Dalva Ventura
Com a Reunião de Apoio Terapêutico (Ratera) realizada na quinta-feira, 25, o Hospital São Lucas entra no sétimo ano de seu Programa de Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças. E nada melhor para marcar a data que mais uma vez chamar a atenção para a importância de combater o tabagismo.
Na plateia, composta em sua maioria por pacientes com problemas do coração, muitos já tendo passado por cirurgias cardíacas, havia um bom número de tabagistas e ex-tabagistas. Todos interessadíssimos na palestra Nicotina: inimiga do coração, com o cardiologista intensivista Raphael Lanza e Passos e a pneumologista Ana Acácia Lima, que coordena o grupo de controle do tabagismo, aberto para a comunidade, que funciona quinzenalmente, no auditório do hospital.
Ambos ressaltaram mais uma vez os males do tabagismo, especialmente para o coração, enfatizando os recursos de que se pode lançar mão para deixar de fumar. Os números citados pelos especialistas são impressionantes. Por exemplo, o de que ainda ocorrem no país cerca de 200 mil mortes por ano em consequência de doenças relacionadas unicamente ao cigarro. “Estamos diante de uma droga poderosíssima, chamada nicotina, de um dos vícios mais poderosos do mundo”, lembrou Ana Acácia. Para complicar, o cigarro não tem só nicotina; em sua composição entram cerca de 4.700 substâncias, muitas delas potencialmente perigosas para a saúde.
E não é só. Pelo menos 50 doenças estão diretamente associadas ao tabagismo e um número incomensurável de outras também têm a ver com este vício. Além dos impactos sobre a saúde propriamente dita, o ato de fumar também tem impactos sobre a economia e o bolso. É só fazer as contas. Quem fuma um maço de cigarros por dia (R$ 4, em média), ao final de um mês gastou R$ 120 com cigarros e, ao final de um ano, R$ 1.460. Ou seja, desperdiçou uma quantia significativa. Ou não?
O aspecto ecológico também não pode ser deixado de lado. Também deve ser levado em conta que quem fuma um maço por dia, em 15 dias terá sido responsável pela derrubada de uma árvore. Os médicos insistem nestes dados, mas são unânimes em livrar a cara dos fumantes. Ao contrário do que muita gente pensa, ressaltam, quem não consegue abandonar o cigarro não é um sem-vergonha, alguém sem força de vontade, que só não para de fumar porque não quer. Na verdade, garantem, deixar o vício não é nada fácil. Os tabagistas sofrem de uma doença e, por isso mesmo, necessitam de tratamento, e não de acusações ou críticas. Alguns até conseguem parar de fumar sozinhos, sem apoio de ninguém e para sempre. Infelizmente, não é o que acontece com a maioria. Basta dizer que de cada mil pessoas que tentam parar de fumar, apenas 172 conseguem. E isso hoje em dia, depois que o país passou a contar com um programa de combate ao cigarro, coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), e que tem tido muitas vitórias.
Abandonar o cigarro traz benefícios imediatos
A Ratera foi aberta com apresentação do trailer do filme Fumando espero, dirigido por Adriana Dutra, que estreou recentemente em cinemas de todo o país. O filme conta a história de fumantes convictos, ex-fumantes saudosos, ex-fumantes intolerantes, pessoas que tentam se libertar do vício mais difundido do século XX e XXI: médicos, ativistas, publicitários, além de agricultores que plantam fumo e são quase escravos de uma das indústrias que mais lucra no mundo.
Depois da apresentação da doutora Ana Acácia, foi a vez do médico Raphael Lanza, que abordou a relação do cigarro com o sistema cardiovascular. Sem meias palavras, garantiu que fumar é o principal fator de risco cardíaco, superando o diabetes, o colesterol e a hipertensão. “Todos estes fatores estão relacionados com as doenças da circulação e do coração como um todo, pois provocam uma espécie de inflamação no corpo inteiro”, ilustrou, de forma bem didática. “Sem falar no câncer de pulmão e nos vários efeitos vasculares. O cigarro acomete não apenas o coração, mas também as pernas, a cabeça, o corpo inteiro. Ou o vaso entope ou obstrui”, disse.
Quem quer parar de fumar deve, segundo ele, adotar hábitos saudáveis, com uma boa alimentação e prática de atividade física. Os benefícios de parar de fumar são imediatos. Só para se ter uma ideia, basta dizer que 20 minutos depois de parar fumar a pressão arterial e a pulsação voltam ao normal; duas horas depois, não há mais nicotina no sangue; oito horas depois, o nível de oxigênio no sangue se normaliza; de 12 a 24 horas após fumar o último cigarro, os pulmões já funcionam melhor; dois dias depois, o olfato e o paladar tornam-se mais aguçados; três semanas depois, a respiração e a circulação melhoram; depois de um ano, o risco de morte por infarto fica reduzido à metade. E, finalmente, após cinco anos as chances de sofrer um infarto tornam-se iguais às de uma pessoa que nunca fumou.
Para concluir, a psicóloga Silvia Deslandes, que coordena o Programa de Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças do HSL, lembrou que apenas 3% dos fumantes que tentam parar de fumar conseguem sozinhos dar conta deste desafio. Por isso mesmo, convida a comunidade a participar do grupo do Hospital São Lucas, que já ajudou muitas pessoas a deixar de fumar definitivamente. O grupo se reúne às primeiras e terceiras quintas-feiras do mês, às 18h, no auditório do hospital, sob a coordenação da pneumologista Ana Acácia Lima.
E hoje, 1º de abril, é dia de reunião e todos são muito bem-vindos. Com uma dinâmica semelhante às reuniões dos Alcoólicos Anônimos, o grupo de tabagismo tem, porém, um diferencial importante: o acompanhamento médico e psicoterápico da pneumologista Ana Acácia Lima e da psicóloga Silvia Deslandes.
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