forma mais ampla na medida em que representa um avanço nos movimentos de mulheres e feminista. Servem como exemplo: a criação e animação da REMUV – Rede Multisetorial de Atendimento à Mulher Vítima de Violência; implantação do 1º Serviço Telefônico Disque-Mulher; a criação de Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Secretarias e/ou coordenadorias em diversos municípios; Casa de Passagem no município de Teresópolis e diferentes iniciativas em Nova Friburgo, como o projeto para a criação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, como resultado de um longo processo iniciado em 1996, quando, sob a liderança do Ser Mulher, foi construída coletivamente a Minuta da Convenção Municipal pela Efetiva Cidadania da Mulher, estabelecendo no Art.9 a implantação do CMDM em Nova Friburgo; e, por fim, as perspectivas de criação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher - DEAM, movimento que teve a marca do Ser Mulher desde os anos 90. Da década de 80 para cá, quanta mudança...

Em contraste com as conquistas e resultados extremamente positivos alcançados, o Ser Mulher enfrentou dificuldades na captação de recursos, apesar de esforços concretos e amplo investimento na elaboração de novos projetos e no estabelecimento de contatos com agências financiadoras.

Dentre as principais dificuldades enfrentadas apontamos: aumento de demandas e burocracia; gradual redução na equipe, sobrecarregando as pessoas envolvidas na sustentabilidade e no desenvolvimento institucional (realização das atividades, gestão e captação de recursos); dificuldade na incorporação de novas sócias com disponibilidade e perfil para assumirem a Diretoria, uma vez que esta só pode ser formada por mulheres que integram o quadro de sócias efetivas; a saída de sócias por motivos diversos, e ainda, os projetos pessoais de algumas das atuais integrantes da Diretoria que inviabilizam a permanência na entidade.

O quadro vivido pelo Ser Mulher, especialmente nos últimos anos, precisa ser compreendido no cenário mais amplo das ONGs no Brasil que se caracteriza pelos seguintes aspectos:

• Reorientação dos recursos das Agências financiadoras que não têm mais o Brasil como país prioritário; a não aprovação de projetos dificulta a incorporação de novas integrantes para comporem a equipe técnica;

• Adaptação das ONGs à nova realidade utilizando prioritariamente os fundos públicos, que não oferecem apoio institucional, nem recursos para pagamento e equipe técnica fixa, e ainda exige um elevado grau de burocracia, quadro esse exaustivamente discutido nas assembléias da ABONG;

• Fechamento de várias instituições de pequeno e médio porte assim como redução significativa nos quadros de instituições antigas e de maior porte.

Assim, considerando o contexto externo e interno, o Ser Mulher fecha seu ciclo tendo plena consciência do papel que desempenhou, tanto no fortalecimento das mulheres como na construção de políticas públicas. Internamente, viveu um processo de aprimoramento dos procedimentos e controle interno na área financeira, o que faz com que esse encerramento seja feito sem qualquer pendência de ordem legal e financeira. Nesse aspecto agradecemos à Luzia Abicalil pelo companheirismo e competência, nas áreas contábil e jurídica.

Uma história marcada pela incessante busca de consensos, lidando com as singularidades e sonho pelo projeto coletivo, e mais, deparando-se com desencontros e perdas, no mais verdadeiro processo do viver e do aprender-fazendo.

Resultado de um processo de amadurecimento e análise desse contexto, a atual Diretoria e as sócias colaboradoras e efetivas presentes na Assembléia, avaliaram que na verdade a missão do Ser Mulher tinha sido cumprida, o debate interiorizado e as lideranças fortalecidas. Um dever também cumprido.

O fechamento de um ciclo.

Na Oficina “Café Mundial das Perspectivas”, realizada em 28 de agosto desse ano, com as lideranças, quando foi anunciado o fechamento do Ser Mulher em dezembro, o resultado da dinâmica foi bem gratificante, pois foram expressos todo tipo de sentimento: perda, vazio, tristeza, mas também agradecimento, crescimento, fortalecimento, potencialidades, continuidade e transformação. E ainda uma reflexão sobre as ONGs: tem um papel a cumprir e não são eternas.

