Eleições sem médicos

sexta-feira, 14 de maio de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Em geral é muito difícil se falar bem ou tecer elogios ao atendimento dos serviços publicos de saúde em nosso município, principalmente nos últimos anos.

Uma rede de atendimento que ainda deixa na fila aqueles que dela necessitam, que, quando atendidos, reclamam geralmente de sua morosidade ou ineficiência.

Quem geralmente dela necessita é a maioria da população, estruturas familiares inteiras, que não têm recursos para se abrigarem em redes de assistência particulares, os diversos planos de saúde, clínicas ou médicos pagos para a prestação desse serviço.

O atual prefeito no seu primeiro dia de mandato, no ato da posse, dizia que o atendimento à saúde no município, em sua gestão, seria referenciado como excelência nacional. Assinalava uma parceria com a Fiocruz que não foi concretizada e explicitada como fracassada em carta-renúncia do secretário de Saúde designado pela instituição para a missão. Motivos de dificuldades políticas para nomeação de equipes e instalação de novos equipamentos e principalmente na gestão direta dos recursos financeiros para desenvolvimento do projeto de melhoria elaborada por sua equipe.

Daí até agora nada melhorou, piorou. Estão em reforma o Hospital Municipal Raul Sertã e a construção da Unidade de Pronto Atendimento que simbolizam uma possível melhora e ampliação da assistência centralizada, gasto de mais repasses de recursos estaduais e federais. Recursos vindos de nossos impostos de nosso bolso. Como sempre, com uma nova eleição à porta, propaganda política de promessas de melhorias futuras.

A realidade é o péssimo funcionamento da assistência na origem. Os diversos postos de saúde, com equipes completas junto aos aglomerados onde reside o necessitado de assistência, não funcionam como são explicitados teoricamente nos projetos e na propaganda eleitoral. Esse péssimo funcionamento concentra e congestiona a assistência pontualmente onde é mais ou menos disponibilizada.

Na teoria, o Ministério da Saúde com o Sistema Único da Saúde disponibiliza esse Plano de Assistência à Saúde da Família, que deveria dar assistência preventiva na própria residência da população e, em casos de real necessidade de intervenção especializada, um direcionamento seletivo a esses centros. Tudo teoricamente sob controle e fiscalização do próprio cidadão representado nos conselhos municipais, estaduais e nacional de Saúde.

Sabemos de tudo isso. Teoricamente isso poderia dar eficiência a esses projetos assistenciais. Esse sistema em algumas localidades funciona melhor do que por aqui. Milhões de recursos orçamentários vindos dos cofres públicos são gastos todos os meses, todos os anos.

Desde o inicio da gestão do mandato do atual governo municipal, no posto de saúde de São Pedro da Serra, que funciona bem instalado e relativamente equipado, faltam equipamentos os mais primários para um pronto-atendimento a emergências, com uma equipe completa de ‘médicos de família’, ‘ambulância’, ou uma Fiorino adaptada como arremedo de ambulância, que na verdade só tem uma maca para deslocar pacientes e um motorista para conduzi-la, está funcionando mais uma vez sem seu principal e essencial profissional, um médico.

Nesse posto, de janeiro do ano passado até setembro não contou com médico. Daí para frente já passaram pela função cinco, ... cinco médicos que logo se afastaram. O ultimo reclamando que lhe foi prometido uma remuneração e paga outra ... etc. A população desassistida pergunta do por quê? Por que médico não fica nessa função para a qual foi nomeado e a responsabilidade assumida, por quê? O mesmo ocorre com o posto de Lumiar.

O senhor prefeito ou seu secretario de Saúde ou o coordenador do ‘Médico de Família’ ou outro qualquer servidor publico municipal responsável pela gestão direta desse setor, deveria se interessar e investigar o real motivo e indicar a possível solução definitiva. É sua responsabilidade. Por que isso ocorre passados 16 meses desde que esses gestores dirigem este município?

Parece que essa região é igual às demais regiões rurais desse país e seus habitantes idem. Parece não ser esse o motivo.

Desde sua implantação, há mais de 20 anos, os postos de saúde de São Pedro da Serra e Lumiar sempre tiveram médicos. Essa ausência de médicos manifestou-se crônica nesta gestão. Por quê?

Enfim a população do 5º e 7º distrito do município de Nova Friburgo, estimados cerca de 30 mil pessoas, cidadãos, eleitores, contribuintes, seres humanos habitantes ou qualquer denominação que os gestores públicos queiram dar, locados em mais de 40% do território municipal, carece de assistência médica pública local. Por aqui também não existe outra alternativa, não existe assistência médica particular. É grave a situação e piora pelo não funcionamento desses postos nos finais de semana ou feriados, quando a região tem sua população triplicada pelo fluxo turístico, dia e noite.

Novas eleições estão próximas e erros podem aí começar a ser corrigidos pelo próprio eleitor enganado e desassistido. É uma possibilidade, mas pode ocorrer.

A população do 5º e 7º distritos aguarda respostas e principalmente soluções. Paciência e tolerância têm limites.

* Carlos Pinto é morador de São Pedro da Serra

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