Tecle Mulher ajuda mulheres que são vítimas de violência em todo o mundo

quinta-feira, 28 de outubro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Amine Silvares

Os números alarmantes da violência contra mulher fizeram surgir diversas iniciativas para defender os direitos do sexo dito frágil, que aguenta, há séculos, abusos físicos, sociais e psicológicos. As vítimas têm etnia e idade variadas, vão de adolescentes a idosas, e vêm de todas as classes sociais e níveis de escolaridade. As delegacias especializadas em atendimento à mulher estão espalhadas por todo o país, no entanto Nova Friburgo ainda não foi contemplada com o importante órgão. Com o anunciado fim do Ser Mulher na cidade, após anos de iniciativas positivas que ajudaram a conscientizar e amparar mulheres em situações complicadas, o Tecle Mulher passa a ser uma primordial fonte de ajuda para finalizar uma vida de abusos.

A iniciativa se destaca no serviço on-line, através do site www.teclemulher.com.br, fornecendo apoio psicológico e orientação jurídica. As mulheres são atendidas apenas via internet, o que garante a discrição e anonimato das vítimas. No site, mulheres conseguem o apoio e a orientação que precisam para mudar de vida. As respostas chegam em 24h e ajudam a encaminhá-las para lugares com recursos, para ampará-las da melhor forma possível.

Alessandra Muniz, assessora jurídica do Tecle Mulher, destaca a importância de que, na hora do cadastro, mesmo que a vítima assuma um nome fictício, os outros dados sejam corretamente preenchidos, para que o auxílio seja ministrado da forma adequada, dependendo da cidade que a vítima habita, já que os serviços do site funcionam internacionalmente. O serviço já atendeu casos de mulheres em diversos países da América Latina e Europa.

O medo e a falta de esclarecimento são alguns dos principais empecilhos para se livrar da violência. Muitas vezes, as vítimas demoram a reconhecer o abuso por este acontecer há muito tempo. Só quando as ofensas viram ameaças, e as ameaças se efetivam, principalmente quando afetam os filhos, é que muitas mulheres decidem agir. De acordo com Alessandra, mesmo em casos de separação ainda há registros de violência doméstica. “Noventa e cinco por cento dos nossos atendimentos são relacionados à violência doméstica e à violência familiar”, afirma. O acompanhamento vai até uma resolução final dos problemas da vítima, ou até que a mesma deseje se desvincular do serviço. Porém, o que se nota é que muitas mulheres, mesmo as que já estão com seus processos em andamento, continuam procurando o auxílio do Tecle Mulher em busca de informações sobre o próximo passo a ser tomado. Frequentemente são necessárias medidas protetivas para afastar a vítima, familiares e testemunhas das ameaças do agressor.

Mesmo em relações estáveis é possível haver violência e muitas mulheres ficam com medo de denunciar as agressões por não conseguir se manter financeiramente. Algumas chegam a desistir de empregos por exigência de seus maridos e, com o passar dos anos, não conseguem mais entrar no mercado de trabalho. Este fato, adicionado à desinformação, gera o receio, por exemplo, de perder a guarda dos filhos, já que o cônjuge tem mais condições de manter o padrão de vida. Segundo Alessandra, o medo de continuar sendo perseguida, violentada e perder os filhos é o que motiva muitas mulheres a permanecer incógnitas perante o problema. Há até casos de vítimas que são tão perseguidas que acabam voltando ao lar que deixaram. Por isso é importante denunciar, procurar ajuda e entrar com as medidas protetivas.

Outro grande impedimento para que se procure ajuda é a baixa estima. “A estima delas, às vezes, está muito baixa e elas precisam de apoio. Muitas vezes não têm família”, informa Luciléia Campos, assessora psicológica do site. Algumas mulheres chegam tão abaladas que não conseguem nem exprimir o que acontece com elas. “Às vezes, a mulher está tão afetada com o que está acontecendo que escreve apenas uma frase ou palavras desconexas, o que dificulta o trabalho”, explica Luciléia. “Às vezes não há denúncia nenhuma, é só um desabafo”, complementa Alessandra.

Agressores também precisam mudar

Nem sempre há separação junto aos casos de violência. Por isso não basta apenas que as vítimas procurem formas de mudar suas realidades: os agressores também precisam passar por um período de reabilitação. “Algumas mulheres ficam com medo de procurar os serviços porque acham que no final há uma separação, e elas nem sempre querem isso. Elas só querem que a violência acabe. Para acabar com a violência, dependendo do grau, só com a intervenção”, declara a assessora jurídica. No entanto, nem sempre o homem está consciente de que pratica violência.

Com a criação dos Centros de Referência da Mulher, esta conversa começou para conciliar as famílias que não desejam pôr fim ao convívio junto ao Juizado de Violência Doméstica, com o surgimento dos grupos de reflexão. Luciléia destaca que existem grupos que atendem às famílias e que o comprometimento de todos os envolvidos na situação é extremamente necessário para resolver o problema.

Medidas protetivas estão sendo cumpridas

A má fama das autoridades brasileiras em relação à repreensão de infratores também afeta mulheres que sofrem com a violência doméstica. O medo de que o Estado não possa garantir a segurança inibe denúncias. Contudo, de acordo com as assessoras do Tecle Mulher, as medidas protetivas têm mostrado resultados e, quando há transgressão, a polícia tem se mostrado competente ao tomar medidas para reprimir os violadores.

Delegacia da Mulher ainda não tem data para ser implantada

Após muita negociação, ainda não há previsão para a instalação da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) em Nova Friburgo. A instalação do órgão está atrelada à Delegacia Legal e à Casa de Custódia. Até o fechamento desta reportagem, a Prefeitura de Nova Friburgo não havia informado como estavam as negociações para implantar a Deam na cidade.

A Delegacia da Mulher faz a diferença no processo, pois possui estrutura voltada especialmente ao atendimento de vítimas da violência, além de ambiente mais acolhedor para as mulheres afetadas. O receio de ser ridicularizada por funcionários, que deveriam agir em prol do bem-estar mas não o fazem, torna-se um incômodo obstáculo.

Tecle Mulher agora é Oscip

Muitas fronteiras ainda precisam ser cruzadas para que o ciclo da violência termine. A mudança de padrões e comportamento vão surgindo ao longo dos anos com a evolução da sociedade. Enquanto houver casos de agressão, é necessário contar com as ações de instituições que auxiliam e amparam vítimas, que veem uma alternativa para mudar suas complicadas situações. Agora o Tecle Mulher assume o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), pelo seu trabalho eficaz e transparência administrativa. Isto comprova que os serviços têm mostrado resultado. Para mais informações ou denúncias, visite o site www.teclemulher.com.br.

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