Agradecemos a todos os parceiros que em algum momento, e das formas as mais diversas, apoiaram e acreditaram no Ser Mulher e em sua filosofia. Destacamos a importância da Agência Pão para Mundo no investimento para desenvolver o potencial de grupos voltados para a justiça social. Agência com a qual o Ser Mulher teve o privilégio de estabelecer uma significativa relação de cooperação que resultou no desenvolvimento institucional e organizacional, possibilitando a ampliação da sua atuação enquanto ONG feminista. Sem dúvida foi determinante para a expansão, visibilidade e legitimidade da instituição. Nessa relação, ressaltamos também, o diálogo estabelecido com o Escritório Elo Brasil – representante de PPM no Brasil – que acompanhou de perto o percurso do Ser Mulher.

Cabe também destacar, o investimento e diálogo estabelecido com o Comitê Alemão do Dia Mundial das Mulheres e a Fundação Heinrich Böll que viabilizaram a concretização de projetos inovadores e com potencial transformador.

Nossos agradecimentos:

A todas as mulheres que destinaram um tempo de suas vidas no desenvolvimento pessoal e na participação social. Afinal, como dizia Alejandra Rotania, uma das sócias fundadoras: “A transformação por um mundo mais justo e igualitário passa necessariamente pelo fortalecimento das mulheres”.

Alejandra muito se empenhou por dar vida à proposta do Ser Mulher e, após o processo de adoecimento iniciado em finais de 2004 e falecimento em abril de 2009, deixou um importante legado para o movimento de mulheres e feminista e para todas aquelas que com ela compartilharam preocupações, reflexões e sonhos.

Um agradecimento especial às Sócias Fundadoras, que junto com Alejandra, abraçaram a idéia de construção de um projeto coletivo, fundamentado no projeto político do feminismo.

A todas que foram se incorporando como Sócias Colaboradoras, Sócias Efetivas, Diretoras, Equipes Técnicas, trazendo suas bagagens e caminhadas, com empenho, seriedade e competência. Sem elas o sonho não teria se concretizado.

Às Agências financiadoras: LBA - Legião da Boa Vontade; SACTES – DED - Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social – Alemanha; NOVIB – Holanda; Mama Cash. – Holanda; Brot fur die Welt - Pão Para o Mundo (PPM) – Alemanha; Comitê Alemão do Dia Internacional da Oração das Mulheres – Alemanha; Ministério da Saúde/UNESCO; Fundação Heinrich Boell – Alemanha; FASE - Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional/RJ; RSMLAC – Rede de Saúde das Mulheres Latino Americanas e Caribe; FLD - Fundação Luterana da Diaconia; CESE - Centro Ecumênico de Serviços; Fundo Ângela Borba.

Aos parceiros locais ao longo dos 21 anos: Colégio Cêfel; Rádio Comunidade; SESC Nova Friburgo; SESI Nova Friburgo; Botica Homeopática; Dose Única Homeopatia; Jornal A Voz da Serra; Revista Valentina; InterTV; TV ZOOM; Nelson Flores; Superpão; Marca Gráfica; WR Gráfica; La Chatte; Superintendência de Saúde Coletiva – Fundação Municipal de Saúde; Programa Municipal DST/Aids; CREM - Centro de Referência da Mulher; Grupo Amigos da Vida; AMMA – Associação de Mulheres Mastectomizadas; OAB Nova Friburgo; CONSEG – Conselho Comunitário de Segurança de Nova Friburgo; APAE Nova Friburgo; Grupo de Promoção Humana – GPH; AS Assessoria de Imprensa; Universidades de Nova Friburgo; Colégios Estaduais e Municipais de Nova Friburgo; Diversas Associações de Moradores.

Nova Friburgo, 15 de dezembro de 2010

A Diretoria

Gracia Maria Badaró Massad – Presidenta

Patrícia Ávila da Costa – Vice-Presidenta

Leda do Couto Raposo - 1ª Tesoureira

María Fernanda Escurra – 1ª Secretária

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