Um pouco de história da velha Nova Friburgo - 3 de dezembro.

sexta-feira, 03 de dezembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

O “MORRO QUEIMADO”

Nós sabemos que D. João VI, uma vez resolvida a criação de uma colônia de suíços no Brasil, nomeou o monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros, Desembargador do Paço, para inspetor da Colônia de Nova Friburgo, a ser criada no Brasil. Uma vez criada a colônia, surgiu uma dúvida: onde colocá-la nesse imenso país? Sabemos, pelo livro de Martin Nicoulin, A Gênese de Nova Friburgo, que prevaleceu a ideia de Monsenhor Miranda de colocá-los numa região de temperatura mais amena. Ele sugeriu que: “No Cantagalo, votaria que se comprasse a fazenda do Morro Queimado a monsenhor Almeyda, ali tem mais de três léguas quadradas. Ela tem casas, capela, gado e plantações já feitas, e concluiu destacando as possibilidades de compra a peço vantajoso pelo tesouro real”. A compra dessa fazenda cheira fortemente como uma das muitas “mutretas” feitas por autoridades nesse imenso país. Gachet quis ver a região. “Durante o percurso Gachet viu muitas fazendas, terras devolutas e até a sesmaria à venda chamada Bom Jardim”. Durante a visita, Gachet, acompanhando a ideia de Mons. Miranda, prefere a do Morro Queimado. Para agricultura, a pior delas. Não sabemos se por influência de Miranda, que estava muito interessado na venda da fazenda do seu colega, por quase 12 contos de réis, e que, dois anos antes, havia sido por ele adquirida por quinhentos mil réis. Pensamos que esta preferência de Gachet foi, provavelmente, depois que Miranda prometeu-lhe conseguir com o rei uma sesmaria e uma Comenda Real, promessas estas que encontramos citadas em uma sua carta ao Monsenhor Miranda. Infelizmente, na nossa história, já vimos muitas negociatas como essa através dos anos e que, vergonhosamente, continuamos ver acontecer até os nossos dias. A Fazenda do Morro Queimado foi comprada e monsenhor Miranda passou a construir a Vila de Nova Friburgo.

Passemos agora ao principal motivo desta crônica: o Morro Queimado. Qual teria sido esse Morro Queimado que, segundo diz a lenda, era um morro coberto com um mato pouco denso e que numa tempestade elétrica sem chuvas incendiou-se com um raio caído em tempo carregado e que provocou, em seu topo, um incêndio que queimou toda a sua cobertura verde. Com as águas das chuvas sucessivas de verão, desceu a pouca terra que o cobria e a pedra de sua formação apareceu.

No livro do mano Raphael, Contos e Lendas da Velha Nova Friburgo, na pagina 27 da primeira edição, encontramos a reprodução de um mapa traçado em 1767 pelo sargento-mor Manoel Vieira Leão. Nele é assinalado trecho da província do Rio de Janeiro. Lá vemos um ”Morro Queimado” junto e acima da Serra dos Órgãos, à margem do caminho que seguia da baía do Rio de Janeiro ao Rio Paraíba do Sul. Perguntamos: qual teria sido esse tal de “Morro Queimado” entre a infinidade de morros que nos envolvem? Seria ele a Pedra do Cônego, as Catarinas, as Duas Pedras? Qual teria sido ele nessa nossa região?

No livro de Pedro Curio, na pagina 20, consta sobre a região de Nova Friburgo a seguinte citação: ”O terreno era montanhoso e pedregoso e regado pelos rios São João das Bengalas e o Rio Cônego, que nascem nas vertentes dos morros das serras dos Canudos e do Queimado e confluem no Rio Grande” (os grifos são meus). Não imaginamos qual tenha sido a serra dos “Canudos”, provavelmente a serra onde se situa o atual Teodoro de Oliveira, região onde nasce o Rio Santo Antônio que eles julgavam já ser o rio “São João das Bengalas”. A serra do “Queimado” nele citada, ou o Morro Queimado, pela sua localização no mapa daquele sargento, deve ser alguma montanha da região do Cônego. Lembramos que o caminho que ligava Porto das Caixas a Cantagalo, até o segundo governo de Dr. Jean Bazet (1833), descia pela encosta do Garrafão até o Cônego, seguia o Rio Cônego até o atual Paissandu, atravessava o Rio Santo Antônio e seguia para o norte na direção de Cantagalo.

Continua a dúvida: qual terá sido em nossa região esse lendário Morro Queimado?

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