O tempo das bicicletas

terça-feira, 27 de julho de 2010
por Jornal A Voz da Serra
O tempo das bicicletas
O tempo das bicicletas

Dalva Ventura

Houve um tempo em que as bicicletas dominavam as ruas e praças de Nova Friburgo. Já na década de 40 elas estavam por toda parte. Friburguenses e turistas passeavam de bicicleta numa das alamedas da Praça XV de Novembro (atual Praça Getúlio Vargas). As bicicletas eram também o principal meio de transporte da população, principalmente dos operários, para ir e voltar das fábricas. “Depois dos tamancos, vieram as bicicletas”, lembra Thereza Albuquerque e Mello, a fundadora do Pró-Memória (atual Fundação D. João VI).

Os vestidos e saias não chegavam a ser um empecilho para as mulheres curtirem a novidade, embora certamente tenha contribuído para que aderissem, mais tarde, à calça comprida. Thereza era uma que andava de bicicleta todos os dias, para cima e para baixo. Ela conta que muitas vezes esquecia sua bicicleta na praça e no dia seguinte lá estava ela. “E tem mais: quando chovia, alguém a colocava debaixo de uma marquise”.

Bons tempos aqueles. Bicicletas eram um luxo na época e muitos não tinham dinheiro para comprar uma, o que não chegava a representar um grande problema. Havia várias ‘garages’ (nome que se dava aos estabelecimentos que, além de consertar, alugavam bicicletas de passeio) por um preço módico. Thereza se lembra especialmente da garage de seu Oliva, uma das mais antigas, na Rua Farinha Filho, Centro.

A historiadora Janaína Botelho, que já fez uma pesquisa sobre as corridas de bicicletas que aconteciam na cidade, descobriu que elas chegaram a Nova Friburgo no fim do século 19. Segundo Janaína, elas não demoraram a tomar conta do cenário da cidade. E como a população ainda não estava habituada com a modernidade, as autoridades exigiam até que os ciclistas, à noite, rodassem em marcha moderada e com a lanterna acesa.

Janaína conta que em 9 de abril de 1899, Eduardo Salusse, de tradicional família da cidade, criou o Bicyclette Club Friburguense, destinado a exercícios de bicicleta. “Além de ser considerado um divertimento, era ainda um exercício físico de primeira ordem para robustecer o corpo e dar um porte atlético”, afirma.

Foi nessa época que começaram as corridas de bicicleta, eventos que marcaram época e são lembrados com saudade pelos mais velhos. Elas aconteciam na Praça XV, que num período chegou a ser transformada no Velódromo Friburguense. Eduardo Salusse era um dos campeões de corridas da cidade e fazia parte da comissão organizadora das competições, junto com Augusto Braga e outros membros da elite da cidade, como o Barão de Mesquita, que costumava atuar como juiz de partida.

As corridas eram realizadas aos domingos, sempre ao meio-dia, e contavam até com a participação de ciclistas da capital federal. A disputa era acirrada, com juízes de partida, de chegada e de raia, distribuindo prêmios como medalhas de ouro, prata, bronze e caixas de champanhe. Perto do velódromo ficava o Botequim do Velódromo Friburguense, para onde iam os ciclistas depois das partidas. Os ciclistas friburguenses também costumavam participar de torneios fora da cidade e, quando ganhavam, eram recebidos com a maior festa na estação.

Só mais tarde a bicicleta passou a ser um meio de locomoção das classes populares, porém, no fim do século 19, a cidade já tinha muitos ciclistas. A prova são os anúncios de conserto de bicicletas descobertos por Janaína num jornal da época e uma reclamação sobre a necessidade do Código de Posturas regular o trânsito das bicicletas, que já vinham causando atropelamentos no Centro.

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