ENTREVISTA - Danilo Caymmi

segunda-feira, 13 de setembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

“O palco é meu lugar”

Como parte do Circuito Cultural Sesi/RJ, o Teatro Municipal, na Praça do Suspiro, recebe neste sábado, 11, em única apresentação, às 20h, o consagrado músico Danilo Caymmi, expoente baiano da música popular brasileira, que interpretará sucessos de sua carreira.

O espetáculo integra a programação do circuito, como parte da parceria estabelecida entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Sistema Firjan/Sesi-RJ, que promete programação cultural e artística durante todo o segundo semestre.

Os ingressos a preços populares – R$ 20 e R$ 10 – podem ser adquiridos no Sesi, Globo Discos (Olaria), SCA Móveis, Louback Ambience, Loja Select do Posto Gran Center e no Municipal, neste caso, até uma hora antes do show. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 0800-0231 231 e no site www.firjan.org.br/cultura. 12 anos

Em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, concedida ao jornalista Alessandro Lo-Bianco, Danilo Caymmi diz que sempre busca coisas novas e, quando o assunto é música, foge das tradições.

Do alto de seus 46 anos de carreira, sem perder o vigor, ele fala de sua trajetória bem sucedida na MPB, garante que o fato de ser filho do grande Dorival Caymmi não tornou tudo mais fácil, como muitos podem pensar, e revela que, apesar de ter se lançado como cantor só bem depois de ter iniciado sua carreira, definitivamente, o palco é seu lugar.

Artista consagrado, Danilo Caymmi, que se apresenta neste sábado em Nova Friburgo, fala de sua carreira em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA

A VOZ DA SERRA - Como você se descobriu músico?

DANILO CAYMMY - Não tive muita opção (risos). O meio me levou a isso, e olha que eu ainda tentei relutar, fazendo arquitetura. Mas o meio em que vivia não me deixou opção. Sempre via meu pai trabalhar, meus irmãos começando a profissão, e tudo isso naturalmente me levou para música.

AVS - E o que foi determinante para você largar a faculdade e seguir na música?

DANILO - Durante minha estada na faculdade, participei do 3º Festival Internacional da Canção, com a música Andanças, em parceria com Paulinho Tapajós e Edmundo Souto. A canção foi defendida por Beth Carvalho e Golden Boys e conseguimos ficar na terceira colocação. Este sucesso, então, definiu muito a minha trajetória para a música, me tirando de vez da arquitetura.

AVS - Falando dessa música especialmente, ela se tornou uma das suas obras mais populares, não é?

DANILO - Fico muito feliz com isso, porque mesmo sendo uma canção de 68, ainda está muito viva, muito presente na música popular brasileira.

AVS - Já perdi a conta de quantas vezes escutei meus amigos tocarem esta canção ao violão...

DANILO - É muito gratificante, porque vejo que ela atravessa gerações. O Roberto Menescal, por exemplo, diz que ela é a rainha dos acampamentos. Ele brinca dizendo que é a Joana D’arc da música popular brasileira, porque sempre quando tem um violão numa fogueira ela surge (risos).

AVS - Como você tem inúmeras músicas de sucesso, é normal que elas atravessem gerações. Como você percebe isso?

DANILO - Eu gosto e me emociono muito com isso, e fico feliz também quando vejo as novas gerações darem um outro tom para minhas músicas. Recentemente, tive um prazer enorme de ver uma música minha, chamada O Bem e o Mal, que fiz para a minissérie Riacho Doce, ser gravada pelo cantor Armandinho. Fiquei muito sensibilizado quando ele disse que gostaria de gravar comigo, porque era uma canção que a mãe dele escutava e gostava muito. Ele fez algumas modificações na letra, eu estive presente com ele no estúdio e colocamos a música numa levada de reggae bastante interessante. Ficou bem bacana e me deixou muito feliz.

AVS - Você acha que ter gravado esta música na época para a minissérie impulsionou sua carreira?

DANILO - Com certeza, ainda mais que naquela época o mercado fonográfico era diferente do que é hoje, não havia tanta variedade.

AVS - E como você percebe essa mudança?

DANILO - Hoje é uma briga de foice você ter uma trilha sonora sua em uma novela. Entre os anos 90 e 94 era diferente, porque as pessoas não davam muita importância. As pessoas nos procuravam e a gente fazia música sob encomenda. Esta faixa, por exemplo, foi feita em 24 horas, virando a noite.

