A realidade das ruas sob o lirismo de Sérgio Bernardo
Autor friburguense lança seu segundo livro, Asfalto, quarta-feira, no Sesc
Henrique Amorim
O drama enfrentado pelos moradores de rua das grandes e médias cidades brasileiras já vinha sendo observado há algum tempo pelo escritor e poeta Sérgio Bernardo. Em apenas dez dias no início desse ano ele reuniu diversas dessas observações, algumas até que lhe chocaram pela marginalidade e degradação de seres humanos e transformou-as em 44 poemas que compõem o segundo livro de sua carreira, Asfalto, que será lançado em Nova Friburgo na próxima quarta-feira, 15, às 19h, no Sesc (Avenida Presidente Costa e Silva, 231, Duas Pedras).
O título, que geralmente se define depois de toda a obra pronta, Sérgio escolheu de início. “Foi muito engraçado. Com o título nas mãos é que eu comecei a elaborar os poemas, mesclando em alguns um pouco de ficção à dura realidade das ruas. Os poemas, contudo, não são apelativos. São como fotografias registradas em minha mente não só no Brasil, como também em Portugal”, diverte-se ele, lembrando-se ainda de cenas pitorescas da cidade do Porto, como a de meninos nus tomando banho em lagos de chafarizes. “Em alguns poemas de Asfalto, transportei um pouco dessa realidade para cá”, complementa Bernardo.
Asfalto, na verdade, foi produzido em caráter emergencial, em janeiro, para permitir ao autor, também ex-revisor de A VOZ DA SERRA, participar do prêmio Minas Gerais de Literatura, ocorrido em Belo Horizonte. Sérgio Bernardo não saiu vencedor deste concurso, mas a participação lhe rendeu um contato com representantes do novo selo Off Flip, um evento paralelo à tradicional Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que premia autores de diversas obras literárias brasileiras. Sérgio Bernardo, inclusive, já havia sido premiado neste evento em 2006, com a segunda colocação obtida com a coletânea de poesias Ciclo.
“Fiquei muito contente. A equipe do Off Flip leu as poesias de Asfalto, gostou, aprovou e decidiu publicá-las”, destaca Sérgio Bernardo. A obra teve lançamento nacional mês passado na edição 2010 da Flip, em Paraty, no Sul do estado. Na ocasião, Sérgio Bernardo também participou de bate-papo no Café Ramdam, onde Asfalto foi destaque junto ao lançamento de outro dois livros de contos: A beira do lar, do paulista Luis Vassallo, e Barro, Areia, Óleo de Baleia (ítens da construção de imóveis antigos), de Leandro Leite Leocádio. Um dos poemas de Asfalto, denominado Figurante, faturou ainda mês passado a medalha Lilla Ripoll, ofertada pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
‘Asfalto’ será lançado também no Rio de Janeiro e em São Paulo
Ainda neste mês, Sérgio Bernardo também lançará Asfalto no Rio de Janeiro, na Livraria Travesso, em Ipanema, e em outubro, em São Paulo, na Livraria Da Vila. O poeta, autor do premiado Caverna dos Signos, lançado em 2005, a convite da Secretaria de Cultura de Nova Friburgo, já anda às voltas com sua terceira obra: um livro de contos, ainda sem título.
ASFALTO
Sérgio Bernardo
Selo OFF FLIP
Escrito originalmente para concorrer ao Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, o livro de poesia Asfalto veio a público através de uma editora nova no mercado, o Selo OFF FLIP, inaugurado em 2009. O lançamento nacional da obra foi em 5 de agosto de 2010, em Paraty/RJ, durante a OFF FLIP, em um bate-papo com os autores do selo no Café RamDam.
Depois de ser lançado em Nova Friburgo, Asfalto terá sessão de autógrafos também na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro (setembro), e na Livraria da Vila, em São Paulo (outubro).
Sobre a obra:
O neoliberalismo (ou neomiseralismo, como disse alguém) tem deixado atrás de si, em todas as latitudes, um rastro de dor e exclusão, de violência e de miséria. Debruçando-se sobre este rastro, Asfalto eleva a uma condição quase épica os que vivem no meio-fio, os despossuídos, os que exercem diuturnamente o ofício da miséria, os excluídos do sistema, os cidadãos do asfalto que alimentam as estatísticas da injustiça com seus andrajos. Os poemas reunidos neste livro demarcam um lirismo a um só tempo contundente e comedido, a meio caminho entre a concisão de Mario Quintana e a crueza de João Cabral. Neles, é possível ouvir os sonhos conturbados de um mendigo, os ganidos de um cão sarnento. Poemas-panfleto? Não se trata disso. Na verdade, seria melhor entrever na densidade da obra uma pequena epopeia sobre os desvalidos, um manifesto poético contra a indiferença em face da dor alheia, ainda reinante em nossos dias. (Ovídio Poli Junior)
Sobre o autor:
Ligado à imprensa desde 1999, atuando como jornalista, revisor e cronista, Sérgio Bernardo nasceu no Rio de Janeiro, capital. Poeta e contista, começou na literatura em 1984, sendo premiado em diversos estados do Brasil, em várias cidades de Portugal e também na Argentina. Entre os prêmios destacam-se o Escriba de Poesia (2000), Helena Kolody de Poesia (2002), Paulo Leminski de Contos (2002), Prêmio OFF FLIP de Poesia (2006), Femup (2008), Cidade Poesia (2009), Ufes (2010) e o Felippe D’Oliveira em várias edições. Participou do documentário Um bonde chamado Santa Teresa (2006) falando um poema seu sobre o conhecido bondinho desse bairro carioca. Em 2009, participou das jornadas Pessoa-Crowley, promovidas pela Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, Portugal. Está presente em diversas antologias, no Brasil e no exterior, entre as quais a Meninos (Belo Horizonte/MG, 2009), Tramas (Montevidéu, Uruguai, 2010) e o Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa (Instituto Piaget de Almada, Portugal, 2010). Publicou, em 2005, Caverna dos Signos (poesia e prosa), a convite da Secretaria de Cultura de Nova Friburgo, cidade onde mora.
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