Henrique Amorim
Quem pretende se tornar em breve motorista deve ir preparando o bolso. Tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ficará mais caro pelo menos 20% em média, passando atualmente dos cerca de R$ 800, para aproximadamente R$ 1 mil, já incluídos todos os impostos. A estimativa é dos próprios gerentes de autoescolas do eixo Rio-São Paulo. O acréscimo, porém, não será resultado de algum reajuste oficial, mas do repasse que os atuais centros de formação de condutores (autoescolas) deverão promover para custear as despesas extras com a contratação de mais instrutores ou pagamento de horas extras aos funcionários do quadro fixo, objetivando ofertar aulas de direção à noite.
A novidade é uma exigência do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que determina a obrigatoriedade de 20% do total de aulas de direção no período noturno, ou seja, do mínimo de 20 aulas práticas de direção que devem ser oferecidas a cada candidato, pelo menos quatro delas têm que ser à noite. Na verdade, o Contran já previu esta determinação há seis anos, através da resolução 168, mas só no último dia 17 de maio, expirou o prazo para as autoescolas se adaptarem à nova norma. Como já era previsto, a maioria não fez desta obrigatoriedade prevista em lei uma rotina e agora tem que correr contra o tempo para cumprir a exigência do Contran.
O gerente do Centro de Formação de Condutores Dinâmica em Nova Friburgo e ex-diretor da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) no município, Paulo Benitez, observa ainda que, para piorar a situação, o Contran determina que as aulas noturnas obrigatórias aconteçam entre 20h e 21h, com o intuito de submeter os candidatos a motoristas às mais variadas situações adversas no trânsito. “Embora nesse período do ano já esteja escuro após as 18h, qualquer aula nesse período não será válida como noturna”, comenta Benitez.
Ele lembra ainda que a melhor alternativa operacional será reorganizar o quadro de expediente dos seus instrutores para a implantação de dois turnos nas autoescolas, o que deverá exigir a contratação de mais profissionais. “Atualmente cada instrutor ministra até 15 aulas por dia. Aumentar essa carga horária, obrigando-os a trabalhar à noite, vai gerar cansaço, sem contar o desrespeito à lei. Como o trabalho à noite requer o pagamento de adicionais, certamente o custo final da habilitação deverá sofrer acréscimo”, acredita Paulo Benitez.
Muitos instrutores, assim como candidatos a motoristas, concordam com a exigência de aulas à noite. Para eles é mais um artifício para melhor preparar os futuros condutores de veículos no cada vez maior e nervoso trânsito das médias e grandes cidades. Com esta norma, o Contran pretende valorizar o conceito ‘quanto mais preparar, melhor’ e permitir que os candidatos tenham melhores noções de como dirigir em estradas e nas vias urbanas à noite, utilizando lanternas, faróis e limpadores de para-brisas. Até então, as aulas noturnas eram opcionais.
Muitos alunos concordam
com as aulas à noite
Em algumas autoescolas do Centro de Nova Friburgo, por exemplo, muitos alunos já optam pelas aulas noturnas antes mesmo da obrigatoriedade do Contran. Na maioria delas, aproximadamente 30% dos alunos já faziam aulas noturnas. O estudante Mathias Constantino de Abreu, 18 anos, pretende tornar-se motorista em breve e já está frequentando as 45 aulas teóricas do curso de formação de condutores, outra exigência do Contran. Ele encara a exigência das quatro aulas à noite como uma necessidade e admite que já pretendia incluir algumas noturnas em sua grade de aulas práticas, mesmo sem saber da exigência do Contran.
“Para eu poder ser um bom motorista tenho que treinar em situações diferentes. Se um dia, à noite, quando estiver fazendo uma aula, chover, será ainda melhor. Será mais um obstáculo para me aprimorar”, acredita o rapaz, que só tem uma reclamação ao ter que dirigir à noite, provavelmente quase unânime entre novos e já experientes motoristas: enfrentar o farol alto dos veículos em sentido contrário. Isso sem contar o estresse dos congestionamentos.
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