Ao nosso saudoso Augusto Curvello de Muros

quarta-feira, 30 de junho de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Infelizmente, não deu tempo de despedir-me de Augusto Curvello de Muros, homem de bem e amigo de seus amigos. Com extremo pesar soube de sua súbita passagem. Muros sempre foi afetuoso no período em que vivi em Nova Friburgo. Jamais esquecerei as cartas literárias que trocamos no começo da década de 1990. Não havia internet e, em vez de telefonar, preferíamos escrever um para o outro. Postávamos os textos para ter o prazer de receber os envelopes com as respostas nas caixas de correio. À criatividade e ao espírito público de Muros a vida cultural de Nova Friburgo, nas últimas décadas, muito deve. Ele fundou o Gama, melhor grupo de teatro da região, e depois o Clube do Jazz, para citar apenas duas de suas inspiradas iniciativas. Conheci-o no segundo semestre de 1991, quando ministrei um curso de extensão sobre cultura brasileira contemporânea na Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Foi um curso significativo para mim, porque ali surgiram amizades duradouras, como as de Muros, Ricardo da Gama Rosa Costa (Rico), Robério José Canto e Fernando César Faria da Rocha. Muros fazia questão de comparecer aos lançamentos de meus livros, organizados carinhosamente por Rico naquela extraordinária faculdade de humanidades. Em 27 de outubro de 1992, Muros viajou 150 quilômetros para prestigiar-me na noite de autógrafos de O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. E, como se não bastasse, escrevia generosas resenhas na coluna que mantinha, há 30 anos, em A Voz da Serra. Guardo na memória o seu amor pelo teatro e a emoção ao se referir à Liberdade, liberdade, fabulosa peça do  Grupo Opinião, liderado pelo grande dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, Vianinha, nos primeiros anos da ditadura militar. Tanto tempo depois, Muros motivou o Gama a remontar, com muito sucesso, Liberdade, liberdade. Quando eu já não residia em Nova Friburgo, Muros convidou-me certa vez para comemorar a publicação de outro livro meu no apartamento da Rua Augusto Spinelli, onde ele e Clélia acolhedoramente me ofereceram um vinho chileno, ao som ambiente de jazz. Ano passado, li na internet uma bela crônica de Muros falando da arte de escrever cartas. Ele lembrava, com ternura e nostalgia, de mim e da época em que resistíamos ao mundo brutal e vazio com as delicadas linhas de paixão febril pela literatura. Aos 67 anos, Muros partiu para o céu dos puros e justos. E deixa saudades insuperáveis em sua legião de amigos.

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