AVS - E como vocês buscavam inspiração na época para fazer uma música sob encomenda, ainda por cima em 24 horas, sem que ela ficasse totalmente comercial?

DANILO - Com o que dava (risos). A gente sabia que a série ia ser ambientada em Fernando de Noronha e que Vera Fischer ia protagonizá-la. Então deixávamos nossa imaginação aflorar (risos), já que o cenário e a Vera eram nossas únicas referências.

AVS - Esse lado comercial da música voltada para determinados segmentos transforma, em nível técnico, a forma como ela será produzida?

DANILO - Descobrimos que para a televisão a fórmula deve ser diferente sim. Lá no fundo tem essa coisa de ser publicitária, como um comercial. Você pode reparar que para dar certo elas precisam ser curtinhas e diretas, sem muita introdução.

AVS - É mais fácil de fazer?

DANILO - Acho que é mais difícil, e por isso cito os conceitos que aprendi quando fiz arquitetura. É arquitetura musical pura, porque é muito mais difícil você fazer uma casa mínima do que uma casa enorme, pois, neste caso, precisamos conciliar em pouco espaço a sala, o quarto, o banheiro e a cozinha. O que muita gente não sabe é que a simplicidade na música é complicada.

AVS - Nesses 46 anos de carreira, somente na metade você se tornou um cantor. Como foi isso?

DANILO - Eu comecei compondo, depois virei um flautista e, somente nos anos 90 comecei a carreira solo, como cantor.

AVS - E onde você se enquadra melhor hoje?

DANILO - Sinto-me melhor no palco, com o contato com o público. Por isso que me pego às vezes um pouco preguiçoso para compor. Definitivamente, gosto mais do palco.

AVS - Dizem que o Tom descobriu você profissionalmente. Como é isso?

DANILO - Desde 73 eu era flautista e gravava vários discos, que vieram a ser muito importantes para a música popular brasileira. Nessa época eu havia feito também um disco instrumental. A partir de 83, o Tom teve um concerto para fazer em Viena e acho que percebeu que tinha talento e me chamou. Ali foi um divisor de águas também para minha trajetória musical.

AVS - O Tom era muito amigo do seu pai. Você acha que o fato de ser filho do Dorival lhe abriu as portas?

DANILO - Minha família abriu, sim, algumas portas com facilidade, mas foram oportunidades que depois me vi novamente de frente para ter que reabri-las. Isso porque o nível de cobrança nestes casos é bem maior, pois essa história de ser filho de alguém famoso é mais complicada do que se imagina quando se quer seguir a mesma trajetória do seu pai.

AVS - Qual a maior lembrança que seu pai deixou para você?

DANILO - Meu pai era admirado por um motivo que talvez seja um dos maiores ensinamentos para mim. Ele era visto por todos como um homem simples, que não acreditava na glória do dinheiro para ser feliz. Ele morreu tranquilo, do jeito que queria. Está lá com o velho amigo Tom, Ary Barroso... Ver os amigos indo embora era algo que o entristecia muito. Ele ficou muito mal quando enterrou amigos como Jorge Amado e Zélia Gattai. Tenho certeza de que, lá em cima, deve estar rolando uma mesa de música de alta qualidade, com acarajé e um chopinho mesclado com conhaque.

AVS - Sua filha, Alice, promete uma linda trajetória, não é? Como fica o coração de pai vendo-a cantar?

DANILO - Tenho um orgulho enorme dela, pois comecei a vê-la cantar aos 12 anos. Lembro que íamos à praia com o pessoal do condomínio e quando me pediam pra cantar eu falava que não ia cantar nada. Então, ela ficava cantando as aberturas das novelas para a rapaziada da praia.

AVS - E como você procura direcioná-la?

DANILO - Ela está começando, então trazê-la para o palco comigo foi uma maneira de apresentá-la ao mundo musical. Procuro também entender muito o ponto de vista dela, já que é bem mais jovem do que eu. A mãe dela é psicanalista, então isso faz nos assistirmos muito pelo ponto de vista do outro. Busco fazer com que ela experimente a música fugindo das coisas tradicionais, dando suporte técnico e emocional para ela criar.

AVS - Como você se definiria hoje dentro da música?

DANILO - Olha, sou meio maluco (risos), gosto de coisas novas, sou muito arrojado e tenho uma cabeça aberta e não tradicionalista nessa minha relação com a música popular.

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