Descaso administrativo leva caos ao Rio de Janeiro

terça-feira, 13 de abril de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Max Wolosker

São Pedro se cansou da incompetência, insensatez e da safadeza dos governadores que já passaram por esse estado e mandou água cá para baixo. Na esteira do aguaceiro, além de escancarar também a ineficiência e irresponsabilidade das administrações municipais, ceifou vidas que na sexta-feira, 9, já contabilizavam 212 mortes confirmadas, sem falar nos desaparecidos, provavelmente, ainda sob a terra dos deslizamentos em Niterói e Rio de Janeiro.

Remoção de favelados ou de populações de baixa renda, em áreas de risco, é um ônus que político nenhum quer assumir, muito pelo contrário, pois a manutenção dessas pessoas no local em que moram é garantia de voto na eleição da vez. Sem contar que uma própria facção de nossa imprensa explora de maneira sensacionalista o ‘drama’ dos removidos. Os mais velhos certamente se lembrarão das charges debochadas a Carlos Lacerda, quando foi governador do então estado da Guanabara, ao remover a favela do Pasmado. Sim, pois o cartão de visitas da entrada de Copacabana é o morro do Pasmado.

Tocando uma lira, vestido de Nero enquanto o morro queimava tendo como combustível a madeira dos barracos, Lacerda era execrado; no entanto, essa mesma imprensa não disse uma palavra sobre os riscos que aqueles infelizes corriam. O mesmo risco que provocou a tragédia do morro do Bumba, um aterro de lixo desativado em 1981 e que virou local de moradia de várias famílias, que hoje contabilizam perdas materiais e familiares, essas últimas irreparáveis.

“Bumba”, foi o barulho que eclodiu nos ouvidos do prefeito Jorge Roberto da Silveira, ao tomar conhecimento da catástrofe e constatar o seu grau de participação no evento. Sim, pois como ele mesmo declarou na edição do jornal nacional de 7 de abril, durante suas gestões anteriores implantou escolas e o programa médico de família, promoveu calçamento de ruas, levou luz e água para a comunidade. Mas o mais grave é constatar a irresponsabilidade de um homem público que declara que desconhecia a possibilidade de uma tragédia naquele local, mesmo tendo em mãos um estudo da Universidade Federal Fluminense que apontava para os riscos da ocupação do morro do Bumba.

Essa é a sina de um país gerido por administrações amadoras cuja preocupação maior é com as eleições futuras para a perpetuação no poder. Medidas impopulares que se fazem necessárias para garantir a segurança de todos são deixadas de lado, pois isso prejudica a imagem do político e pode acarretar perda de votos. A vida do eleitor para esses indivíduos é apenas um detalhe. Nosso homem público é tão despudorado que não estamos longe de assistir candidatos explorando, em proveito próprio, a tragédia atual para conseguir votos nas eleições de outubro. Slogans do tipo: “sua casa caiu, mas na minha administração você terá uma moradia digna e sólida”, não será nenhuma surpresa.

O atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, declarou que uma parte da Rocinha e todo o morro dos Prazeres terão suas casas removidas e a população será assentada em habitações populares, em locais seguros. O mesmo acontecera com as comunidades de outros morros que apresentarem risco de desabamentos. Não teria sido mais fácil e menos traumático ter impedido a ocupação desordenada desses locais e que bairros bem servidos de transporte e infraestrutura básica fossem criados numa época em que a cidade tinha menos problemas?

Que a tragédia do Rio sirva de alerta para os administradores de Friburgo e que tenham critério e profissionalismo na hora de darem aval para a construção de condomínios, casas e outras moradias em nossos morros. Nosso grau de favelização já é alto e o risco de deslizamentos sempre presente. Aliás, valeria apena mais rigor na liberação de novas obras no bairro do Cônego, pois é impressionante a rapidez de sua taxa de ocupação, o que certamente trará futuras dores de cabeça para seus moradores.

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