Henrique Amorim
Imagine chegar a uma padaria a fim de saborear um delicioso e quentinho café, regado a pãezinhos, croissants e aquela infinidade de iguarias que toda boa padaria tem, sentar-se à mesa e deparar-se com estantes repletas de livros. Opa! Errou o lugar? Ao invés da padaria, entrou numa biblioteca? Não. É mesmo uma padaria. O diferencial fica por conta de também se poder consumir cultura.
Esta, pelo menos, é a intenção de Ricardo Ramos, gerente da Padaria Hamburgo, no km 73 da RJ-116, no distrito de Mury, que adaptou uma biblioteca no salão da sua padaria. No pequeno espaço, os clientes têm a oportunidade de degustar as muitas delícias produzidas nos fornos do estabelecimento, mas também muita sabedoria, cultura e entretenimento com os mais de 600 títulos que compõem o variado acervo de Ricardo.
A ideia é fazer com que durante o lanche ou um simples e ocasional cafezinho o cliente se interesse por algum livro, leve-o para casa e viaje nas asas da literatura. A iniciativa cultural de Ricardo já tem cerca de dois anos. O acervo, na época de mais ou menos 300 títulos, de propriedade de sua mulher, estava ocioso em sua casa e Ricardo percebeu que aqueles livros que certamente se estragariam com o tempo, poderiam ser úteis a muita gente.
Foi então que teve a ideia de adaptar uma biblioteca na padaria e estimular o prazer da leitura entre seus clientes que, ao se interessarem por alguma obra, tem total liberdade de ‘degustá-la’ em casa, sem o compromisso rígido de data para devolução. Basta, porém, preencher um livro disponível numa das estantes da biblioteca e informar o nome e a data do empréstimo. “Não há necessidade de preencher números de telefone ou de documentos. Aqui não há rigidez”, reforça Ricardo, ciente de que já perdeu alguns livros por conta disso, mas ele não se importa.
“Os livros que não voltaram estão por aí. Quem sabe outras pessoas um dia poderão lê-los”, diz. Felizmente, os próprios clientes se apaixonam pela ideia, leem alguns livros e, além de devolvê-los, propiciando a partilha do conhecimento com outros, ainda doam mais obras que têm em casa, que já foram lidas e hoje apenas ocupam espaço.
Acervo já conta com livros disputados, mas doações são sempre bem-vindas
Na biblioteca da padaria há obras disputadas de grandes ícones da literatura brasileira, como Jorge Amado, José de Alencar e Mário Quintana, até clássicos de vendagem, como A história de Bill Gates, O Código da Bíblia e Dom Casmurro, além da coleção completa das intrigantes histórias policiais de Ágatha Christie, almanaques infantis, livros didáticos, científicos, de ficção e coleções de receitas. “Olhou, gostou, pode levar, sem compromisso. Este é o lema”, reforça Ricardo, que já pensa em ampliar o espaço e não se preocupa com a exclusividade do projeto. “Quem quiser copiar a ideia, pode fazer. Ganha o público com o estímulo à cultura e a satisfação com a novidade”, valoriza Ricardo, que aproveitou algumas madeiras que tinha no depósito da padaria para montar as estantes.
“Partilhar cultura é sempre bom”O industrial Raphael Veronese conheceu a biblioteca da Padaria Hamburgo há pouco tempo, ao dar uma paradinha para um cafezinho durante a tarde, quando seguia para Niterói. Encantou-se com o projeto. “Costumo viajar muito entre Rio, São Paulo e Minas Gerais e, por incrível que pareça, nunca vi uma iniciativa como esta numa padaria. Quando há livros nesses ambientes, geralmente são para venda. Partilhar cultura é sempre bom, pena que nem todos tenham essa visão”, observa ele, que pretende retornar à padaria de Mury com mais calma e escolher um livro para ler em casa.
Ricardo Ramos valoriza também seu prazer em receber veranistas que vêm descansar em suas casas de campo, na região de Macaé de Cima e Lumiar, e que passam pela padaria, selecionam alguns livros, levam para casa e, antes de retornar ao Rio de Janeiro, devolvem as obras relatando o prazer obtido pelas verdadeiras viagens e relaxamento que uma boa leitura pode proporcionar. “É uma sensação incrível”, garante o comerciante, que antes de gerenciar a padaria dedicava-se à árdua tarefa de fabricar pães.
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