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Tentativa frustada de mutilação da nossa praça
sábado, 31 de julho de 2010
Corria o ano de 1884. A nossa praça principal, então chamada Praça Princesa Izabel, ali estava enfeitando a vila com as suas alamedas formadas por canteiros de eucaliptos contornando-a e o seu centro, rebaixado, convidando os visitantes a percorrê-lo. Tudo no estilo do paisagista Glasiou que a projetou e construiu e do bolso do visconde de Nova Friburgo que a financiou. Esta ajuda que aquele nobre ofereceu à vila era uma maneira de auxiliá-la a criar aquela beleza urbanística ante as dificuldades financeiras que ela carregava desde a sua fundação. Este financiou os trabalhos da sua construção como uma ajuda à vila de Nova Friburgo. Logo depois, concluída a obra e ele vendo as dificuldades que a Câmara tinha em reembolsá-lo, abriu mão do que tinha a receber. Ele doou o aprimoramento daquela praça à vila que ele tanto amava. Aquela enorme praça, que não encontrava similar em nenhum outro canto do Brasil fora da capital do Império, causava admiração aos que por aqui passavam.
Quatro anos depois, em 10 de maio de 1884, alguns moradores da parte baixa da praça requereram à Câmara que ela mandasse abater as árvores e aterrassem o centro da área da Praça Princesa Izabel no trecho então compreendido entre as ruas General Andrade Neves, Riachuelo e Sete de Setembro e que os canteiros fossem erradicados. (As ruas indicadas acima correspondem hoje às ruas Coronel Galiano das Neves, Francisco Miele e Sete de Setembro). A Comissão de Pareceres da Câmara foi de opinião que o pedido formulado fosse atendido por serem procedentes as razões nele contidas e que fosse suprimida a parte do jardim ali indicada e que a terra dos canteiros fosse depositada na parte rebaixada do centro e que tudo ficasse nivelado. Na discussão o vereador Galiano das Neves tomou a defesa da praça. Disse que a Câmara não tinha o direito de destruir o jardim que tinha sido feito com o dinheiro do povo, especialmente com o dinheiro do visconde de Nova Friburgo. A discussão deve ter sido acalorada pois existia uma corrente em favor dos requerentes e, no final, a Câmara votou pela destruição daquela parte da praça.
Por sorte nossa as câmaras antigas, talvez pela perene falta de dinheiro em cofre, eram muito lentas na execução das suas decisões.
No dia 20 de maio seguinte foi lido na Câmara uma proposta do doutor Carlos Eboli, figura importante na Vila, que apresentou um “abaixo assinado” de várias pessoas sob a sua liderança em que dizem “...impelidos unicamente pelo zelo e interesse que têm por esta bela vila em que residem, vendo o estado de completo abandono em que se acham, desde longa data, as preciosas plantas dos jardins da Praça Princesa Izabel, em detrimento da higiene e da formosura deste magnífico torrão propõem-se, gratuitamente, a mandá-las limpar e podar.” A proposta foi aceita unicamente em relação ao jardim do centro, por estar a outra parte dependente de questão que há a respeito.
No dia 30 de julho, dois meses depois da tentativa de destruição da praça, talvez por lá ter chegado ponta do burburinho que o assunto por aqui causava, a Câmara manda ao presidente da província uma explicação do que aqui acontecia a respeito. Nessa explicação ela descreve a praça e o jardim e procura explicar o porquê da decisão da Câmara em favor da eliminação de parte do jardim. Para não abusarmos do espaço que A VOZ DA SERRA nos concede deixamos de transcrever esta joia de tentativa de explicação, insistindo em que o motivo principal era a falta de recursos. Em uma seca resposta o senhor presidente da província responde que “... a Presidência não tem que intervir em serviços de economia e administração municipal”.
Nesse mesmo dia o vereador Galiano das Neves apresenta dois “abaixo assinados” . O primeiro deles subscrito pelos mesmos signatários do que provocou todo esse debate, pedindo que a Câmara desconsidere o primeiro. O segundo, assinado pelas pessoas mais gradas da vila, em número de sessenta e oito, que pediam à Câmara que suspendesse a decisão de destruí-la. Contra o voto do senhor Galiano das Neves foi remetido à Comissão de Pareceres.
Naquele 30 de julho de 1884 morreu o assunto. Nada mais sobre a tentativa de corte de um pedaço da Praça aparece nas atas da Câmara. Era verdade que o rebaixamento que havia no interior e ao longo da praça causava problemas. Ele, com o correr dos anos foi sendo aterrado e desapareceu. Com ele, também, desapareceu o problema que ele realmente causava: as águas que ficavam retidas em seu interior nas épocas chuvosas e das periódicas enchentes no Bengalas daquele tempo. Ela causava mau cheiro e mosquitos na região. Há alguns anos, no tempo do último governo do doutor Heródoto Bento de Mello, em uma escavação dirigida pelo doutor Cláudio Piragibe, foram encontrados restos do fundo do antigo lago construído por Glaziou.
E a nossa bela praça lá continua inteira e frondosa como foi sendo construída nesses quase duzentos anos de Nova Friburgo.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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